Crítica | Velozes e Furiosos 10 – Quando o limite de velocidade é a criatividade

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E depois de 22 anos e 10 filmes, a saga Velozes e Furiosos ainda consegue surpreender no quesito absurdo. Um verdadeiro “milagre” da longevidade cinematográfica que ultrapassa qualquer limite da razão e leis da física, certamente uma franquia que Isaac Newton teria feito inúmeras críticas negativas em seu Letterboxd. Mas não seria esse excesso de estupidez o charme da saga? Bom, ao menos essa é a principal linha de defesa do público-alvo para justificar tanta maluquice.

Quer dizer, se você chegou até aqui, possivelmente já deve ter parado de questionar as capacidades sobre-humanas de Vin Diesel e sua turma de corredores. E talvez seja esse o tal segredo da diversão, porém, tudo tem seu limite, especialmente quando se trata de proporcionar uma despedida adequada ao tão falado legado que a franquia tanto gosta de reverenciar.

Velozes e Furiosos 10 vem com a promessa de ser o começo do fim da franquia, mas nem mesmo o filme em si tem um final. Mais do que nunca acelera numa trama sem rumo, em uma história totalmente descartável e bagunçada ao extremo, encapada com sua sedução habitual. Acionem o Procon, pois se você espera por um desfecho, vai ter que pagar para ver mais alguns filmes depois desse e olhe lá.

A trama e o elenco

Velozes e Furiosos é arte escapista e está tudo bem ter seus surtos. Cinema é, acima de qualquer coisa, um produto que precisa ser vendido. Mas o grande problema da saga é, na verdade, o apego emocional surreal, seja ao elenco que topou fazer parte ou ao universo que criou ao longo dos anos. Cada novo filme desfaz um feito marcante do anterior e nada – absolutamente nada – parece ter peso ou consequência. É só um amontoado de reviravoltas bizarras e retornos que testam a inteligência dos fãs. Se até mesmo o falecido Paul Walker ainda faz pontas significativas na história, imagina se não vão trazer de volta quem ainda está vivo. Tanta palhaçada e continuidade retroativa que chega perder o ânimo de assistir.

E é isso, a saga perdeu sua energia faz alguns anos e nem mesmo a diversão justifica um roteiro tão ruim assim depois de um nono capítulo que parecia dar rumo aos personagens e encaminhar a saga para o desfecho que deveria ter sido neste filme agora. Para piorar, somos levados de volta ao Rio de Janeiro em boa parte da história e a participação do Brasil é maior do que se esperava, sendo bizarramente estereotipada e clichê em pleno 2023.

Não tem como não se ofender com essa visão estrangeira do país. Claramente feito para atrair o público – e a bilheteria – daqui quando, na realidade, nem mesmo o elenco se prestou a vir gravar em nossas terras. Essa mistura de CGI com drones, com mulheres seminuas, funk, favela e Ludmilla parece ter sido escrita pelo ChatGPT ou quem sabe por uma criança gringa de 11 anos fã do Brasil e Copa do Mundo. Vergonhoso e humilhante. Soma tudo isso ao pior vilão que você verá esse ano, vivido por Jason Momoa, e temos um insulto chamado de filme, desprovido de qualquer senso de ridículo.

Mas para constar, a história começa alguns anos no passado para mostrar a construção vilanesca de Dante de Jason Momoa no Rio e como ele representa a maior ameaça já enfrentada pela equipe até hoje, sem que haja qualquer justificativa plausível para essa afirmação. Ele é apenas eloquente e gosta de ver o caos acontecer, mas seu senso de humor patético o faz parecer muito mais um bobão do que uma intimidação em si. Já nos dias atuais, a grande família de Dominic Toretto é separada e precisa lutar para sobreviver mais uma vez, em diferentes países e com reviravoltas tiradas da cartola mágica do roteirista doidão e através da condução exageradíssima de Louis Leterrier (Carga Explosiva 2).

Com o retorno de todos – eu disse todos – os astros e estrelas dos filmes anteriores e mais algumas adições como Brie Larson, a trama parece massiva e não sai do lugar de tanta gente para explorar e dar fala. Nenhuma piada realmente decola e, mesmo com a forçação de barra para chorar quando Diesel fala mais uma vez de família e legado, é difícil se envolver emocionalmente com a história.

Além disso, a qualidade dos efeitos especiais é extremamente decepcionante para uma das franquias de maior bilheteria todo santo ano. Os efeitos são notavelmente artificiais e pouco convincentes. É como se estivéssemos assistindo a um filme de baixo orçamento, onde cada explosão e cada perseguição se tornam uma lembrança dolorosa da falta de cuidado na parte técnica.

O humor ultrapassado também é uma falha catastrófica do filme. As piadas forçadas e previsíveis parecem ter sido tiradas de um manual de comédia dos anos 90. O elenco tenta desesperadamente trazer algum carisma aos personagens, mas os diálogos e situações cômicas são tão desgastados que acabam gerando mais constrangimento do que risadas. Sem contar que depender do limitado Vin Diesel para carregar o lado dramático da história é como pedir para uma pedra chorar.

O ator parece estar preso em um loop de expressões faciais limitadas, e os demais membros do elenco são subutilizados em papéis unidimensionais. É uma pena ver atores com potencial sendo desperdiçados em personagens sem profundidade ou desenvolvimento. Apesar de uma participação menor, John Cena (O Pacificador) talvez seja o único membro do elenco que mais agrega e entretém durante sua aventura para proteger o filho de Toretto.

A falta de um final adequado para o filme também é um ponto questionável. Ao invés de fechar a história de forma satisfatória, Velozes e Furiosos 10 opta por deixar tudo em aberto, criando um gancho ainda maior para continuar em futuras partes. Essa abordagem é claramente uma estratégia para prolongar a franquia e explorar ao máximo seu potencial comercial, mas acaba sacrificando a experiência do espectador, que fica com a sensação de que o filme não passa de um episódio prolongado de uma série de TV que será renovada a cada ano só por conta da audiência. Ao invés de corrigir erros e se redimir de problemas, com o passar dos anos a saga parece se afundar ainda mais em tudo que a torna desnecessária.

Veredito

Enquanto os carros correm, o roteiro fica para trás. Velozes e Furiosos 10 é a pura fórmula do desgaste de uma franquia que não para de se repetir e se recusa a encerrar. Com absurdos convencionais na trama, efeitos especiais de baixa qualidade, humor ultrapassado, falta de final e atuações pouco inspiradas, o filme decepciona em praticamente todos os aspectos, mas parece ser pior quando depende das limitações de Vin Diesel para emocionar. A saga da família mais desconexa do cinema já deveria ter se aposentado faz tempo, afinal, corre em círculos desde 2001. Já acabou a gasolina e a criatividade foi junto.

Com isso, o capítulo 10 acelera para o abismo do ridículo e parece realçar ainda mais todos os inúmeros problemas dos filmes anteriores. Um começo amargo de um fim que não deve chegar nunca e um lembrete triste de como uma série de filmes que já foi emocionante e inovadora pode se tornar uma sombra de seu antigo sucesso. Com exceção de poucas sequências de ação realmente divertidas, o filme derrapa direto para a desilusão.

NOTA: 4/10

Leia também: Entenda o que acontece na POLÊMICA cena pós-créditos de Velozes e Furiosos 10


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