Crítica | Sem Conexão se perde entre não copiar e replicar a fórmula

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A ausência de criatividade sem dúvida é um muro que se constrói em torno de alguns gêneros como o terror contemporâneo. O medo de sair da zona de conforto às vezes é tão absurdo para alguns cineastas, que a sensação é de que os anos avançam, mas as narrativas ainda estão aprisionadas ao modelo que uma vez foi estabelecido. Sim, ainda que as pessoas se sintam mais confortáveis em consumir o que já conhecem, na grande maioria das vezes, filmes como o terror polonês ‘Sem Conexão’ (Nobody Sleeps in the Woods Tonight), Original da Netflix, não passa de um grande gasto de dinheiro em prol de replicar fórmulas batidas e premissas ultrapassadas, que não servem para agregar nenhum valor ao gênero ou mesmo trazer qualquer novidade. Ou seja, qual seu objetivo de existir então?

A trama e o elenco

A aventura, que mistura terror com comédia, presta homenagens (ou será que está apenas se aproveitando da premissa) à clássicos slasher como ‘Sexta-Feira 13’, ‘Viagem Maldita’ e Pânico na Floresta, enquanto constrói sua trama em torno de um isolado acampamento cujo intuito é manter jovens longe de seus smartphones por uma semana. Esse “detox” das redes sociais deve servir para que eles possam melhorar como pessoas na sociedade. Porém, durante a estadia no lugar, percebem que estão sendo vigiados e caçados por uma dupla de assassinos monstruosos e sanguinários, que não querem nada além de esfolá-los vivos.

Dentro dessa proposta, no primeiro momento, a premissa de Sem Conexão é batida, sim, mas não deixa de ser boa e ainda tem um plus de vir encharcada de nostalgia dos slasher dos anos 80 e 90, porém, conforme a narrativa mergulha nos elementos da história, mais horrível se torna, e não em um bom sentido. O roteiro raso acredita estar fazendo metalinguagem ao citar as famosas regras de “como morrer em um filme de terror” e replica as mesmas para gerar humor, sendo que a falsa sensação de consciência dura pouco tempo. Se pregarmos obras como o ótimo ‘Terror Nos Bastidores’, fica ainda mais evidente o descompasso desse em querer rir de si mesmo.

Desde personagens vazios e totalmente estereotipados (propositalmente ou não) até uma trilha synth-pop que recria a atmosfera de perigo dos anos 1980, todos os elementos do filme são desenvolvidos à partir de fórmulas criadas para esse tipo de obra, ou seja, é difícil ser surpreendido uma vez que o filme, desde os primeiros minutos, já mostra todos os caminhos que deverá seguir e já estabelece sua necessária final girl, vivida pela atriz Julia Wieniawa, a melhorzinha de um elenco jovem bem ruim e desanimado.

Com todas as cartas entregues, só nos resta sentar e assistir os clichês ganharem vida um a um. Nesse ponto, quando a trama não sabe mais para onde seguir e o desfecho está mais claro que o sol para o espectador, a homenagem se confunde com a sátira que, por sua vez, se confunde com o plágio e tudo que podemos fazer é apreciar o que um slasher faz de melhor: violência gratuita e desenfreada com toneladas de sangue falso e outras nojeiras de embrulhar o estômago em prol de passar mensagem alguma.

Direção

No entanto, para não dizer que não há novidades, o roteiro de Sem Conexão acerta no desenvolvimento da origem dos monstros que, deixa de ser uma cópia pirata de Jason Voorhees, para mergulhar em uma ficção científica espacial totalmente fora de contexto para a história, que mais parece ter saído de ‘Venom’, mas que, ainda que desconexa, ao menos é algo relativamente surpreendente e que justifica coisas como a força absurda dos monstrengos e o “fator de cura”, sem que caia em elementos sobrenaturais ainda mais terríveis. A graça desse tipo de vilão é não ter absolutamente nenhum grande proposito, como por exemplo, Leatherface, e ser apenas a personificação da maldade, algo que assusta o espectador, afinal, não dá para prever quais serão seus próximos atos de violência.  

Sobre a direção de Sem Conexão, replicar com exatidão clássicos não é tarefa fácil (apesar de parecer) e o diretor Bartosz M. Kowalski (Playground) faz um trabalho excepcional nesse aspecto, ainda que falte ousadia para criar a atmosfera de horror da floresta e o suspense através do fato de os vilões sempre estarem à espreita. A energia do diretor está mais focada em apenas entregar mortes sangrentas e, talvez, justificar demais o intuito dos assassinos. Não há nada sofisticado e sua condução perde ritmo da metade para o final.

Conclusão

Com isso, no intuito de prestar homenagem aos clássicos slasher, ‘Sem Conexão’ se perde entre não fazer igual e replicar a fórmula. É violento, sangrento e gore, como se espera, mas também é vazio, insignificante e muito menos divertido do que poderia ter sido. Só não chega a ser um desperdício de boas ideias, pois essas ideias estão presas no modelo estereotipado e clichê criado nos anos 1980. Mas sendo bem justo, há algumas qualidades escondidas entre as bobeiras e, quando encontrada, a jornada não é tão amarga assim. No melhor dos casos, é aquele filme irrelevante para assistir com os amigos na noite de Halloween.

Nota: 5

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