Já se passaram 25 anos desde que a franquia Premonição passou a fazer parte do imaginário dos fãs de terror, com filmes criativos — e alguns terrivelmente ruins — mas todos marcados por um fator em comum: são divertidos. No entanto, faz 14 anos desde a última vez que visitamos esse universo macabro. E, curiosamente, esse longo hiato parece ter sido o tempo necessário para curar as feridas deixadas pelos capítulos mais fracos e reacender a lembrança do que tornou a série tão querida na era do DVD e das videolocadoras.
O sexto filme, Premonição 6 – Laços de Sangue, aproveita essa pausa de mais de uma década não para se reinventar, mas para redescobrir sua essência. Em vez de desperdiçar esforços tentando seguir modismos, o longa abraça a mitologia original e suas referências, resultando em uma obra que surpreende ao amarrar pontas soltas, criar origens inventivas e, acima de tudo, se divertir com as mortes mais angustiantes do cinema. Laços de Sangue tira a franquia do respirador e a resgata do coma criativo, provando que, às vezes, o tempo é mesmo o melhor remédio para a falta de ideias.
Índice
Os acertos e erros de Premonição 6 – Laços de Sangue

Este sexto filme da franquia mantém o mesmo conceito central dos filmes anteriores, mas traz uma nova abordagem à história. O capítulo marca mudanças importantes na mitologia de Premonição e funciona quase como uma recapitulação até aqui. Seu objetivo é claro: oferecer respostas que — sejamos honestos — nunca foram exatamente necessárias, mas que surpreendentemente funcionam. Entre elas, uma explicação para a obsessão da Morte em caçar sobreviventes de tragédias e, ainda mais ousado, uma revelação sobre um personagem que conecta todos os filmes desde o início.
A sequência de abertura, em um restaurante nas alturas, é eletrizante (e possívelmente os primeiros 20 melhores minutos da franquia!) e traz uma nova abordagem: agora, a premonição não vem de uma testemunha direta do acidente, mas se manifesta anos depois nos sonhos de uma jovem, revelando que a Morte está, há décadas, caçando linhagens sanguíneas que jamais deveriam ter existido. É um acerto de contas com o destino, envolvendo todas as tramas anteriores em um ciclo sombrio que finalmente se fecha.
Pela primeira vez, o roteiro mergulha na história de William John Bludworth, personagem misterioso que esteve presente em quase todos os filmes como o inquietante arauto da Morte. Aqui, sua origem é revelada com um tom sinistro e surpreendentemente coerente, aprofundando a mitologia da série de forma satisfatória. Essa escolha ganha ainda mais peso por marcar a despedida de Tony Todd, que faleceu em 2024 e foi, por mais de duas décadas, o rosto enigmático que uniu toda a franquia. A homenagem é justa, emocionante e dá ao personagem — e ao ator — a despedida que ambos mereciam.

Outro resgate ao espírito dos dois primeiros filmes está no suspense meticuloso que envolve cada morte. A tensão é constante, e o público volta a ficar na ponta da cadeira, atento a cada detalhe do ambiente, tentando prever como — e quando — a Morte vai atacar. Agora filmado para salas IMAX, o longa brinca com a própria linguagem visual: a proporção da tela muda sempre que a Morte começa sua jogada, criando quase uma quebra da quarta parede, em um recurso que remete ao espírito interativo da franquia na infame era do 3D.
Desta vez, porém, há também uma carga emocional mais densa. O foco não está mais em um grupo de amigos universitários, mas em conexões familiares, o que adiciona uma camada dramática mais envolvente. Kaitlyn Santa Juana brilha como uma protagonista carismática, e o elenco como um todo entrega performances mais profundas do que em praticamente todos os filmes anteriores. Até mesmo Richard Harmon, no papel do insuportável e inconsequente Erik, recebe uma construção interessante que subverte o estereótipo e acrescenta complexidade.
O roteiro não nega os clichês do gênero — pelo contrário, ele os abraça com inteligência, jogando com as expectativas do público para intensificar tanto a tensão quanto o humor. Aliás, este talvez seja o filme com o senso de humor mais sombrio da franquia. A Morte, aqui, parece ainda mais cruel e cínica, o que torna cada armadilha macabra ainda mais envolvente. E isso é parte do charme: as mortes são bizarras, criativas, sangrentas — e absolutamente sensacionais, como todo fã da série espera.

Os efeitos visuais e o uso exagerado de CGI, embora não sejam impressionantes, cumprem bem seu papel — e são especialmente sangrentos, mesmo dentro dos padrões já elevados da franquia. O filme também presenteia os fãs mais atentos com alguns easter eggs bem colocados, resgatando referências sutis a títulos anteriores e até a premonições clássicas, o que cria uma sensação animadora de continuidade.
As mortes, por sua vez, estão entre as mais criativas e chocantes de toda a série. Os acidentes em si evitam o grotesco exagerado típico do terror gore e se aproximam de situações bizarras, mas plausíveis — coisas que você quase consegue imaginar acontecendo na vida real. Essa escolha aumenta a tensão e reforça o caráter imprevisível do filme, que traz um frescor inédito à franquia.
A direção merece elogios à parte. Fica claro que os cineastas envolvidos conhecem profundamente a franquia e têm um respeito genuíno. A familiaridade com os filmes anteriores transparece em cada escolha de câmera, nos enquadramentos tensos e nas pistas visuais cuidadosamente posicionadas. A atenção aos detalhes é impressionante, de verdade.
Ainda assim, o longa não está livre de falhas. Como de costume, há momentos de lentidão, especialmente quando a trama investe no desenvolvimento da relação entre mãe e filha. Apesar de desacelerar o ritmo, essas cenas não comprometem a experiência, já que são breves e contribuem para a carga emocional da narrativa.

Veredito
Respeitando a mitologia original, Premonição 6: Laços de Sangue entrega exatamente o que os fãs esperavam — mas de formas surpreendentes! O filme amarra todas as pontas soltas da franquia e, ao mesmo tempo, cria um novo trampolim para futuras histórias, agora que o universo da Morte parece mais vasto do que nunca.
Mais do que apenas satisfazer quem acompanhou a série desde o início, o longa traz fôlego novo e revitaliza a saga com energia e inteligência. Um suspense envolvente, frenético e insano, que resgata os laços emocionais criados há décadas e os atualiza com propriedade. Felizmente, não é apenas um revival nostálgico — é uma continuação sólida, bem construída e essencial. Um retorno pulsante às veias abertas da franquia.
Nota: 8/10
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