Crítica | Maxxxine – Ninguém acima de Mia Goth em desfecho estiloso

Poucos filmes de terror atualmente conquistam tanto o público quanto a franquia protagonizada por Mia Goth. Isso pode ser atribuído ao poder do subgênero slasher, que sempre teve uma forte conexão com o público jovem, ou talvez à visão inovadora e erótica de Ti West. Uma coisa é certa: X – A Marca da Morte se tornou um sucesso inesperado, seguido pelo ainda mais aclamado Pearl, lançado em 2022. Com a crescente fama, uma base de fãs apaixonada e um orçamento maior, as expectativas para a franquia estão nas alturas. No entanto, Maxxxine, que encerra essa trilogia peculiar, não parece manter o mesmo nível de horror trash e gore dos filmes anteriores.

Desta vez, Ti West quer provar que sabe trabalhar com grandes orçamentos e tem a capacidade de criar um novo clássico, prestando homenagem a diversos filmes que marcaram o gênero. Maxxxine é, acima de tudo, uma crítica à Hollywood predatória dos anos 80, capturando de forma autêntica o espírito da época e o pânico satânico que dominava os noticiários, com serial killers à solta nos EUA, como o infame Night Stalker (o assassino da vida real Richard Ramirez).

Como um filme sobre a produção de filmes, é brilhante, autorreferencial e divertido de acompanhar. No entanto, em termos de terror, pode ser o capítulo mais superficial, mais fraco e menos violento da trilogia, por mais surpreendente que isso possa parecer. A versatilidade de West é impressionante, mas pode não agradar a todos.

Os acertos e erros de Maxxxine

Com o sucesso inesperado já mencionado, parece que o filme abriu mão de ser um terror em sua essência para se inserir em Hollywood, tão desesperada quanto a própria protagonista. O que pode causar confusão é que a trilogia não segue uma ordem linear dos fatos e Mia Goth interpreta tanto a vilã quanto a heroína desses filmes.

Maxxxine continua a história de X (o primeiro filme!), mostrando a única sobrevivente, Maxine, agora perseguindo seu sonho de deixar a indústria pornográfica para se tornar uma estrela do cinema mundial – e ela tem calibre pra isso!

Mas ela está longe de ser inocente e ingênua; essa talvez seja a maior qualidade dessa trilogia. Sua protagonista é absolutamente complexa e multifacetada, longe de ser uma vilã unidimensional. Maxine é cheia de surpresas e sua energia caótica varia do sádico ao vulnerável rapidamente. E claro, tudo isso se deve à força avassaladora de Mia Goth, a Jamie Lee Curtis da nossa geração.

Com uma enxurrada de autorreferências ao cinema de terror e à era das videolocadoras, o filme mergulha na estética marcante dos anos 1980 com maestria, tanto nos figurinos quanto na trilha sonora. É uma experiência bastante divertida, retratando uma época em que o cinema e a sociedade estavam passando por mudanças importantes. A trilogia, aliás, sempre foi sobre o poder dos filmes na vida das pessoas, e isso continua evidente.

É claro onde o orçamento foi mais investido neste capítulo, e cada centavo foi bem utilizado. O roteiro mantém a ideia iniciada em X de mesclar sexo com violência gráfica, sem cair no piegas ou no cafona. Ti West entende que o terror é um gênero capaz de tocar em feridas sem ser didático, e ele faz isso de forma excelente. Maxxxine questiona o puritanismo americano, a hipocrisia, o assédio em Hollywood e a busca pela fama a qualquer custo, mesmo que pudesse ser mais visceral.

Com um elenco composto por rostos conhecidos, a dinâmica entre Mia Goth e Kevin Bacon é talvez a mais divertida, especialmente em uma cena ambientada na icônica casa do Bates Motel, de Psicose.

Elizabeth Debicki também se destaca como uma cineasta em ascensão no mundo dominado por homens, quase uma referência a Greta Gerwig. Ela sabe que Hollywood despreza as mulheres e só quer usar seus corpos, por isso investe em Maxine, reconhecendo que por trás dessa fachada traumatizada existe uma atriz em potencial, uma verdadeira “loira de Hitchcock”. Infelizmente, o restante dos atores é subaproveitado.

Porém, apesar da ambientação fantástica, o roteiro superficial rapidamente perde suas boas ideias, tornando-se uma trama investigativa boba e sem ânimo, culminando em um culto satânico involuntariamente cômico e um desfecho ainda mais insatisfatório.

Maxxxine demora um pouco para parecer uma sequência direta de X. Surpreendentemente, isso é um dos seus pontos mais fortes; o filme tenta se sustentar sozinho antes de revisitar o passado da personagem – não muito diferente da própria estrela de cinema, que tenta esquecer o lado sombrio de sua vida – se é que isso é possível.

Veredito

Maxxxine apresenta ótimas ideias e uma atmosfera sombria, quase pornograficamente atraente, mas como capítulo final da trilogia, parece desviar-se do terror gore e slasher construído até aqui. Isso não impede Mia Goth de brilhar como a estrela que merece ser, roubando novamente os holofotes de Hollywood. Com surpreendentemente pouco sexo e ainda menos violência, este capítulo parece mais maduro, mais caro e visivelmente mais desesperado pela fama, embora não acompanhe os dois filmes anteriores.

De qualquer forma, Ti West entende o poder do horror como crítica social e realiza seu melhor trabalho até agora nesse quesito. Maxxxine é uma mistura perversa de humor ácido, estética oitentista e um drama superficial, mas ainda carrega o pedigree criativo de uma saga que jamais será esquecida no cinema contemporâneo. Uma franquia que começou como filme B e termina com ideias de filme A, isso é fato.

NOTA: 7/10

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