Crítica | Bailarina – Um espetáculo à parte no universo John Wick

Consolidada como a franquia de ação mais valiosa do cinema na última década — especialmente agora que nomes da velha guarda como 007, Missão: Impossível e Identidade Bourne já encerraram seus ciclos —, John Wick se destaca por buscar constante reinvenção, mesmo quando repete, com competência, a fórmula que a consagrou. É curioso notar que, com apenas quatro filmes, a saga já gerou uma série derivada para a TV e agora chega aos cinemas com um spin-off centrado em uma protagonista feminina que encaixa perfeitamente nesse universo caótico.

Com Keanu Reeves cada vez mais próximo de se despedir do personagem — já que as filmagens são fisicamente intensas e exigem demais de seu comprometimento —, quem assume o centro da ação agora é Ana de Armas, em um papel que vai muito além de ser apenas a “versão feminina” de Wick. Sua personagem traz uma carga emocional intensa, marcada por um passado ainda mais traumático e uma motivação poderosa, tornando ela a verdadeira máquina de vingança que a saga precisa.

Bailarina expande de forma explosiva o universo da franquia, sem abrir mão do que Joh Wick tem de melhor: impressionantes cenas de ação coreografadas. O filme injeta novo fôlego à saga e realiza um desejo de Reeves — o de passar o bastão a uma substituta à altura de seu legado.

Os acertos e erros de Bailarina

A história de Eve é ainda mais violenta e traumática que a de John Wick, embora menos melancólica — enquanto ele é movido por uma solidão silenciosa, ela transborda fúria e propósito. Em uma jornada de vingança no melhor estilo Kill Bill, Bailarina se passa entre os eventos dos filmes 3 e 4 da franquia original, acompanhando uma jovem que presencia o assassinato do pai antes de se tornar uma assassina implacável, treinada pela Ruska Roma.

A trama dedica uma longa introdução ao passado de Eve, antes de seu treinamento brutal, e deixa claro desde o início que ela é uma figura cobiçada — não apenas por suas habilidades em formação, mas pela intensidade e raiva que carrega. Quando finalmente descobre o paradeiro do assassino de seu pai, ela rompe com tudo para seguir um único caminho: vingança.

Agora altamente treinada e com acesso a um submundo letal, Eve embarca em uma cruzada sangrenta para aliviar sua dor — até que seu caminho inevitavelmente cruza com o do lendário Baba Yaga, John Wick. O filme mantém a estrutura do John Wick original, de 2014, mas eleva o nível das cenas de ação com sequências ainda mais mirabolantes e visualmente impressionantes. É uma montanha-russa implacável, sem freios ou tempo para respirar.

Ana de Armas é uma força da natureza em Bailarina, entregando tudo de si nas exigentes sequências de ação. Além da fisicalidade impressionante, ela carrega uma carga emocional potente, que a posiciona como uma sucessora à altura. Com charme, intensidade e raiva na medida certa, Ana constrói uma protagonista cativante — e, felizmente, sem qualquer traço de sexualização.

Esse é, aliás, um mérito importante do universo Joh Wick: não há espaço para romances forçados. Esta é uma história sobre dor e perda, e Eve é respeitada como personagem por sua força e complexidade, sem recorrer a clichês em que o “charme feminino” serve como arma para manipular homens. Ela é uma construção exemplar de heroína de ação — e sua interação com Wick de Keanu é marcada por uma química silenciosa e eficaz, baseada na compreensão mútua de uma dor profunda e vinganças inevitáveis.

Embora o roteiro cometa alguns deslizes pontuais com conveniências narrativas, nada compromete a força da jornada. A atmosfera do filme é densa e imersiva, com sangue contrastando contra a neve e violência gráfica coreografada com precisão. Grande parte dos rostinhos familiares está de volta, incluindo Lance Reddick, Ian McShane e Anjelica Huston, reforçando a conexão direta com o universo original.

A novidade no elenco é Norman Reedus, que infelizmente assume um papel bastante raso e descartável — ainda que sua presença possa vir a ganhar mais relevância em futuras produções. Já o vilão vivido por Gabriel Byrne deixa e muito a desejar. Apesar do talento do ator, seu antagonista carece de ameaça real e presença marcante, o que enfraquece um pouco o clímax. A caçada empreendida por Eve acaba sendo muito mais empolgante do que o confronto final em si.

As sequências de ação são um espetáculo à parte e valem cada centavo do ingresso — em especial uma cena impactante com Eve empunhando um lança-chamas, filmada com maestria por Len Wiseman, conhecido por seu trabalho na franquia gótica Anjos da Noite. Aqui, ele empresta o vigor estilístico de Chad Stahelski, criador do estilo visual original da saga, e faz bom uso dos cenários para intensificar tensão e perigo.

A fotografia fria e sombria, aliada a uma trilha sonora pulsante com músicas do Evanescence, ajuda a construir uma atmosfera elétrica e envolvente. Tudo contribui para que Bailarina se mantenha fiel à qualidade de John Wick, enquanto expande seus horizontes com originalidade e personalidade própria, algo bem raro em um spin-off.

Veredito

Bailarina entra em cena como um espetáculo à parte no universo John Wick — um spin-off que não apenas segue o ritmo, mas cria passos próprios com alma, ousadia e equilíbrio. Ana de Armas dança com maestria no centro do palco, sustentando com garra e graça o legado coreografado por Keanu Reeves.

Apesar do elenco renovado, o filme mantém o peso emocional e o padrão altíssimo das coreografias de ação, criativas, impactantes e visualmente hipnóticas. É um grande exemplar do cinema de ação contemporâneo, feito sob medida tanto para fãs quanto para quem busca uma montanha-russa insana de vingança, sangue, granadas e lança-chamas.

Mesmo com alguns tropeços no roteiro e personagens que saem de cena antes de brilhar, Bailarina é uma dança feroz, sombria e atmosférica que faz o cinema vibrar como um grande palco em chamas.

NOTA: 8/10

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