Crítica | Casa Gucci – Paixão obsessiva nunca sai de moda em filme que suplica por prêmios

A exposição de ridículo e a ostentação da mediocridade certamente são os temas centrais de Casa Gucci (House of Gucci), longa de Ridley Scott – baseado em fatos – que penetra no polêmico e luxuoso mundo da alta costura ao contar como o herdeiro de uma das maiores e mais lucrativas marcas do mundo – a Gucci – acabou se rendendo aos encantos de uma jovem ambiciosa. Quando a máscara de poder desaba, revela por detrás uma família corrompida pela ganância e pelo dinheiro, capaz de fazer o que for preciso para dar seguimento à sua dinastia de opulência e seu legado de hipocrisia, mas que não contava com a astúcia e o poder de persuasão da socialite Patrizia Reggiani.

Scott – que emplacou outro grande filme em 2021, O Último Duelo – contorna o clima tenso e por vezes desesperador dessa história real, sobre um dos assassinatos mais famosos do mundo dos artistas, com um delicioso e, perdão do trocadilho, senso de humor matador, além de mostrar toda a sua versatilidade aos 83 anos.

De fato, Casa Gucci é uma enorme surpresa – apesar de ser totalmente pensando para chamar atenção no Oscar – e eleva a temática “mundo da moda opressor” a um patamar de entretenimento ainda pouco explorado, uma vez que tanto esse ambiente competitivo quanto o true crime presente na trama, são assuntos para obras de horror. Aqui, o drama denso dá lugar à uma espécie de comédia romântica dark e ácida sobre o absurdo mundo dos endinheirados.

A trama e o elenco

A trama tem como base o livro homônimo da autora Sara Gay Forden sobre a família italiana que construiu um império da moda e artigos de luxo, porém, para seguir com esse tom cômico, Lady Gaga (Nasce Uma Estrela) – que dá vida à excêntrica Patrizia – parece encaixar como uma luva à história, uma vez que, além de já ter se provado ser boa atriz (e essa discussão está encerrada!), seu excesso de carisma ajuda na construção de uma persona que mescla uma doçura enigmática com a psicopatia possessiva da personagem.

A atriz está ótima, magnética e 100% comprometida com o trabalho, mesmo com um fortíssimo sotaque italiano que a deixa ainda mais caricata e melodramática, afinal, é um filme sobre a personificação do ridículo, ou seja, quanto mais exagerado, mais funciona e melhor é a qualidade da diversão dentro de um enredo que acompanha o primeiro (e forçado) encontro de Patrizia – uma jovem de origem humilde e que mal vê a hora de fisgar um homem rico para ter seu devido sucesso e valor – com Maurizio Gucci (vivido majestosamente por Adam Driver), simplesmente o único herdeiro do legado Gucci, já que seu pai, Rodolfo Gucci, está no leito de morte.

Entre luxuosos almoços e viagens caras pelo mundo, o casal perfeito e o romance de cinema começam a ruir quando Patrizia – ambiciosa por mais dinheiro – interfere nos negócios da família para que, dessa forma, não haja qualquer competição pelos lucros da marca.

Daí para frente, o roteiro – ao melhor estilo Succession – mergulha no irreal mundo dos milionários, suas vidas artificiais e na podridão que há escondida debaixo de seus tapetes de ouro, sem se esquecer, é claro, de construir uma narrativa intrigante, por vezes lenta e repetitiva, mas que fisga o espectador, especialmente por abrir logo de cara com o assassinato de Maurizio e, de forma não-linear, retorna ao ano de 1978 para sedimentar a origem do romance doentio, que culminaria em tragédia, em 1995.

Além da química propositalmente engessada de Driver e Gaga, outros nomes roubam a cena, sendo o principal deles Jared Leto (Morbius), surpreendentemente irreconhecível por conta do impecável trabalho de maquiagem e caracterização para dar vida ao desprovido de inteligência Paolo Gucci. O astro se embebeda de maneirismos para criar seu exagerado (e estereotipado) personagem. Por vezes irritante, por vezes uma piada, mas indiscutivelmente uma grande barriga na trama.

Aliás, o excesso de coadjuvantes acaba por deixar a narrativa principal engordurada e demasiadamente arrastada, mesmo quando esses sujeitos são Al Pacino, Jeremy Irons e Salma Hayek. Não que os personagens secundários não tenham suas funções dramáticas, mas há tempo de tela demais e momentos que facilmente poderiam ser encurtados para equilibrar as intrigas interessantes com o dinamismo. Mesmo com ritmo lento, a trama corre desesperada para cobrir todos os anos essenciais e, por vezes, falha no seu recorte.

A direção

Assim como a própria marca que dá título ao filme, tudo é exagerado e ultrajante, desde o design de produção até a fotografia e o figurino. Cada detalhe ostenta o luxo extravagante da Gucci e o comando de Ridley Scott (Alien, Prometheus) parece retirar todas essas peças glamorosas do guarda-roupa e reuní-las sob um olhar atento e respeitoso à forma ideal de como essa história controversa precisa ser contada.

O cineasta tem se mostrado excelente em obras dramáticas e conseguido lidar com temas contemporâneos com bastante maestria. Dessa vez, há um bom equilíbrio entre o vilanismo e ambos os lados – incluindo a própria Patrizia – possuem argumentos coerentes que sustentam seus pontos de vistas divergentes. Mesmo sendo a mandante do crime – e consequentemente pagando um preço alto por isso – nem toda a sua loucura por grandeza estava equivocada. No entanto, o roteiro foca tanto em outros aspectos narrativos, que minimiza o mais importante: as motivações. Algo que pode deixar o público não familiarizado com essa história relativamente confuso.

Conclusão

Dessa forma, Casa Gucci suplica por prêmios ao ostentar elenco fantástico e a performance estelar de Lady Gaga em seu drama dark, ácido e repleto de exageros. Ainda que dilatado pelo excesso de subtramas, a jornada pela luxuosa e patética família que criou um majestoso império não deixa de ser divertida e intrigante, mas lenta e sem foco. Afinal, uma fofoca bem contada – e pelo olhar de um cineasta ímpar como Ridley Scott – nunca sai de moda. O entretenimento de qualidade e o senso de humor sombrio sem dúvida salvam Casa Gucci de, assim como sua marca, cair na cafonice.

NOTA: 7/10


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