Crítica | Confinado: quando a reciclagem de ideias vira armadilha

No atual panorama do cinema comercial, onde a reinvenção parece ter sido trocada pela repetição, Confinado surge como mais um sintoma da exaustão criativa. O longa, estrelado por Bill Skarsgård e Anthony Hopkins, impressiona negativamente não apenas por sua falta de inovação, mas também por sua total ausência de propósito artístico. A impressão é de um projeto que sequer compreende por que foi realizado — e menos ainda, por que contou com nomes tão expressivos.

Os acertos e erros de Confinado

O argumento, já explorado anteriormente em outras cinematografias com mais coragem e personalidade, aqui é esvaziado de tensão e reflexão. A história acompanha Eddie (Skarsgård), um sujeito comum que, pressionado por dívidas e por um cotidiano cada vez mais sufocante, enxerga no crime uma solução rápida. Ao tentar furtar o interior de um carro de luxo deixado misteriosamente destrancado, ele se vê aprisionado em uma cilada cuidadosamente armada. A partir daí, o que parecia um roubo oportunista transforma-se em um jogo psicológico de resistência e dominação.

Do outro lado está William (Hopkins), um médico à beira da morte, consumido pelo ressentimento e disposto a aplicar uma justiça própria sobre aqueles que, em sua visão, simbolizam a falência moral da sociedade. A perda da filha em um assalto e o histórico de violência urbana o conduzem à decisão de reagir — não mais com argumentos ou tribunais, mas com brutalidade. O que se segue é uma batalha de vontades entre dois homens em frangalhos, ambos extrapolando os limites éticos de maneira preocupante.

A intenção de discutir temas como moralidade, desigualdade e desejo de vingança se perde em um roteiro raso e uma direção que se apoia mais em choques visuais e situações extremas do que em profundidade dramática. David Yarovesky, que já demonstrou alguma ousadia em Brightburn: Filho das Trevas, aqui se entrega a um espetáculo de sadismo que pouco acrescenta ao debate que poderia emergir da trama.

Skarsgård entrega um desempenho contido, que vai perdendo força à medida que a narrativa afunda em repetições. Hopkins, por sua vez, parece mais interessado em se divertir com a vilania do que em construir um personagem com reais dilemas. O que poderia ser um duelo intelectual ou moral se reduz a um embate caricatural e desprovido de nuances.

Comparações são inevitáveis. O argentino 4×4 (2019) já havia explorado conceito semelhante com mais intensidade, e sua versão brasileira, A Jaula (2022), ainda conseguiu incorporar questões sociais locais com mais relevância. Já Confinado falha em estabelecer identidade própria, soando como um experimento frio, que nem entretém, nem provoca reflexão.

Veredito

Ao final, resta ao espectador apenas o desconforto — não aquele produtivo, que move pensamentos, mas o da frustração diante de um filme que não sabe o que quer ser. Esquecível e genérico, Confinado é mais um exemplo de como ideias recicladas, quando tratadas com desleixo, podem se tornar apenas um fardo.

Nota: 3/10

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