Crítica | Cabras da Peste – “Buddy cop” com sabor de rapadura

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A diversidade cultural do cinema brasileiro é tão absurdamente grande, que o mesmo país que proporciona uma experiência como Bacurau, também entrega obras como Cabras da Peste, da Netflix. Para nossa sorte, cada produção mostra uma vertente peculiar de um Brasil heterogêneo e que serve, entre outras coisas, para que possamos nos reconectar com o que nós somos antes de valorizar apenas o cinema estrangeiro. Pois é, feliz é aquele que sabe aproveitar todas as aventuras sem ter a conflitante “síndrome de vira-lata”, afinal, cinema nasceu como arte escapista e se tem uma coisa que o humor brasileiro sabe fazer, é escapar das amarras, especialmente em um país com proporções continentais cujo Governo não valoriza e incentiva sua própria cultura.

A trama e o elenco

No melhor estilo paródia de filmes policiais como Bad Boys, a trama arrisca uma temática ainda muito nova para o cinema nacional e coloca seus protagonistas em uma aventura divertidíssima, que vai do Nordeste à São Paulo sem perder seu ritmo cômico. No enredo, Bruceuilis (sim, é este nome mesmo!), vivido pelo ótimo Edmilson Filho (Cine Holliúdy), é um policial dedicado do interior do Ceará que viaja até São Paulo para resgatar Celestina, uma cabra considerada patrimônio de cidade. Na capital paulista, ele encontra Trindade (Matheus Nachtergaele), um escrivão da polícia que decide sair do tédio de seu trabalho e ajudá-lo na aventura, mesmo que coloque sua vida em perigo. Entre máfias perigosas e lutas acrobáticas, a dupla improvável precisa provar para todos que são imbatíveis juntos – e ainda combater o crime organizado. Como podemos ver, não tem como uma trama tão cínica e clichê como essa dar errado, tem?

Sem dúvida, o timing cômico de Edmilson Filho torna toda a presepada ainda mais hilária, sem contar a ótima química com Nachtergaele, um ator repleto de carisma. O senso de humor das piadas e das situações absurdas mostra total liberdade do elenco de improvisar e arriscar fugir do roteiro em alguns momentos, algo que, curiosamente, deixa a premissa quase verossímil, se não fosse pela enxurrada – bem-vinda – de circunstâncias nonsense que conduzem a trama para frente, muito por conta também das divertidas participações especiais ao longo do percurso. Já Letícia Lima (Vai que Cola), com seu humor naturalmente irônico, rouba a cena em muitos momentos e é realmente difícil que não arranque uma gargalhada que seja do espectador.

A direção

Como sabemos, é preciso saber construir para se desconstruir. E isso o diretor Vitor Brandt (Historietas Assombradas – O Filme) faz com muita maestria em Cabras da Peste. Além da ótima condução de ritmo, que não permite que a trama se perca dentro de si mesma, o diretor replica e destrincha cenas clichês do cinema de ação mundial e dá aquela saborosa pitadinha de ridículo, que transforma cada momento em puro entretenimento. Para seu segundo filme, é perceptível a evolução em sua narrativa e o trabalho está realmente mais aguçado e inteligente do que o monótono Copa de Elite. Certamente a chave para essa boa química da equipe e o pleno funcionamento de todas as engrenagens está na liberdade que dá ao elenco e na ausência de medo de fazer o humor escrachado mais pastelão possível, até mesmo nos falsos efeitos especiais e nas cenas de ação com suas limitações.

Conclusão

Com isso, a nova comédia original da Netflix, Cabras da Peste, mergulha no cítrico humor nordestino para entregar um “buddy cop” com sabor de rapadura. O roteiro – bastante peculiar – funciona dentro de seus clichês e situações hilárias sem que haja perda significativa de qualidade ao longo do caminho, restando apenas uma comédia insanamente estúpida, que nos faz lembrar do inigualável humor brasileiro e de como nós precisamos rir mais nesses tempos sombrios. Se você busca uma pausa escapista da realidade triste que o mundo está vivendo, esse filme vai te trazer o calor no coração que só o cinema nacional sabe fazer.

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