Crítica | Velozes e Furiosos 9 – Ação selvagem em começo do fim preguiçoso

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É difícil imaginar quais peripécias ainda faltam acontecer para que a franquia Velozes e Furiosos – que se iniciou 20 anos atrás sem pretensão alguma de se tornar uma das mais lucrativas da história do cinema – possa alcançar seu clímax em Velozes e Furiosos 9, após 8 filmes, um spin-off e alguns curtas, uma vez que a linha que beira o absurdo já foi ultrapassada inúmeras vezes e, para os fãs fiéis dessa saga, quanto mais incoerente, mais espetacular é a experiência de assistir a esses blockbusters desenfreados. Porém, com a idade vem também a maturidade e não dá para ignorar que toda história, seja ela boa ou não, necessita terminar.

O novo capítulo, Velozes e Furiosos 9 (F9: The Fast Saga), surpreendentemente realça a convencional ação alucinante ao nível estratosférico – sim, eles vão ao espaço! -, mas também compreende a necessidade de dar um passo maior ao se aprofundar no drama de seus personagens para oferecer esse start à despedida que deve durar por mais dois filmes, encerrando, ainda com gás (ou gasolina), uma franquia que nunca deixou de agradar seu público. Mas será que esse começo do fim agrega alguma novidade?

A trama e o elenco

Bom, definitivamente é perceptível o clima de despedida da franquia desde o começo desse novo capítulo – que inicia um arco que cobrirá uma trilogia e deve se encerrar com o 11º filme, já anunciado para sair nos próximos anos. Dessa vez, Dom Toretto (Vin Diesel) assume com mais vigor o manto de protagonista deixado após a partida de Paul Walker e logo nos primeiros minutos acompanhamos sua vida pacata de civil como um pai de família longe das corridas, tiroteios e tramas malignas que estava acostumado a ter. Porém, é claro, esse sossego dura pouco e ele e Letty (Michelle Rodriguez) se unem ao grupo com o intuito de salvar o mundo de uma poderosa e megalomaníaca ameaça global.

Dessa premissa totalmente voltada para ficção científica, o roteiro – que parece ter sido escrito com um checklist do lado de tudo que deveria ter na estrutura de uma jornada clássica – proporciona flashbacks do passado obscuro de Dom para introduzir os elementos – incluindo um irmão desconhecido chamado Jakob, vivido por John Cena (Bumblebee) – que irão germinar nos conflitos centrais da trama e nas rixas familiares que juram carregar drama e emoção.

Está aí algo que a franquia faz com frequência: jogar uma tonelada de retcon na cara do público e fazer digerir sem água. A cada novo filme, algo ou alguém do passado é corrigido/mudado sem grandes explicações, no melhor modelo “é assim e pronto!”. Essas ramificações, facilitadas por um roteiro que ama continuidade retroativa, agregam parentes que não existiam antes, reviravoltas mal construídas e o resgate de personagens falecidos do mundo dos mortos, como vemos nesse filme com Han (Sung Kang), que havia partido em Desafio em Tóquio (2006) e que retorna com uma justificativa bastante fajuta – ainda com direito a um flashback sacana sobre como sobreviveu ao acidente que o “matou” e o que estava fazendo até o momento.

Através disso, a trama até expande sua história minúscula para lacunas que poderiam ser preenchidas e que completam as falhas de tantos filmes e tantos roteiristas diferentes. A sensação é de que cada novo filme serve para deixar o anterior menos incoerente. Essas decisões sem inventividade provam (ainda mais!) que o futuro da saga está apenas em explorar e mudar o passado e nada além disso.

O tempo inteiro o roteiro manipula o destino de seus personagens para provocar o público, mesmo sabendo que são blindados por inúmeras conveniências. Aliás, até existe neste filme um senso de ridículo sobre todos saírem ilesos de acidentes que certamente destruiriam um corpo humano normal.

Parte do humor da trama – e do personagem de Tyrese Gibson – está exatamente nesse questionamento, que arranca algumas boas risadas e prova, de uma vez por todas, o quão pouco se importando com a coerência os roteiristas estão de fato. Ou seja, dentro dessa insanidade já esperada, a trama acerta em mergulhar mais fundo em questões familiares, especialmente para alinhar subtramas desconexas, mas usa e abusa de artifícios baratos no desenvolvimento do enredo raso que, convenhamos, é apenas uma justificativa para colocar carros indestrutíveis em cenários globais perigosos.

Com um novo “MacGuffin” para almejar antes que o mundo seja destruído – é sério! – os protagonistas ganham pequenas evoluções pessoais, mas, de modo geral, nada caminha para lugar algum. Haja suspensão da descrença para fazer tanta presepada ter algum sentido.

Fora isso, são personagens demais para pouco tempo de tela, como Helen Mirren, coitada, que visivelmente cumpre apenas contrato e dá o ar de sua graça em uma cena apressada e sem necessidade de existir – isso para não mencionar o plot imbecil que deram para a vilã vivida por Charlize Theron. Enquanto Diesel ganha a maior parte do desenvolvimento, sobra pouco para os demais personagens e menos ainda para os secundários. Han, vendido como a grande surpresa, mal aparece e talvez a rapper Cardi B tenha mais falas do que ele.

Por outro lado, Nathalie Emmanuel (Game of Thrones) rouba a atenção e protagoniza uma das mais memoráveis e desajeitada cenas de ação da franquia: uma perseguição insana pelas ruas de Londres com a ajuda de um aparelho magnético potente (aliás, se não fosse por esses imãs, praticamente nenhuma cena de ação teria ocorrido nesse filme). A atriz está ótima, divertida e reforça a necessidade de as personagens femininas terem mais destaque na franquia e serem menos mergulhadas em estereótipos ultrapassados.

A direção

A condução de Justin Lin em Velozes e Furiosos 9 mostra certa maturidade em relação aos outros filmes da franquia que havia comandado no passado. Apesar de desenfreado, o ritmo é bom e mantém a energia no topo do começo ao fim, mesmo com eventuais cenas dramáticas salpicadas no meio. As perseguições e as cenas de luta são divertidas, instigantes e bem mais elaboradas do que nos filmes anteriores.

Até os efeitos especais, dessa vez mais práticos, estão melhores e mais convincentes. Obviamente parte da ação cai na repetição e o cineasta parece não desejar fugir desse modelo que tem dado certo (ou pelo menos aparenta ter). As inúmeras influências de James Bond e Missão: Impossível certamente agregam mais qualidade de produção, e até mostram certa ousadia da franquia em transformar essa trilogia final em algo mais marcante e engendrado, mesmo com todas as falhas e previsibilidades do roteiro que já foram citadas aqui.

Os cenários são deslumbrantes, a fotografia está menos amarelada e mais viva e, apesar de faltar uma música-tema forte, a trilha sonora score preenche bem os momentos mais agitados e ajuda na imersão.

Conclusão

Com uma dose extra de ação e desafios selvagens e uma visível evolução na grandiosidade de seu enredo limitado, Velozes e Furiosos 9 oferta tudo que os fãs podem desejar e mais um pouco nesse dramático começo do fim da franquia, porém, haja suspensão da descrença para digerir tantos absurdos ilógicos em apenas um filme – e olha que estamos falando de uma Saga que já experimentou inúmeras insanidades.

O mais puro elixir extraído do entretenimento cinematográfico que não se esforça para ser nada além de uma montanha-russa de ação desenfreada, com um roteiro tão preguiçoso, que até ir ao espaço de carro faz total sentido. A ação é boa, a direção é madura, o elenco luta por espaço em tela, mas, apesar da Saga ainda ter gasolina para ir um pouco mais além, o caminho para o ferro-velho parece ser a rota mais apropriada.

Nota: 6/10

Aviso: O filme possui uma cena-pós créditos em que mostra o retorno de mais um personagem famoso e um possível acerto de contas que deve ocorrer no próximo filme.

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