Crítica| A Grande Luta – Comédia infantil da Netflix testa nossa inteligência

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A suspensão da descrença é o artifício que mantém o espectador imerso em uma história, seja ela de super-heróis que voam ou de carros que viram robôs. É através desse ingrediente mágico, que tramas absurdas são digeridas com facilidade, uma vez que embarcamos na proposta, porém, quando essa técnica não é bem realizada, o tiro sai pela culatra e, uma vez que o filme perde a tensão e o envolvimento do público, é complicado resgatar. E é exatamente isso que acontece com ‘A Grande Luta’ (The Main Event), comédia extremamente infantil da Netflix que, de tanta presepada sem lógica, se torna um verdadeiro desafio suspender a descrença.

E não é apenas o roteiro que desenvolve uma trama boba e pautada por clichês, ao mostrar Leo Thompson (Seth Carr), um menino de 11 anos, fã de artes marciais, que encontra uma máscara misteriosa, que lhe dá superpoderes e o transforma em um lutador invencível, já que a narrativa é sem ritmo e o elenco ainda pior. Ainda que a premissa seja interessante e use referências de personagens como Super Choque e Homem-Aranha, se perde por completa em seu desenvolvimento e se torna mais infantil do que o necessário, já que não trabalha seus personagens adultos e nos coloca em um mundo raso, fraco e sem inspiração, cujo único propósito é fazer os absurdos da história serem aceitos através do humor, que também fracassa.

A direção de Jay Karas (Break Point) é desregular, mas dos males, o menor, já que o elenco rouba a cena negativamente, em especial, o ator Adam Pally (Sonic – O Filme), que vive o travado e sem ânimo pai do protagonista. Tichina Arnold (Todo Mundo Odeia o Chris) não está ruim, mas sua personagem serve apenas como alívio cômico, sem nenhuma profundidade. Já o menino Seth Carr (Pantera Negra) tem carisma e segura o personagem, principalmente quando coloca a tal máscara e ganha uma personalidade mais confiante e divertida, porém, de um modo geral, todos os personagens são exagerados e desenvolvidos apenas tendo estereótipos como base. Isso para não citar o antagonista, um lutador imenso (vivido pelo ator Babatunde Aiyegbusi), que não fala e só sabe quebrar tudo que vê pela frente. Esse, coitado, nem texto precisou ler para o papel.

Além dos inúmeros furos (como o fato de ninguém perceber que o personagem de máscara é uma criança) e elementos inseridos sem explicação e contexto, como a própria máscara mágica, que tem sua origem revelada em uma cena precária de menos de 30 segundos, as cenas de luta e ação, que deveriam ser o forte do filme, são mal coreografas e sem grande energia, ainda mais infantis do que deveriam ser. O drama, que ocupa boa parte da história, seja com a mãe do menino que desapareceu ou com sua relação fria com o pai, se estende demais e não tem equilíbrio com o humor, ainda mais pelo fato de que o ator mirim, mesmo que carismático, não se sai bem em cenas que exigem mais o seu lado emocional. Ele até tenta, mas não emociona e nem convence.

Com isso, a trama de ‘A Grande Luta’ é tão vazia e supérflua, que até mesmo a boa mensagem de não precisar usar máscaras para vencer na vida, se perde no emaranhado de absurdos do roteiro previsível. O tom é completamente infantil e até deve agradar crianças mais novas, mas desperdiça suas referências de filmes de super-heróis por ultrapassar o limite do absurdo e testar nossa inteligência. Um verdadeiro exercício de suspensão da descrença, até mesmo para quem busca uma história leve. A grande luta, no final das contas, é do espectador com a vontade de parar de assistir.

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