Crítica | Quarteto Fantástico: Primeiros Passos – Depois de tantos tombos, um passo na direção certa

A Marvel Studios sempre soube como dar os primeiros passos — o problema é o depois. Desde Vingadores: Ultimato, o estúdio parece preso em um ciclo de promessas que não se cumprem, tentando repetir uma fórmula que já perdeu o brilho. Mas, em meio a essa maratona de excessos, 2025 marca um ponto de virada: finalmente, a qualidade voltou a falar mais alto que a quantidade.

Após a compra da Fox lá em 2019, o Quarteto Fantástico enfim ganha vida dentro do MCU. E a espera valeu muito a pena. Quarteto Fantástico: Primeiros Passos não apenas chega com fôlego renovado – uma vez que supera facilmente todas as suas adaptações anteriores – como quebra a previsibilidade visual da Marvel ao apostar em uma estética retrô-futurista ambientada nos anos 1960. Um deslumbre estético de brilhar os olhos. Só isso já é um sinal claro de mudança de rota.

Mais do que uma simples introdução de personagens, o filme captura com fidelidade o espírito da Era de Prata dos quadrinhos e se revela uma homenagem sincera — e emocionante — ao gênero de super-heróis. E, junto com o novo Superman de James Gunn, sinaliza o início de uma nova fase: mais vibrante, mais descomplicada, mais corajosa em ser, de fato, uma fantasia sem vergonha. E abraçar sua essência é o passo mais importante para funcionar nas telas.

Os acertos e erros de Quarteto Fantástico: Primeiros Passos

Quarteto Fantástico: Primeiros Passos não marca apenas a estreia do Quarteto no Universo Cinematográfico da Marvel — é também o início da jornada do pequeno bebê Franklin, além de uma nova abordagem para a origem dessa família de heróis. Assim como James Gunn faz em Superman, o filme parte do princípio de que este universo já está consolidado. Nada de longas introduções: a história se passa em uma Terra paralela, ainda nos anos 60 de um futuro alternativo, onde tudo já está em movimento.

Nada aqui é “história de origem” no sentido tradicional. O roteiro apresenta o Quarteto como os maiores — e únicos — heróis do planeta. Sem Vingadores, sem Capitã Marvel, o mundo depende inteiramente deles. Dotados de poderes vindos do cosmos, Reed Richards (Pedro Pascal), Sue Storm (Vanessa Kirby), Johnny Storm (Joseph Quinn) e Ben Grimm (Ebon Moss-Bachrach) carregam dilemas que já conhecemos, mas agora com mais profundidade, charme e atenção aos detalhes.

A química entre os quatro é palpável. Eles funcionam como um verdadeiro time — não só nas sequências de ação bem coreografadas, mas também na construção da ideia de família. O filme entende que o poder do Quarteto está justamente nisso: na conexão entre eles. E é esse vínculo que torna Quarteto Fantástico: Primeiros Passos uma estreia tão promissora quanto emocionante.

O que o Quarteto Fantástico faz aqui é raro: funciona de forma impecável tanto como grupo quanto individualmente. Cada membro tem seu momento de destaque — ainda que Sue Storm, vivida por uma inspirada Vanessa Kirby, seja a verdadeira estrela do filme. Ela entrega uma versão poderosa e emocionalmente complexa da Mulher Invisível, com uma força maternal que transforma Sue em uma das melhores adições ao MCU dos últimos anos.

Joseph Quinn traz um Tocha Humana menos rebelde e inconsequente do que o interpretado por Chris Evans, mas ainda carregando aquela energia caótica que define o personagem. Ebon Moss-Bachrach entrega um Ben Grimm irresistivelmente humano — doce, gentil, com uma vulnerabilidade que só torna sua transformação no Coisa ainda mais comovente.

Pedro Pascal, o nome mais aguardado do elenco, cumpre bem o papel de Sr. Fantástico com seu carisma natural em uma versão mais melancólica, aterrorizada e um tanto monótona do herói. Mas, curiosamente, ele não é a coisa mais deslumbrante em cena — esse título vai para o visual do filme. A direção de arte é um espetáculo à parte: das paletas de cor à iluminação, tudo aqui remete a uma estética quase Wes Anderson encontra a Marvel, ousada e estonteante.

Infelizmente, os vilões não têm o mesmo brilho. A Surfista Prateado de Julia Garner até tem presença e entrega um momento de impacto no desfecho, mas acaba surfando demais na onda de Galactus (Ralph Ineson) — o “devorador de mundos” que, apesar da imponência, representa o elo mais tradicional da fórmula tediosa da Marvel em um filme que até então apostava mais. Ele funciona? Sim! Mas é a parte menos surpreendente de uma produção que parecia pronta para fazer algo além dos deuses cósmicos subutilizados.

Galactus não quer apenas destruir a Terra — ele quer Franklin, o filho de Sue e Reed. Um bebê com poderes além da compreensão, e que claramente desponta como uma das grandes promessas do futuro do MCU. A ameaça é tão grande que, para salvá-lo (e ao planeta), o Quarteto chega à ideia ousada de mover a própria Terra para fora da rota do devorador de mundos. A cena pós-créditos, aliás, deixa claro que Galactus não é o único interessado na criança — outros vilões também estão de olho em seu potencial.

O roteiro, embora ambicioso, tropeça em certos momentos. Há teorias demais, explicações apressadas e, em alguns pontos, o velho e conhecido deus ex machina ressurge. Ainda assim, quando o filme desacelera e volta seu olhar para o coração da história — os laços familiares, a relação com o público, a mídia e o peso da responsabilidade — ele realmente brilha. O tom de comédia familiar se equilibra com doses intensas de drama, resultando em uma experiência emocional e, em muitos momentos, comovente.

Visualmente, o filme é impressionante, mas não perfeito. O CGI supera a média recente da Marvel, mas ainda tem deslizes, especialmente nas cenas envolvendo o bebê — que às vezes escorregam para o artificial. Nada que comprometa a experiência, mas perceptível. Fora isso, o diretor Matt Shakman (WandaVision) dirige a ação com a mesma empolgação de ler um quadrinho de Stan Lee e Jack Kirby.

O que realmente se destaca é a atmosfera: um sentimento constante de urgência e desespero que se entrelaça com uma poderosa mensagem de esperança. Com a humanidade à beira da extinção, os personagens agem com mais egoísmo, paixão e intensidade — criando um cenário carregado de dilemas morais. Nesse contexto, o filme propõe uma reflexão sobre o papel dos heróis, o culto aos “deuses” e os limites da salvação.

Com menos de duas horas de duração, o filme acerta em cheio no ritmo. Não há gordura nem pressa: tudo é bem dosado, com cenas que se encaixam naturalmente, mantendo o espectador engajado do início ao fim. É um uso inteligente do tempo — e dos recursos narrativos — para entregar uma aventura divertida, cheia de energia e, felizmente, com pouquíssimas amarras ao restante do MCU. E isso, convenhamos, é um alívio.

A trilha sonora de Michael Giacchino é outro destaque colossal. É épica, inesquecível e gruda na cabeça. Nas sequências de ação, ela arrepia — e não por acaso remete à trilha de outra família heroica dos cinemas: Os Incríveis.

Quarteto Fantástico: Primeiros Passos é, acima de tudo, sobre família. Mas também é sobre conflito, sobre exploração, e sobre aquela curiosidade científica e existencial que marcou os anos 1960 durante a corrida espacial. O filme resgata com brilho a alma de uma era que acreditava estar olhando para o futuro — e nos obriga a pensar no nosso presente, nos lembrando que, no fim, somos só poeira flutuando na vastidão do cosmos.

Veredito

Quarteto Fantástico: Primeiros Passos não tenta correr antes de aprender a andar — e é justamente por isso que acerta bonito. Em vez de tropeçar nas promessas megalomaníacas que têm derrubado outros filmes da Marvel, ele escolhe caminhar com firmeza por um terreno mais íntimo, mais emocional. Ao fazer isso, constrói uma jornada bem pé-no-chão, mas cheia de coração, onde cada momento parece pensado para envolver, surpreender e, acima de tudo, reconectar o público com a magia que fez os super-heróis dominarem as telas.

Ele não pretende salvar o MCU de uma vez — mas planta um pé no futuro com novidade e identidade. Este Primeiro Passo é, na verdade, um salto. Um pulo ousado rumo a uma nova forma de contar histórias dentro de um universo que parecia preso no próprio peso. Ao mirar no passado, na estética retrô, na curiosidade científica dos anos 60 e na força dos laços familiares, o filme encontra um caminho original. Um pequeno passo para o Quarteto, mas um grande avanço para a Marvel depois de tantos tombos.

NOTA: 9/10

Clique aqui e compre seu ingresso para o filme

LEIA TAMBÉM:

Aproveite para nos acompanhar nas redes sociais: Facebook, Twitter, Instagram, Youtube e também no Google News

Quer receber notícias direto no seu celular? Entre para o nosso canal no WhatsApp ou no canal do Telegram.

Quer comentar filmes e séries com a gente? Entre para o nosso canal no Instagram.

Última Notícia

Mais recentes

Publicidade

Você vai querer ler isto: