Crítica | Pânico VI – A melhor e mais brutal sequência em anos

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Apesar dos esforços de mentes criativas nos últimos anos, a franquia Pânico está presa dentro da fórmula que ajudou a criar. Mas então por qual razão sua longevidade é tão poderosa? Claro, além de ser alimentada por um fandom devotado, mesmo que sejam repetitivos e pouco engenhosos, os filmes são divertidos e trazem experiências de emoção que o cinema proporciona tão bem e que faz com que cada novo capítulo dessa empreitada slasher venha também acompanhado de entretenimento escapista que, convenhamos, sempre funcionou, especialmente agora com essa mistura de reboot com sequência.

E o ponto alto de Pânico VI – e o primeiro grande sinal de mudança – está em como o filme se mostra não depender dos personagens originais para entregar uma boa trama, diferente de seu antecessor, lançado em 2022. Neste novo capítulo da saga de terror da Paramount Pictures, o que é de melhor da franquia se potencializa, assim como as suas maiores falhas estruturais. Sem Neve Campbell, a final girl absoluta em seu primeiro filme ausente, o roteiro aproveita a brecha para fortalecer novos laços, incrementar novas façanhas e revisitar o passado de outra forma senão recontar a história já batida de Sidney Prescott. Dá certo? E muito!

A trama e o elenco

De fato, parte do que tornou o quinto filme (começo de uma nova trilogia) tão bem-sucedido foi que ele pegou o original, de 1996, e construiu a base perfeita para uma história que poderia continuar sem sua garota final clássica, uma tarefa admiravelmente difícil de se fazer nas franquias atuais. Afinal, é melhor não ter alguém de volta do que dar um destino preguiçoso para ela. Não que o roteiro deste filme não possua suas preguiças e previsibilidades, mas, ao menos, tira Prescott do pedestal e dá um recado aos fãs: “é melhor superar o passado, esses filmes não são mais para vocês”. Dessa vez é Gale Weathers de Courteney Cox que ganha sua chance de brilhar sozinha e faz isso com maestria, inclusive, até mesmo o assassino alfineta esse papel secundário da jornalista, sempre ofuscada pelos dramas de Sidney.

Sem Dewey, sem Sidney e sem Woodsboro, resta trazer de volta a única ponta solta desse universo: Kirby Reed (Hayden Panettiere), que representa o “legado” deixado pelos filmes passados em um papelzinho bem meia boca após roubar a cena em Pânico 4, mas que deve aquecer o coração dos fãs. Longe daquela sensação de cidade pequena, de subúrbio, que tanto ditou a atmosfera do horror, agora o palco do assassino é na grande Nova York e o novo Ghostface (ou diria os novos?) tem um plano ainda mais elaborado, um verdadeiro santuário fanático de easter eggs da saga para completar a história de vingança iniciada no filme anterior.

Não é de hoje que Pânico sempre se esforçou ao máximo para subverter tropos do terror e zombar do gênero – algo que faz como nenhum outro – mas esse capítulo faz algo ainda melhor, reverencia tudo que a franquia estabeleceu, o legado de Wes Craven, e ri de suas próprias mancadas, como o excesso de assassinos (são 9 ao todo, para 5 filmes) e as motivações bobas de alguns desses vilões. E o alvo da piada é o próprio Pânico. Ter autoconsciência de que algumas regras do slasher ainda se aplicam e outras estão ultrapassadas é uma genialidade da direção da dupla Matt Bettinelli- Olpin e Tyler Gillett (de Casamento Sangrento) – aliás, Samara Weaving faz uma pontinha como a tradicional morte de abertura do filme.

Mindy (Jasmin Savoy Brown), como boa fã de filmes de terror, avisa que o sangue deve ser ampliado em sequências e que nem mesmo as protagonistas estão salvas de uma morte surpresa para manter a franquia viva. Um pouco redundante e autoexplicativo em excesso, mas ela está certa. Pânico VI é sim mais violento, mais gore e mais gráfico que os anteriores, mas isso não significa que seja mais eficaz e justificável, ainda que também aumente o número de assassinos. Pelo menos há cenas de suspense eletrizantes para preencher as lacunas do roteiro que gira em torno de nada, cujo coração e alma está no quarteto sobrevivente do filme anterior, especialmente nas irmãs Sam (Melissa Barrera) e Tara (Jenna Ortega brilha como nunca).

Este capítulo abandona intencionalmente o tropo padrão de dividir seus protagonistas para que eles se reúnam apenas no final e, em vez disso, se concentra em uma história que mantém os sobreviventes conectados o tempo todo. Isso não apenas leva você à se importar mais com os personagens principais, mas também com as pessoas que eles amam, que estão ali apenas para serem vítimas do Ghostface.

Na realidade, este filme entrega mais camadas aos personagens secundários do que os filmes passados depois do original, isso representa um avanço notável. Mas é aquilo: um vai e vem de morre e não morre para mexer com nossas expectativas e subverter a certeza de quem pode ser o vilão da vez. Essa revelação vem no ato final (o mais fraco, infelizmente) e pode frustrar um pouco, ainda que crie uma conexão direta com o quinto filme. Muita gente sobrevive, o que indica que o capítulo 7 deve encerrar de vez a saga de Sam e sua relutância em se tornar uma serial killer igual seu pai.

Veredito

A imensidão de Nova York prejudica a atmosfera contida da franquia, mas Pânico VI está longe de ser um golpe falho, muito pelo contrário, o novo capítulo potencializa tudo que a saga de terror já fez, eleva o nível de brutalidade e comprova que dá para se construir uma ótima trama sem a necessidade de personagens originais. Sidney Prescott não faz falta – e o roteiro parece pouco se importar com isso também – já que temos Jenna Ortega para roubar os holofotes. Mas Woodsboro, essa sim faz falta.

Ao casar o belo e o sinistro com muita emoção e respeito pela franquia e por seus fãs devotados, este não leva a história para um lugar realmente significativo ou inovador, mas também não testa nossa inteligência. Brinca com o que possui e ri de como Pânico também foi construído em cima de falhas e fórmulas que ajudou a criar. Em uma sala repleta de troféus, o sexto filme talvez seja o mais próximo de uma revisitação positiva, divertida e empolgante ao original. A facada é certeira no coração do público, mas sabemos que, com mais filmes planejados, esta é uma morte que está longe de acontecer.

NOTA: 8/10

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