Crítica | Wandinha (1ª temporada) – Jenna Ortega brilha na excentricidade de Tim Burton

Eis que o maior clichê possível aconteceu: Tim Burton finalmente comandou algo de A Família Addams. E ele se tornou refém de sua própria estética. Isso é um fato. O aclamado diretor, dono de obras icônicas do cinema, não parece ter interesse algum de sair de sua preguiçosa zona de conforto tão cedo, mas certamente Wandinha (Wednesday) – seu primeiro trabalho no formato TV – pode significar um passo importante (Talvez tardio? Talvez!) rumo à se tornar relevante novamente. Pelo menos, com o foco em um público alvo totalmente novo e jovem, essa pode ser a primeira vez em que a obra em si é mais forte e conhecida do que a própria visão artística e singular do cineasta.

Depois de todos esses anos, não há muita singularidade restante no já cansado Burton, mas o diretor sabe muito bem brincar com suas qualidades excepcionais e com a energia dark que o fez combinar – como ninguém – a leveza de um filme de família com a escuridão de uma história de horror. Para isso, no time do elenco perfeito, Jenna Ortega (Pânico 5) encaixa como Wandinha Addams de uma forma absolutamente inesperada. A jovem brilha na excentricidade do universo medonho de Burton, apesar de alguns solavancos na estrada.

A trama e o elenco

Para o bem e para o mal, Wandinha não tenta reinventar a roda em sua primeira temporada. Trata-se de um produto do entretenimento idealizado para a nova geração. Como não é exatamente uma adaptação, sequência ou reinicialização dos filmes ou séries da Família Addams, Wandinha consegue criar seu mundo em seus próprios termos. Há muitas homenagens prestadas à família assustadoramente hilária criada por Charles Addams lá na década de 1930, com um amor sincero pelos “excluídos” e “diferentões” que tanto combina com a filmografia do diretor. Porém, claro, com a roupagem da Netflix, que padroniza todas as histórias teen em um formato trivial e descomplicado.

Burton assume a cadeira da direção nos 4 primeiros capítulos, que ditam a tonalidade sombria e cômica da obra, assim como sua atmosfera envolvente. Ele, ao lado do lendário compositor Danny Elfman, formam o casamento perfeito para deixar a série extravagante e maluca, como um filme estendido do artista por trás de Edward Mãos de Tesoura e A Noiva Cadáver. Pode parecer banal, mas “assustador e excêntrico” realmente são os adjetivos que moldam esta produção. Há um pouco de sangue e violência gráfica bem-vinda, mas também há gordurinhas nos capítulos que tornam o ritmo um vai e vem constante.

O desempenho de Ortega é um verdadeiro estado de espírito. A estrela definitivamente é a principal responsável pelo sucesso da história. Dada a apatia da personagem e sua disposição geralmente melancólica, pode ser difícil trazer uma energia crível para a trama. No entanto, a capacidade de Ortega de atuar com os olhos e a escolha de guardar os poucos momentos emocionais para quando eles realmente importam, dão à Wandinha um sentimento atípico. Além disso, Gwendoline Christie é excepcional, mas a Bianca Barclay de Joy Sunday e a Enid Sinclair de Emma Myers também merecem menções honrosas.

Catherine Zeta-Jones entrega uma Mortícia emocionalmente abalada e traumatizada que funciona, especialmente por conta da relação conturbada de mãe e filha com Wandinha. Talvez a única atuação que não funciona é a de Luis Guzmánn como Gomez Addams. E não tem nada relacionado ao visual “feio” do galã pai da família, na realidade, o departamento de figurino brilha em todos do elenco, especialmente na caracterização dos Addams, no entanto, a performance engessada do ator simplesmente não atende aos requisitos de carisma de Gomez. Ainda assim, Gomez e o resto da Família Addams não são o foco e aparecem de forma bem limitada, então isso não é um grande problema para o desenvolvimento da história investigativa e misteriosa que se desdobra.

Como o núcleo teen remete demais à outras obras, como Harry Potter e O Mundo Sombrio de Sabrina, alguns conflitos são até divertidos, mas grande parte apenas tumultua a narrativa e tira o foco da protagonista e sua jornada de autodescoberta. Em nenhum momento as lutas ou obsessões em torno desses jovens são críveis e isso faz a série ter parte de sua energia diluída pelo caminho. Enquanto isso, Sunday faz o que pode com a abelha rainha Bianca, sua história infinitamente mais interessante continua em segundo plano, enquanto Tyler e Xavier estão na frente e no centro em favor de um triângulo amoroso monótono do qual até mesmo Wandinha não tem interesse em fazer parte. A presença de Christina Ricci, por sua vez, é a cerejinha que esse bolo tanto precisava.

Conclusão

Não é tarefa fácil agregar novidade ao mundo conhecido de A Família Addams, ainda assim, mesmo com os clichês da Netflix e a padronização do universo teen atual, Wandinha luta para manter o DNA da personagem e a essência distorcida e excêntrica de Tim Burton. Uma introdução divertida, boba e às vezes sangrenta para jovens fãs de terror que buscam uma substituta de qualidade ao Mundo Sombrio de Sabrina.

As travessuras assustadoras dominam a performance fantástica de Jenna Ortega, que parece ter nascido dos desenhos mais geniais de Tim Burton e entrado em sintonia com suas peculiaridades. Além disso, os cenários sombrios, o design de produção e a atmosfera gótica envolvente e cômica nos dá a sensação calorosa e nostálgica das obras leves de Halloween. Para quem tem alergia à sentimentos e cores e fixação com a morte, Wandinha se prova bastante viva, animada e refrescante. Burton não se reinventa, mas abraça o que sabe fazer de melhor.

NOTA: 8/10

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