Crítica | Garra de Ferro – Entre a busca pela excelência e a pressão da masculinidade tóxica

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Há filmes que simplesmente entregam o que se espera deles. Outros decepcionam, ficando aquém do prometido. E então surge um fenômeno singular, como Garra de Ferro (The Iron Claw), que nos cativa ao trabalhar com maestria o essencial: um enredo sólido e um elenco competente. Este projeto da venerada A24, agora trazido ao Brasil pela California Filmes, pode não ostentar indicações ao Oscar 2024, mas não subestime sua sofisticação e carinho pelos detalhes.

Há um cuidado meticuloso na recriação da atmosfera da época, na construção de personagens complexos e, acima de tudo, na imersão densa e sombria deste relato comovente sobre uma família de lutadores, “amaldiçoada” pelo destino. É uma narrativa sobre vínculos familiares, dor e luto, habilmente mesclada com o tradicional tema da superação nos esportes. Contudo, Garra de Ferro vai além, desafiando as escolhas da vida ao proclamar que só temos uma chance e devemos nos esforçar para sermos nossa melhor versão nessa jornada.

A trama e o elenco de Garra de Ferro

Se você está esperando um Creed da luta livre, é melhor ajustar suas expectativas. Embora Garra de Ferro brilhe nas cenas de ringue, nas cores vibrantes e na ação frenética, esta cinebiografia segue os passos dos irmãos Von Erich, cuja trajetória moldou o mundo do wrestling profissional nos anos 1980. Entre tragédias e triunfos, sob a sombra de um pai e treinador autoritário, os irmãos buscam a imortalidade nos ringues de luta livre.

No entanto, a competição vai além das cordas do ringue, se infiltrando em cada aspecto de suas vidas, onde a pressão para ser o melhor, o mais forte, e o favorito do pai é esmagadora. Como é de se esperar, esse fardo tem um preço alto e não é pago sem sacrifícios dolorosos. No que diz respeito ao elenco, todos se destacam, mas Zac Efron (High School Musical, O Rei do Show), com sua dedicação incansável, alcança novos patamares e entrega, indiscutivelmente, sua melhor performance até o momento ao interpretar Kevin, um personagem triste e gentil constantemente obscurecido pela sombra da excelência.

O talentoso ator de comédias infunde amor, determinação e uma profunda sensibilidade em cada palavra do texto. Com sua impressionante transformação física, caracterização fiel aos anos 80 e um olhar suave por trás da sua imponência, Efron adiciona um charme adicional ao filme. Sua interpretação de Kevin Von Erich é genuinamente tocante e comovente.

Efron enfrenta o desafio físico e emocional com maestria, respaldado por um elenco impecável (que inclui a sensação do momento, O Urso, Jeremy Allen White), enquanto eles, juntamente com o diretor Sean Durkin (O Refúgio), entregam algumas das mais autênticas representações de luta livre já vistas no cinema.

As tragédias pontuam a narrativa, conferindo uma atmosfera pesada e profundamente melancólica, que ultrapassa as expectativas iniciais. É crucial ressaltar também que o filme aborda temas delicados sem rodeios e isso pode gerar alguns gatilhos indesejados. A busca incessante pela excelência e pela glória coloca uma pressão avassaladora sobre os jovens da família, levando a sérios danos à saúde mental e resultando em tragédias por vezes inimagináveis. É dolorido de assistir.

A química palpável entre o elenco, especialmente entre os irmãos, intensifica ainda mais a experiência, a tornando ao mesmo tempo comovente e agridoce. Embora oscile entre ser uma cinebiografia autêntica e uma exploração imaginativa do luto, da pressão no esporte e dos dramas familiares, o filme atinge seu ápice quando mergulha nas interações naturais entre os personagens e na desconstrução poderosa da masculinidade tóxica. Todo esse conjunto é complementado por uma cinematografia deslumbrante e uma reconstituição dos anos 80 repleta de energia pulsante.

Veredito

Em Garra de Ferro, somos envolvidos por um vendaval de tristeza e emoção, que nos arrasta para um abismo de reflexões sobre as exigências familiares pela perfeição e os limites da masculinidade tóxica. O filme transcende as expectativas e oferece uma jornada profundamente comovente, amplificada pela notável atuação de Zac Efron, que demonstra uma versatilidade e comprometimento dignos de aplausos.

Sob a direção magistral de Sean Durkin, somos conduzidos por uma narrativa marcada por uma tragédia dilacerante, onde a linha entre o abuso psicológico e a busca pela glória se torna turva. No entanto, apesar da poderosa história que se desenrola, o filme enfrenta alguns obstáculos, como um ritmo mais lento e uma montagem que por vezes não favorece plenamente a narrativa.

Mas, mesmo diante desses desafios, é impossível não se conectar com os personagens complexos e atormentados que habitam esse universo. Garra de Ferro emerge como um estudo fascinante sobre a família Von Erich, uma ode à resiliência humana e uma obra que deixa uma impressão duradoura na alma.

Nota: 9/10

Leia também: Garra de Ferro | Conheça a verdadeira história da família Von Erich


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