Crítica | Como Treinar o seu Dragão (2025) – um voo visual que hesita em decolar emocionalmente

Quinze anos após conquistar plateias ao redor do mundo com uma animação que equilibrava afeto, aventura e amadurecimento, Como Treinar o Seu Dragão retorna às telas agora sob o manto do live-action. O comando segue nas mãos de Dean DeBlois — responsável pela trilogia original e agora roteirista solitário da nova versão — e não há dúvidas de que o diretor conhece intimamente o mundo de Berk. Mas o que se desenha em cena é uma batalha silenciosa entre a nostalgia e a tentativa de justificação artística num contexto saturado por remakes realistas.

Curiosamente, o lançamento surge meses após a chegada da versão em carne e osso de Lilo & Stitch, projeto que DeBlois também assinou nos primórdios dos anos 2000, e cuja nova versão não conta com sua participação. Não há como ignorar a tensão implícita entre Disney e Universal nesse momento, ambas lutando não apenas por bilheteria, mas por autoridade criativa na reinvenção de suas histórias mais amadas.

Os acertos e erros de Como Treinar o Seu Dragão

No centro da trama, permanece Soluço — agora com feições mais humanas, mas ainda preso à mesma trajetória narrativa. Ele é o garoto viking franzino, inventor talentoso e socialmente deslocado, que estabelece uma improvável aliança com um dragão da temida raça Fúria da Noite. A sinergia com Banguela, marcada pela construção de confiança e cumplicidade, resiste ao novo formato e mantém parte do encanto do original, sobretudo em passagens que optam pelo silêncio. É no não dito, nos olhares, nos gestos entre humano e criatura, que o filme encontra ecos de um cinema quase contemplativo — e que por instantes lembra a delicadeza de um Jacques Tati em plena fantasia digital.

O problema, porém, emerge no tempo e no tom. Com trinta minutos a mais que o filme de 2010, o live-action tropeça na própria ambição. Ao tentar expandir o escopo, dilui os momentos de maior impacto emocional, tornando previsíveis algumas viradas e burocrática a resolução de seus conflitos. Não se trata de má vontade com a obra, mas de uma constatação inevitável: o que no original era enxuto, simbólico e pungente, aqui se arrasta com certa hesitação.

Ainda assim, há um mérito inegável na construção visual. A fusão entre atores reais e criaturas digitais alcança um nível de harmonia que evita o efeito “boneco em cena”, tão comum em adaptações do tipo. Os dragões, com exceção de Banguela, seguem uma lógica estética que remete à brutalidade mística de Game of Thrones ou à iconografia monstruosa das franquias Jurassic Park/World. Já Banguela, que conserva seu traço mais cartunesco, exigiu que o próprio Soluço fosse levemente estilizado — um ajuste ousado que, surpreendentemente, funciona. Há um senso de estilização constante que confere unidade visual ao universo apresentado, mesmo quando ele escapa da verossimilhança naturalista.

Mais do que uma simples atualização tecnológica, o filme se posiciona como espetáculo visual. Os voos sobre Berk, os duelos com dragões, os momentos de contemplação no alto de um penhasco: tudo aqui clama por escala, por imersão, por grandiosidade. Em certos instantes, parece até buscar o impacto sensorial de Avatar (2009), e não seria exagero dizer que é nesse terreno da imagem como experiência que a refilmagem encontra sua razão de existir.

Veredito

No fim das contas, a versão live-action de Como Treinar o Seu Dragão se equilibra entre reverência e reformulação. É belo, é competente, mas também é cauteloso. Não trai a história original — o que já é um mérito num mar de adaptações apáticas —, mas tampouco a reinventa com a potência que poderia. Há bravura na tentativa, mas falta fogo no coração. E talvez seja exatamente aí que o voo não alcance o céu que deveria.

Nota: 6/10

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