Crítica | AINBO: A Guerreira da Amazônia – Boas mensagens em animação que diluí a fórmula

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Surfando na leva das animações sobre a cultura e as singularidades da América do Sul – em especial o misticismo que habita por de trás da Floresta Amazônica – AINBO: A Guerreira da Amazônia (The Spirit of the Amazon), produção que está chegando aos cinemas brasileiros pela Paris Filmes, se mantém na cansativa zona de conforto do mais do mesmo, enquanto guarda consigo uma premissa com forte potencial de incentivar a conscientização do meio ambiente, algo de extrema importância, ainda mais no momento atual em que vivemos, com o desmatamento da maior e mais importante floresta do mundo em níveis alarmantes.

Se por um lado as intenções são benevolentes, por outro, o roteiro reducionista acaba por replicar a fórmula básica de animações como Moana, Raya e o Último Dragão e Valente, sem dó nem piedade.

A trama

Com medo de arriscar, a trama da animação 3D peruana-holandesa-americana acompanha uma destemida jovem indígena chamada Ainbo, que vive dentro das profundezas da selva amazônica com sua tribo. Um dia ela descobre que sua terra natal está sendo ameaçada e percebe que há outros humanos além de seu povo no mundo. Usando a ajuda de seus guias espirituais, o tatu Dillo e a anta Vaca, ela embarca em uma jornada para buscar a ajuda do mais poderoso Espírito Materno da Amazônia, a tartaruga gigante Motelo Mama.

Dentro das lendas e crenças clássicas dos povos locais, o enredo até consegue desenvolver uma aventura divertida, colorida e repleta de personagens que possuem coração, porém, não demora muito para o encanto ser diluído no emaranhado de “eu já vi isso antes e feito muito melhor” que a trama possui. Claro, funciona com o público alvo infantil? Certamente sim. Mas não deixa de ser uma pena que algo dessa proporção de representatividade se preocupe apenas com um único público sem critério.

De qualquer forma, AINBO: A Guerreira da Amazônia possui uma boa progressão e a forte protagonista feminina embarca numa trajetória de auto aprendizado bastante doce e consistente. Ao mesmo tempo que descobre mais sobre sua origem, também aprende que o “homem branco” dificilmente será um aliado quando se trata de preservar, proteger e se conectar com a floresta e todos os seus seres, sejam eles mágicos ou não.

Aqui, as máquinas do desmatamento são engenhosidades monstruosas, comandadas por um vilão mergulhado na ganância pelo ouro que existe na selva. Ao traçar um paralelo com o mundo – e a atual situação política brasileira (já que a maior parte da Amazônia está em nosso solo) – seria então o Bolsonaro o mais próximo que temos do Yacaruna? Um fato é certo: a discussão talvez se perca na mente da criançada, mas certamente irá se fixar na dos adultos.

Fora isso, nada mais funciona para o público mais velho além de sacar algumas referências descaradas à outras animações da Disney e da Pixar.

A direção

E a comparação com os grandes estúdios pode também ter sua parcela de positividade, uma vez que a fluidez da animação é excelente e prova que, mesmo com orçamento menor, se pode fazer algo à altura. Claro, há defeitos no gráfico e nem tudo é um deslumbre visual, mas as cores vivas e solares da floresta, a ação constante e a câmera, que flutua pelos cenários, acabam por ofuscar as maiores imperfeições.

Tudo isso é fruto da boa condução (e iluminação) da dupla José Zelada e Richard Claus. Tanto o ritmo desenfreado quanto a curta duração são elementos ótimos para imersão do público infantil e, no geral, funcionam. Na falta de criatividade, a trama utiliza os animais falantes para ser uma espécie de cola, que mantém toda a narrativa unida e que só diverte através do senso de humor pastelão deles. As piadas são extremamente infantis e bobinhas.

Conclusão

Dessa forma, apesar da primordial mensagem de respeito e conscientização do meio ambiente, AINBO: A Guerreira da Amazônia acaba por ser uma variação bem mais diluída e menos engenhosa de animações famosas. O roteiro – que se mantém na zona de conforto – proporciona mais do mesmo para as crianças e provoca aquela boa e velha dose de tédio nos pais acompanhantes. A previsibilidade do enredo apenas permite que se faça personagens com objetivos óbvios, poucas camadas e estereótipos culturais. Um real desperdício de potencial, que se perde nessa selva carente de originalidade.

Nota: 5/10


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