Crítica | FREAKS – O ‘Novos Mutantes’ da Netflix que merece uma série de TV

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Com tamanha demanda de produção hoje em dia, o desafio é mesmo se destacar. Especialmente se o projeto for sobre super-heróis, a grande febre do cinema mundial que parece estar longe de acabar. Na contramão do mais do mesmo, produções como ‘The Boys’ e a recente Poweracertam em trazer o contexto fantástico para uma vertente mais palpável, ainda que não seja novidade nenhuma relacionar seres superpoderosos com crítica social. ‘X-Men’ já vem fazendo isso nos cinemas desde o começo dos anos 2000. Porém, quando bem realizado, como acontece com o longa alemão ‘Freaks: Um de Nós’, da Netflix, o resultado é tão prazeroso, que conquista facilmente o espectador. Além do mais, o filme é simples e eficiente no que se propõe e bem resolvido com seu orçamento baixo em relação a blockbusters hollywoodianos, já que entrega ótimas sequências de ação, surpreende nos efeitos especiais e, de quebra, promove reflexões importantes que só tramas como esta podem proporcionar.

A trama e o elenco

Para começar, a trama de ‘Freaks’ é sim criativa e curiosa, mas não é necessariamente original, já que lembra até mesmo filmes como o ainda inédito ‘Os Novos Mutantes’, da Marvel, por colocar pessoas com poderes especiais em uma instituição psiquiátrica e utilizar remédios para inibir suas habilidades. No entanto, o filme segue por um caminho mais alegre, quando coloca uma “dona de casa”, completamente fora do padrão de heroína estabelecido por esses filmes, como protagonista e, corajosamente, mostra sua jornada de descoberta de poderes enquanto dá uma reviravolta em sua vida marcada por humilhações e derrotas. É um filme de origem e, como tal, mostra a ascensão da protagonista Wendy (Cornelia Gröschel) e suas responsabilidades com sua família após descobrir que tem super-força e outras habilidades especiais. Nesse contexto mais humano e realista, a trama desenvolve uma divertida aventura, que flerta e tira sarro de filmes da Marvel e da DC, enquanto desconstrói alguns estereótipos, como a heroína ter roupa sexy e parecer uma dominatrix e ter que automaticamente se tornar super-herói e fazer o bem quando descobre que possui poderes, por exemplo.

Outro ótimo acerto da produção está na construção humanizada do vilão Elmar (Tim Oliver Schultz), que tem quase o mesmo carisma da protagonista, mas que vê suas habilidades com outra perspectiva, certamente pela forma como é tratado por seu pai e como se encaixa na sociedade burguesa em que nasceu. A química entre os dois é divertida, assim como as diferenças que os tornam opostos. A crítica social que o roteiro, assinado por Marc O. Seng (Dark), faz, ao mostrar que, com ou sem poderes, a desigualdade social oprime e divide pessoas, sejam elas “boas” ou não, é pontual. A direção de Felix Binder (Red Bracelets) é completamente eficiente e segue um ritmo bom, sabendo dosar o drama com o humor, que entrega cenas de ação empolgantes, claro, com baixo orçamento, mas bem realizadas dentro do possível. Além disso, a trilha sonora também é digna de filmes teen dos anos 80, algo que dá à obra um estilo próprio.

Por outro lado, a primeira metade do filme é mais equilibrada e imersiva do que o restante. Quando a protagonista finalmente descobre seus poderes e o que pode fazer com eles, seu desenvolvimento acaba sendo afetado. Fora isso, ainda que saiba os caminhos que quer seguir, por vezes a trama se perde em tentar fugir demais dos estereótipos e deixa seu humor extrapolar. A ambição de não ser igual é tão grande, que pode soar artificial.

Muito girl power

Já que o roteiro é plenamente consciente de seus rumos, o texto explora, com total liberdade, temas contemporâneos e agrega à trama questões feministas importantes e condizentes com a jornada da protagonista, constantemente oprimida pelo machismo da sociedade e, até mesmo, dentro de sua família. Sua descoberta de poderes é também sua libertação das correntes que estava aprisionada. A atriz Cornelia Gröschel está impecável no papel e compra para si a importância que a personagem tem em um mundo que, ainda hoje, tenta boicotar ‘Capitã Marvel’ na internet por se tratar de uma mulher independente e líder.

Conclusão

A diversão que ‘Freaks’ proporciona é tão equilibrada e criativa, que o filme renderia uma ótima série de TV. Apesar do baixo orçamento e as limitações, o filme da Netflix não perde em nada para produções hollywoodianas de super-heróis, principalmente por tirar sarro de filmes da Marvel e da DC sem o menor medo de expor a verdade amarga sobre os estereótipos dessas franquias. Talvez ainda esteja longe do mundo se cansar de filmes de super-heróis, mas uma coisa é certa: obras como ‘Freaks’ são um copo de água fresca no deserto da falta de criatividade.

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