Crítica | Star Wars: A Ascensão Skywalker é grandioso mas, a saga merecia um final menos apressado

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A responsabilidade de encerrar uma saga que está completando mais de 40 anos é tão grandiosa quanto o tamanho de sua produção. Na verdade, é impossível citar a franquia Star Wars sem ressaltar sua magnitude e, principalmente, sua importância para a cultura pop e a história do cinema. Dessa forma, se torna ainda mais intenso desenvolver um desfecho que possa agradar as gerações de fãs e, ao mesmo tempo, não decair em qualidade técnica em relação aos filmes anteriores. Como não se pode ter tudo, ‘Star Wars: A Ascensão Skywalker’ consegue corrigir erros do passado com maestria, mas também comete novos deslizes que afetam o resultado. As mãos astutas e criativas de J.J. Abrams pesa na direção e se perde pelo caminho ao lidar com tamanha magnificência que é dar adeus a tantos personagens adorados pelo público.

É realmente um final? Sim, o desfecho da jornada de Rey (Daisy Ridley) é o foco da trama, ainda mais forte do que a conclusão de outros elementos da Saga. Essa trilogia comandada pela Disney é sobre ela acima de qualquer coisa. Nesse quesito, o roteiro é eficiente e a coloca em diversas situações que provam seu valor dentro da franquia, porém, a sensação de que é história demais para ser resolvida em apenas um filme, é evidente. Tanto o roteiro abarrotado de informação, subtramas e reencontros gratuitos, quanto a direção corrida e picotada de Abrams, fracassam em contar uma história realmente consistente, ou seja, todas as pontas soltas são amarradas e todos os personagens principais possuem seus devidos desfechos, agora, se isso é realizado de forma satisfatória, é outra história.

Se por um lado há um trabalho minúsculo no roteiro, que sobrevive por aparelhos, com ajuda de “deus ex machina” e pula de um ambiente para outro com facilidade, sem contar os protagonistas que sempre estão na hora certa e no lugar certo para encontrar qualquer pequeno elemento que os faça seguir para a próxima aventura interplanetária, por outro, a trama é imergida na imensidão de cenários incríveis em CGI, certamente, os mais belos de toda a Saga. A direção de arte, figurino e a fotografia também, assim como de costume, estão impecáveis e criam ambientes ricos em detalhes como poucos filmes podem fazer. Pena que alguns (como uma celebração colorida e viva em um dos planetas que cruzam os caminhos da história) passam tão apressadamente, que não dá nem tempo de apreciar sua vivacidade.

Esse pulo corrido de uma cena para outra, de um planeta para outro e assim por diante, faz repensar as críticas que o diretor Rian Johnson recebeu pela direção do capítulo anterior, ‘Os Últimos Jedi’, que agora parece bem mais coesa e equilibrada em relação ao trabalho de Abrams neste filme. Além do excesso de cortes, as cenas de ação são sim visualmente incríveis, mas muito mais picotadas que antes, quase confusas às vezes de tantos elementos acontecendo ao mesmo tempo. É, de fato, um turbilhão de informações sendo atirado ao público e isso dificulta profundamente a emoção. As cenas mais profundas e emotivas também são rápidas e não deixam tempo suficiente para que possamos absorvê-las. Porém, como uma boa conclusão de saga, há momentos catárticos de batalhas, reencontros e reviravoltas, feitos para que o público possa aplaudir ou dar gritos no cinema, apesar de ser pura manipulação do roteiro, é difícil não se envolver e celebrar em alguns deles.

Ao deixar de lado a parte técnica e mergulhar as cegas na aventura, o filme é sim emocionante pela carga que carrega consigo e pelo tributo que presta aos seus personagens. O roteiro sabe trabalhar cada um deles com carinho, mas também sabe o ponto fraco do público ao colocá-los em perigo constante mesmo sabendo que o risco de morte beira o nulo. Entre os destaques, o trio Daisy Ridley, John Boyega e Oscar Isaac estão em ação juntos, algo que não acontecia desde ‘O Despertar da Força’. A química deles é contagiante e resgata a essência do trio original formado por Luke, Lea e Han. C-3PO (Anthony Daniels) tem grande destaque dessa vez e funciona como o alívio cômico perfeito, apesar do humor ser parte de cada um dos personagens. Já do outro lado, Adam Driver vive seu melhor momento e, sem dúvida, é a melhor e mais animada participação de Kylo Ren da trilogia.

Outro desequilíbrio da trama está na participação de Carrie Fisher como Lea, obviamente afetada pelo falecimento da atriz durante as gravações. Ainda que tenha sido resolvida de forma até satisfatória e pontuada (sem a ajuda de CGI), sua despedida dentro da história merecia mais atenção e o momento emocional exigia maior destaque. Destaque esse dado ao extremo ao vilão Imperador Palpatine, marcando seu retorno após ter sido “morto” em ‘O Retorno de Jedi’. Sua presença é ainda mais maligna que antes e representa uma forte ameaça, porém, não tão forte assim para necessitar tanta destruição e caos como no clímax da trama. É um vilão megalomaníaco, estúpido e essencialmente sem interesse e profundidade, resgatado apenas para aumentar o fator de risco que não existe mais na franquia faz tempo.

Com isso, é inegável o poder e magnitude de ‘Star Wars: A Ascensão Skywalker’, assim como sua importância para a história do cinema. Exatamente por isso que o encerramento é agridoce e morno. Falhas no roteiro, uma direção apressada e reviravoltas forçadas acabam ofuscando o brilho de, sem dúvida, ser o maior e mais épico Star Wars já feito. Porém, é emocionante, divertido e mostra que a saga vai deixar saudade. Talvez dessa forma, os corações nerds se acalmam e a franquia mais importante de todas possa descansar sob os sois de Tatooine, enquanto a Disney e seu império direcionam o rumo para novas histórias.

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