O retrato dos vampiros no cinema contemporâneo já percorreu tantos caminhos que, francamente, parece que não há mais nada de novo a ser explorado nesse subgênero. No entanto, Abigail, a mais recente empreitada da Universal Pictures, compreende de forma brilhante que a chave para o sucesso está em abraçar o lado galhofa e adicionar uma dose desproporcional de humor ao terror, algo que já vimos recentemente em Renfield, por exemplo.
Os icônicos Monstros da Universal continuam a habitar as telonas mesmo após tanto tempo graças à percepção do estúdio de que o medo dessas criaturas clássicas já não é mais o mesmo, e que investir em uma abordagem cômica pode ser a escolha mais acertada (e lucrativa!). No entanto, não se engane: o filme não poupa em sangue, vísceras e cenas de mutilação, o que adiciona um sabor ainda mais intenso. Abigail entrega exatamente o que promete e, surpreendentemente, vai até mais além.
Índice
Os acertos e erros de Abigail
É claro que apreciar algo tão descontraído requer um paladar cinematográfico mais aberto para os filmes de terrir (uma fusão de terror e comédia). Abigail se inspira no clássico A Filha de Drácula, de 1936, mas, obviamente, reinterpreta essa premissa para os tempos modernos.
Sob a direção da dupla de Pânico VI, Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett, o filme combina elementos de obras como Hotel Transilvânia com a tensão de um suspense policial e resulta em uma mistura surpreendentemente eficaz na tela. Mas certamente é Casamento Sangrento, filme deles de 2019, que é mais reverenciado, ainda que o dito cujo seja um pouco mais selvagem.
Na trama, um bando de criminosos sequestra uma adorável e inocente bailarina de doze anos, filha de um dos mais poderosos magnatas do submundo. Tudo o que precisam fazer para receber um resgate milionário é vigiar a garota durante uma noite. No entanto, numa mansão isolada, os sequestradores começam a desaparecer um por um, confrontados por um horror indescritível ao descobrirem que estão confinados com uma garotinha de natureza nada convencional.
A partir daí, o caos se instaura e a luta pela sobrevivência domina os corredores. Embora apresente alguns furos de roteiro bem visíveis e lacunas sem explicações claras, o filme se destaca quando opta por menos diálogos expositivos. As reviravoltas, de certa forma, são antecipadas, especialmente após termos descoberto pela divulgação dos trailers que a menina não é humana.
No entanto, o filme reserva boas surpresas quanto à carnificina desenfreada que ocorre na propriedade e, ainda mais divertido, um senso de humor que se encaixa perfeitamente na situação caótica. Tanto os personagens quanto o público ficam atônitos, mas mergulham na trama e se divertem ao longo da jornada. A atmosfera das aventuras de Scooby-Doo e os enigmas da mansão mantém nosso interesse do início ao fim.
Os personagens, embora superficiais e bastante clichês, têm seu apelo, principalmente devido à diversidade do grupo de bandidos, cada um com suas próprias motivações financeiras. A jovem bailarina Abigail que dá título ao filme, interpretada com brilhantismo por Alisha Weir (Matilda: O Musical), rouba a cena ao alternar entre a doçura e a loucura, enquanto Melissa Barrera (de Pânico) demonstra que está se consolidando como uma das melhores heroínas dos filmes de terror contemporâneos.
Além disso, o restante do elenco cumpre bem seus papéis. Kathryn Newton (Homem-Formiga) entrega uma performance hilária, Kevin Durand (Gigantes de Aço) diverte como um brutamontes desajeitado, e até o saudoso Angus Cloud (de Euphoria) se entrega ao papel sem receios.
Sem recorrer a flashbacks e oferecendo apenas o essencial de contexto, os cineastas conseguem construir uma atmosfera de suspense que cativa e que culmina em sequências de assassinatos coreografados com passos de balé, talvez uma das mais estranhas e, quem sabe, divertidas do cinema de terror deste ano.
Abigail não revoluciona o gênero dos filmes de vampiros (e nem deseja isso!), embora pareça despreocupado em seguir algumas convenções básicas; no entanto, ganha vida ao zombar de outras produções que se levam a sério demais, como True Blood e Crepúsculo, abraçando a ideia de que, nesta narrativa maluca, tudo é possível. Claro que as inúmeras piruetas extravagantes de Weir se tornam cansativas com o tempo, mas o seu desempenho perverso e feroz brilha especialmente no desfecho do filme.
Veredito
Embora o conceito geral de Abigail possa parecer uma colagem de tantos outros filmes de vampiros que se levam a sério, é o senso de humor afiado que o transforma em uma deliciosa loucura, repleto de piadas tingidas de sangue que conseguem entreter, assustar e cumprir a promessa de um híbrido entre terror e comédia, abraçando o melhor de ambos os gêneros.
Apesar de alguns furos de roteiro e decisões questionáveis na direção, as cenas de morte são hilárias e o elenco é quase impecável em suas escolhas. Acrescente a isso um punhado de sustos bem executados e muita carnificina, e a experiência se torna ainda mais diabolicamente cativante.
NOTA: 8/10
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