Crítica | Uma Noite de Crime: A Fronteira condensa a essência, mas repete a fórmula

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Com a justificativa de ser o capítulo final, o desfecho da trama que teve início lá em 2013 e que, de fato, alimentou o imaginário do público ao criar uma distopia em que – por uma única noite – todo e qualquer crime é permitido nos EUA sem que haja punição perante à lei, Uma Noite de Crime: A Fronteira (The Forever Purge) é o episódio cinco, mas soa como o mais maduro em suas questões sociais e na coragem de seu tema central: a xenofobia que os americanos conservadores possuem por estrangeiros, em especial, mexicanos e latinos.

Porém, enquanto assume certo grau de maturidade – alimentado pelo fiasco do terrível governo Trump que, aliás, sempre serviu de parâmetro para construir os absurdos dos filmes anteriores – a trama não demostra nenhuma evolução significativa e a fórmula segue sendo repetida inúmeras vezes, sem novidades ou surpresas que façam esse final ser satisfatório. Sem ter para onde correr, a premissa estende seu idealismo para além de uma noite e mostra que o problema é constante e durará para sempre.

A trama e o elenco

A trama de Uma Noite de Crime: A Fronteira começa quando acompanhamos a história de Juan (Tenoch Huerta) e Adela (Ana de la Reguera), trabalhando em uma fazenda no Texas depois de escapar de um cartel de drogas no México. O lugar, apesar de seguro, não é hospitaleiro e Dylan (Josh Lucas), o filho do proprietário do rancho, transparece sua aversão por estrangeiros.

Após uma das tradicionais noites de expurgo, eles descobrem que a criminalidade está fora do controle do governo e a única forma de sobreviver nos EUA não sendo branco é fugir para o México ou Canadá. E é daí que o enredo se desenvolve, numa viagem desenfreada para a salvação enquanto o EUA entra no colapso do conservadorismo.

Ainda repleto de violência e loucura, a trama até explora bem seus protagonistas e toma o rumo de não vilanizar os patrões brancos e nativos, ao invés disso, agrega a velha dose da “síndrome do branco salvador”, certamente para fugir dos estereótipos e possíveis taxações de hipocrisia.

Com a noite de crime fora de controle, resta apenas lutar para sobreviver antes que seja tarde demais. Nessa questão, a franquia acerta em mostrar o motivo pelo qual o expurgo (e todos os seus danos colaterais) é tão absurdamente implausível no mundo real e como a violência (ou o porte de armas) nunca é a solução, afinal, o problema está enraizado nas camadas mais profundas da sociedade e governos autoritários – como Trump e Bolsonaro – só são meros condutores para todo o mal e ódio coletivo pelas minorias.

Ainda que desperte o sanguinário e crie cenas de ação com isso, o filme sabe de sua responsabilidade com o tema em questão e busca ser o mais coerente possível. As ironias e a sátira de uma América besuntada no mais puro caos funcionam e as reflexões vão além de sua narrativa desenfreada à la Mad Max. O elenco feminino – que inclui Ana de la Reguera e Leven Rambin – está ótimo, de longe, um dos melhores da franquia.

A direção

O diretor Everardo Gout opta por trabalhar melhor as reflexões políticas e o drama social do que entregar cenas agonizantes e impetuosas de suspense como nos filmes anteriores. De fato, a franquia decai conforme avança e esse desfecho não a salva do repeteco ou dá alguma injeção de ânimo ou criatividade, pelo contrário, apenas prova que a história já se esgotou e que o melhor agora é deixar sua mensagem repercutir antes de ser revisitada.

O ritmo acelerado e os cortes agressivos, por pior que possa parecer, acaba funcionando dentro dessa trama. Porém, a fotografia amarelada (e escura em cenas de ação) reforça o estereótipo de obras do gênero e a direção perde a oportunidade de subverter alguns clichês convencionais, talvez pelo baixo orçamento, talvez pela falta de maestria do cineasta. O longa sempre tenta atingir um patamar maior do que é capaz de sequer alcançar. Enquanto cresce na ação, deixa o seu típico horror de lado e certamente deve perder parte de seu público.

Conclusão

Mais maduro em sua crítica social e corajoso na mensagem que deseja passar, Uma Noite de Crime: A Fronteira encerra a franquia com muito mais ação do que horror, enquanto dilui pelo caminho a formula repetida do sucesso de um roteiro sem nuances ou mesmo fôlego para ir além do óbvio. O desfecho condensa a essência visceral e selvagem que fez Uma Noite de Crime chamar a atenção do público, mas passa longe de terminar satisfatório. A bagunça sanguinolenta do expurgo eterno comprova que as ideias se esgotaram e que já passou da hora de acabar.

Nota: 6/10

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