Crítica | Magnatas do Crime – O suprassumo do filme de gângster

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O senso de humor de Guy Ritchie (Aladdin, ‘Sherlock Holmes’ e ‘Rei Arthur: A Lenda da Espada’) é realmente singular no cinema. Suas narrativas são completamente envolvidas por um ritmo desenfreado e criativo, como acontece com seu filme mais recente, o intrigante ‘Magnatas do Crime’ (The Gentlemen), que consegue desconstruir o padrão clássico de “filmes de gangster”, enquanto aflora uma trama cômica, repleta de metalinguagem e que brinca com as regras do cinema. O diretor se mostra confortável com suas escolhas e permite que a trama tenha praticamente vida própria, enquanto conquista o espectador, que se acostuma gradativamente com a narrativa verborrágica da premissa e é fisgado pela curiosidade de como aquela história mirabolante vai terminar.

A trama e o elenco

Na trama, um traficante inglês (vivido pelo espetacular Matthew McConaughey), muito poderoso no meio das drogas, tenta vender seu império extremamente lucrativo para um grupo de bilionários de Oklahoma, porém, o jogo para ver quem tem mais poder leva à caminhos violentos e surpreendentes, enquanto a narrativa de Ritchie elabora uma atmosfera de humor que transforma a intensidade e urgência da trama em, no mínimo, uma aventura gângster metalinguística e imersiva. Além de um sombrio McConaughey, vale destacar a performance divertida e descontraída de Charlie Hunnam (Z: A Cidade Perdida), especialmente sua química em cena com Hugh Grant (Um Lugar Chamado Notting Hill).

O alívio cômico da dupla faz o roteiro, repleto de violência, ser digerido mais facilmente. Por outro lado, faltou espaço para o charmoso Henry Golding (Podres de Rico) mostrar todo seu talento. Mas, de modo geral, apesar do excesso de elenco e subtramas, o ritmo enérgico da montagem, que entrecorta os núcleos, não deixa a trama cair no tédio. Assim que o ritmo engrena, ele segue em alta até o desfecho, inclusive, com um clímax muito bem desenvolvido, ainda que demore certo tempo para chegar.

Montagem e identidade

Da mesma forma não-linear que o diretor narra ‘Sherlock Holmes’, ‘Magnatas do Crime’ tem um ritmo desenfreado, construído através do uso da montagem, com o excesso de planos-detalhe e uma narração em off que literalmente descreve cada imagem que vemos, fora a trilha que cresce constante, especialmente nas cenas mais intensas. Essa energia faz o espectador acordar e afasta o filme de cair na monotonia, como facilmente acontece em tramas como essa. Guy Ritchie não apenas sabe as regras narrativas do cinema, como se diverte em desconstruí-las em prol de surpreender o espectador a cada nova esquina que a trama entra. E olha que são muitas. Os plot twists são relativamente simples, mas a forma como são apresentados, no momento ideal, faz parecer bem mais sofisticado do roteiro. O design de produção é impecável e o filme tem um estilo próprio, que lembra a franquia ‘007’.

Inclusive, com uma divertida abertura que apresenta o universo da proposta logo no começo, ao mesmo tempo que tira sarro desses filmes que se levam a sério demais. Ainda assim, há problemas que se tornam cada vez mais evidentes conforme a trama avança. Falta um direcionamento, a história, apesar de visualmente instigante e criativa, vem de lugar nenhum e vai para lugar algum. Não deixa claro sobre o que se trata e nem qual mensagem deseja passar. Com isso, o enredo, carregado de elementos para todos os lados, se torna vazio dentro de sua própria ambição.

Conclusão

‘Magnatas do Crime’ não é perfeito, mas tem um roteiro inteligente e sofisticado, feito com o senso de humor perverso e singular de Guy Ritchie. O longa, ainda que possa cansar alguns espectadores pela falta de ação, contém tudo que podemos esperar de um filme de gângster e ainda vai além ao brincar com as regras do cinema. Ver Matthew McConaughey em cena, dando vida a um personagem sombrio, dentro de uma história tão cômica, é um entretenimento indispensável para a volta dos cinemas.

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