Crítica | Depois da Morte – Documentário cristão materializa o sublime ato de morrer 

Um dos grandes enigmas que intrigam a humanidade é o destino que nos aguarda depois da morte. Como uma boa trama cinematográfica, talvez esse ponto crucial do universo seja como aqueles filmes que não necessitam resolver seu mistério central para cativar. Um desfecho em aberto pode ser mais inspirador e envolvente do que uma exposição direta e desprovida de emoção.

A beleza da existência pode residir justamente na incerteza do que nos aguarda do outro lado. No entanto, é inerente à natureza humana o desejo de investigar, e é exatamente isso que o documentário Depois da Morte (After Death), produzido pelo mesmo estúdio do polêmico O Som da Liberdade, busca explorar. Embora possa ser mais especulativo e superficial do que se espera, cumpre bem o seu propósito.

Erros e acertos de Depois da Morte

Alerta de spoiler: Ninguém tem certeza do que nos aguarda após a morte! Embora haja inúmeros relatos ao redor do mundo sobre experiências transcendentais e encontros divinos, a ciência até hoje não conseguiu fornecer uma comprovação definitiva. No entanto, o documentário produzido pelo Angel Studios, felizmente, não busca afirmar nada ou introduzir novas revelações sobre o tema.

Em vez disso, seu principal objetivo é despertar a curiosidade daqueles que seguem crenças religiosas na existência de uma vida após a nossa vida. Assim como as diversas teorias, o filme oferece um certo conforto ao sentimento de que pode existir algo além da escuridão eterna. Para isso, conta com entrevistas de autores de best-sellers, médicos, cientistas e pessoas que vivenciaram experiências de quase morte, também conhecidas como EQMs. Não é extraordinário, mas como um bom documentário de narrativa envolvente, funciona.

Para sustentar o argumento, figuras do mundo literário compartilham suas vivências, como Don Piper, um pastor que nos anos 80 alegou ter vislumbrado o paraíso após um acidente de carro. Sua história inspirou o filme 90 Minutos no Paraíso, lançado em 2015. Por outro lado, a médica cirurgiã Mary C. Neal, autora de To Heaven and Back, relata suas sensações ao cair de um caiaque em uma cachoeira e permanecer submersa por vários minutos.

Além dos sentimentos pessoais, os entrevistados também discorrem sobre o impacto que tais vivências próximas à morte tiveram em suas trajetórias, alegando que sua missão na Terra é recontar a experiência que tiveram. Seria tudo uma experimentação envolvente se não fosse pela evidente inclinação tendenciosa. O viés religioso – é óbvio – permeia toda a narrativa, servindo para obscurecer e ignorar as lacunas dessas histórias de natureza imaginativa. A ciência, mesmo presente aqui e ali, é mencionada apenas para investigar os mistérios cerebrais após a perda da consciência.

No entanto, o texto espírita (que conversa com as teorias de Chico Xavier) elaborado por Stephen Gray, que também assume a direção do filme ao lado de Chris Radtke, se concentra na construção de um mundo para além do nosso convencional, onde se pressupõe o encontro com Deus, uma dimensão superior que transcende todas as leis do universo conhecido, mergulhando na zona desconhecida para os vivos.

É inegável que não há como refutar, tampouco comprovar, tais afirmações. Entretanto, o filme, enquanto obra audiovisual, realiza um trabalho impressionante ao transformar o sublime e o etéreo em imagens tangíveis, recriando as descrições das experiências de forma extraordinariamente bela e impactante que não nos deixa tirar os olhos da tela.

Trata-se de um tema muitas vezes evitado e tabu, porém, o roteiro envolvente aborda o assunto com naturalidade, mostrando respeito pelos entrevistados e suas experiências digamos, criativas. Os efeitos em CGI são deslumbrantes e capturam uma realidade reconhecidamente indescritível, enquanto a trilha sonora original evoca emoções.

Essa combinação de elementos oferece uma visão abrangente das EQMs, ao mesmo tempo em que transmite as emoções genuínas associadas a elas, proporcionando aos espectadores uma perspectiva única que outros documentários sobre o tema não alcançaram anteriormente. Embora o ritmo às vezes possa parecer um pouco lento e repetitivo, o filme consegue imergir o público no material, mesmo que com a ajuda de um drama forçadamente exagerado.

Veredito

Depois da Morte tece um melodrama imaginativo para dar forma ao sublime e oferecer uma visão persuasiva do que pode existir após a morte do corpo. Sem pretensões de afirmar ou negar categoricamente, o roteiro transita habilmente na fronteira misteriosa entre religião e ciência, embora tenda a tomar partido ao escolher o enfoque para defender, se apoiando em entrevistas com indivíduos que tiveram experiências espirituais profundas – e criativas.

Como todo bom documentário, consegue envolver e impressionar ao recriar imagens cativantes que sugerem a existência de luz, vida e uma divindade além da escuridão eterna. No entanto, por vezes excede ao adotar uma perspectiva predominantemente cristã. Mesmo assim, explora o assunto com maestria e se destaca como uma obra que supera outros documentários sobre o tema controverso até o momento. No fim, é um filme para cristãos feito por cristãos. E isso diz muita coisa. Um fim em aberto é sempre mais esperançoso – e divertido – do que um texto expositivo sem alma.

NOTA: 7/10

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