Crítica | Final de Sex Education traz lição sobre aceitação e crescimento

Na sala de aula da vida, Sex Education nos deu uma lição jamais vamos esquecer. E na sua quarta e última temporada, a série da Netflix prova que não é apenas mais um conto adolescente genérico ou uma Malhação inglesa, mas uma comédia com bastante coração, alma, leveza e, claro, algumas risadas desajeitadas. Entre pontos altos e alguns nem tanto assim, a trama chega ao seu ápice, mas encerra com aquele gostinho bom de recaída com o ex que é impossível de evitar.

Retornando para o último ato, a turma da Moordale nos guia por um corredor de desafios adolescentes repletos de desentendimentos e novas conexões, tanto emocionais quanto sexuais. A série é tão profundamente complexa e honesta com seus múltiplos personagens – extremamente diferentes entre si – que valoriza as conexões reais mais do que a conectividade do mundo virtual. E isso, dentro de uma série teen, é praticamente uma inovação.

Mas, para alegria de todos os fãs de longa data, o charme do elenco segue intacto, mesmo com o desânimo do desfecho, e são por eles que nós ainda estamos presos nesse aulão sobre afeto. Sex Education nunca foi, de fato, sobre ensinar alguém a transar com maestria, mas sim sobre aprender a se amar antes de amar qualquer outra pessoa. Essa mensagem nunca perdeu sua essência pelo caminho.

O segredo por trás da série não é apenas a comédia afiáda e ácida, por vezes bastante corajosa, mas o jeito que ela transforma risos bobos em reflexões poderosas. Por baixo do véu de situações absurdas da complexidade adolescente, a história destila compaixão, abordando temas como trauma e solidão com uma maturidade que sempre mereceu nota dez.

No entanto, nem todos marcaram presença nesta última chamada. Algumas ausências são sentidas, como a de Patricia Allison, Mikael Persbrandt e Tanya Reynolds. As cadeiras de Ola, Jakob e Lily podem estar vazias, mas elas abrem espaço para novas histórias – algo que, no fim, é bom. Jean (Gillian Anderson) embarca em uma jornada emocional, resgatando ecos do passado e traçando paralelos inesperados agora que é mãe pela segunda vez e precisa conciliar sua vida bagunçada com o fato de ter um bebê em casa. Mais uma vez, Anderson é o farol que ilumina toda a produção.

Dessa vez, com a missão de encerrar ciclos e direcionar os perosnagens para o que vem por aí no futuro pós-ensino médio, a cada episódio, a série nos lembra que crescer é complicado, mas o faz com um toque leve e muitas vezes hilário. Otis (Asa Butterfield é puro carisma e faz cenas corajosas de nudez) enfrenta os altos e baixos de um relacionamento à distância com Maeve (Emma Mackey), enquanto tenta entender as novas emoções deixadas por sua mãe, Jean. Cada tropeço, cada texto mal interpretado, se transforma em uma lição sobre amor, aceitação e crescimento.

Enquanto a polêmica Moordale fecha suas portas, Cavendish College abre as suas, revelando um mundo mais progressista e inclusivo – praticamente utópico de tão perfeito. Mas nem tudo são flores neste novo jardim. Otis descobre que não é o único “especialista” em sexo no campus, enquanto Eric (Ncuti Gatwa segue sendo a mellhor coisa dessa série) encontra em Cavendish um terreno fértil para sua autoaceitação e evolução pessoal. Os meninos já estão crescidos e agora a responsabilidade bate à porta.

As narrativas paralelas são o coração pulsante desta temporada – que corre atrás do prejuízo narrativo da anterior e foca no que realmente importa. De Eric, em sua trajetória de autoaceitação na igreja sendo um homem negro e gay, a Adam (Connor Swindells) enfrentando os desafios da autoestima, cada história é contada com sensibilidade e profundidade que impressiona. E enquanto alguns personagens trilham caminhos separados, a amizade e a união prevalecem e alimenta o tom de despedida, com cada um pronto para seguir seus caminhos espinhosos.

O complexo jogo amoroso entre Otis e Maeve sempre foi um ponto alto da história desde o começo e agora dita o arco final. Entre encontros e desencontros, Sex Education entrega um desfecho agridoce, mostrando que o amor pode ser tão complicado quanto uma equação matemática, mas igualmente gratificante quando resolvido. Na hora de dizer adeus, a série nos oferece um olhar para o futuro de cada personagem, e enquanto alguns destinos permanecem em aberto, outros nos dão esperança e confiança de que, no fim, tudo ficará bem com essas pessoas que tanto aprendemos a amar.

Veredito

Por fim, Sex Education encerra sua jornada não como uma mera aula, mas como uma verdadeira graduação em emoção, humor e sensibilidade singular. Virando clichês do avesso e entregando momentos tanto de gargalhadas quanto de reflexão, esta série se consagra como uma das comédias adolescentes mais autênticas e corajosas já feitas. Afinal, a melhor lição que ela nos deixa é que a verdadeira educação vem do coração. Sem dúvida vai deixar saudade, mas, como um bom relacionamento saudável, já estava na hora de terminar enquanto ainda há amor.

NOTA: 8/10

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