Crítica | Mussum, o filmis – Um cacildis de filme

Ao ouvir o nome Mussum, é inevitável não se remeter ao icônico personagem que, domingo após domingo, iluminava as telas da Rede Globo. Em Mussum, o filmis, aclamado no Festival de Gramado e brilhando intensamente no Festival do Rio, somos convidados a embarcar numa viagem cinematográfica que celebra um dos maiores ícones negros da TV brasileira.

Mais que uma volta ao passado, esta cinebiografia é um convite à reflexão sobre os pilares da nossa cultura, situando-se num patamar semelhante à recente obra sobre Claudinho & Buchecha. E, para os fãs de carteirinha, uma garantia: o humor genuíno de Mussum permeia cada cena, tornando o ingresso não apenas uma compra, mas um investimento em risadas e memórias afetivas que vale a ida ao cinema.

A trama e o elenco

Mergulhando no enredo, Mussum, o filmis ilumina a vida de Antônio Carlos Bernardes Gomes, revelando camadas além do Mussum que conhecemos e amamos. A narrativa flui desde sua infância humilde até o estrelato, passando pela sua carreira militar, o amor inabalável pela Mangueira, sua trilha com os Originais do Samba, e os bastidores dos icônicos Trapalhões. Projetado com um elenco primariamente negro, o filme, que levou sete anos para ser escrito, reverbera o legado e a influência de Mussum para inúmeras gerações de artistas periféricos.

Nessa sinfonia de vida, Ailton Graça não só protagoniza, mas personifica Mussum com uma paixão palpável. Sua performance é um espetáculo, irradiando a essência do humorista. Cacau Protásio e Neusa Borges, encarnando a mãe do protagonista, destilam humor e empatia, refletindo as nuances da família brasileira. A direção se permite jogar com os tons, passando de momentos leves para um olhar mais profundo e introspectivo da vida adulta. E se o humor permanece, ele é mesclado com o peso das realidades da vida.

Artisticamente, o filme é uma obra-prima. A direção de arte traz para a tela as icônicas figuras de Chico Anysio, Renato Aragão, Elza Soares e tantos outros com uma precisão impressionante. O olhar de Ailton Graça como Mussum é de arrepiar, com cada gesto meticulosamente recriado.

A trilha sonora, salpicada de clássicos do samba carioca, ressoa como uma melodia nostálgica, enriquecendo cada cena. Sob a batuta de Silvio Guindane (A Divisão), a música não é apenas um elemento, mas uma linguagem, moldando e dando ritmo à história.

O longa definitivamente se consagra com uma vibração única, pintando o retrato de um homem cuja paixão pela vida superou incontáveis obstáculos. Apesar de alguns momentos ritmados de forma desigual, o filme é um hino à perseverança e praticamente tudo funciona como uma verdadeira orquestra.

Veredito

Em conclusão, Mussum, o filmis é uma ode vibrante à excelência negra brasileira. Um lembrete cinematográfico para nunca esquecermos aqueles que pavimentaram o caminho. É emocionante, recheado de nostalgia e salpicado com o humor inconfundível de Mussum. Com este filme, a onda de cinebiografias brasileiras de alta qualidade se solidifica, prestando homenagem sem mascarar a realidade. Lá no céu, Mussum certamente estaria brindando com um “cacildis” ao ver a magistral atuação de Ailton Graça, que faz graça mas jamais deixa a memória de Mussum desvanecer.

NOTA: 9/10

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