Crítica | Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania – Já era hora do herói crescer

Publicidade

Antes de qualquer coisa, é interessante ressaltar como a franquia Homem-Formiga cresceu (perdão o trocadilho!). O que começou lá em 2015 quase como a primeira comédia romântica da Marvel, agora fecha sua trilogia em Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania com um tom de épico “espacial” aos moldes Star Wars. Houve sim espaço para esse crescimento e bastante desenvolvimento do herói e seu núcleo familiar durante as incursões em outros filmes alheios, especialmente após o peso dramático que foi Vingadores: Ultimato, porém, será mesmo que Scott Lang e suas bobeiras segura tal evolução?

Bom, ao menos é perceptível o esforço da Marvel Studios em transformar a franquia mais limitada da casa em seu novo sucesso de bilheteria adequado, ainda que tardio, uma vez que Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania parece ditar o que deve ser o futuro do MCU e o início da Fase 5, ou seja, pequenos poderes agora trazem grandes responsabilidades.

A chamada Saga do Multiverso – que sucede a Saga do Infinito – ainda não encontrou seu tom e nem mesmo parece ser tão empolgante quanto a anterior, porém, fica claro que todos estão dispostos a correr alto riscos para minimamente replicar o sucesso e o impacto do passado dentro desse futuro incerto. E, para alegria de muitos fãs, este novo filme consegue superdimensionar esta aventura enquanto ainda mantém o humor desajeitado pelo público.

A trama e o elenco

Mas nem sempre ser Star Wars significa ser bom, aliás, quase nunca a comparação faz jus ao peso da franquia estelar. Quantumania apenas quer ser algo que não tem coragem de assumir e, com isso, cresce tanto em relação ao que a franquia era nos filmes anteriores que a pressa por algo “maior e melhor” faz com que alguns personagens, ideias e enredos interessantes sejam perdidos pelo caminho. A graça salvadora é o desempenho espetacular de Jonathan Majors como o arrepiante novo vilão Kang, mas nem mesmo ele pode vencer a tendência do MCU de atrapalhar a simplicidade de algo em prol dessa necessidade besta de refazer o nível de efeito de Ultimato.

Dentro dessa correria, o enredo não perde tanto tempo em reexplicar as tramas de seus personagens e a dinâmica constrangedora da família Pym/Lang, algo que até funciona para o dinamismo da história, que logo salta para a viagem fantástica e perigosa ao Reino Quântico. Mas vale ressaltar que boa parte do drama deste filme está no complexo relacionamento de Scott com sua bem-intencionada filha rebelde Cassie (vivida pela ótima Kathryn Newton).

Este é o ponto emocional crucial para mover toda a narrativa pra frente. Original? Nem de perto! Mas condizente com a essência familiar da Marvel. Esse drama pode soar raso no meio de tantas boas sequências de ação, mas sem dúvida é a base para que o roteiro possa funcionar sem as incompatibilidades de filmes recentes, como Doutor Estranho 2 e Thor: Amor e Trovão.

Infelizmente, Michael Douglas não tem muito o que fazer desta vez, e há ainda menos para Vespa de Evangeline Lilly – o que parece estranho para uma personagem mencionada no título. A surpresa mais agradável vem mesmo do papel dado a Janet van Dyne, de Michelle Pfeiffer, que finalmente lida com o trauma do que aconteceu com ela durante esses 30 anos no Reino Quântico com uma atuação reservada e poderosa. Depois de sua aparição muito curta no último filme, é muito bem-vindo para Janet assumir um papel de liderança desta vez. Ao lado de Majors, ela é o ponto alto das performances.

E por falar em Kang, já conhecemos uma de suas variantes no desfecho da 1ª temporada de Loki, mas dessa vez Majors acerta o tom sombrio e sinistro e entrega um olhar penetrante e impiedoso para compor este que deve ser o grande novo antagonista dos Vingadores por um bom tempo. Não tem o nível de ameaça e nem justificativa de Thanos, mas ainda assim promete bons momentos de caos ao mundinho dos super-heróis. Há muitos poderes para serem explorados e o ator/vilão não deve fazer feio. E como ambos os personagens estão em absurdos níveis diferentes de poder, o diretor Peyton Reed encontra maneiras divertidas de dar uma chance ao herói protagonista e, com isso, cria cenas de ação criativas e espetaculares.

Em relação ao visual “cgizado” desse filme, realmente alguns efeitos especiais precários fazem Pequenos Espiões parecer uma obra digna de Oscar, mas nem tudo é péssimo, especialmente quando se trata de algumas criaturas feitas com maquiagem e cenários retirados diretamente de algum planeta bizarro de Star Wars ou Mundo Estranho, da Disney. Quase toda a história se passa dentro do Reino Quântico, um lugar maluquíssimo onde os seres têm cabeças de brócolis e usam mitocôndrias voadoras para transporte. Embora haja muitas coisas de ficção científica nunca antes vistas no MCU, aparentemente não há rima ou razão por trás de nada disso, então tudo parece uma vitrine gerada por computador apenas para impressionar visualmente. Falta identidade – e um trabalho bem melhor da fotografia.

Encontramos um bando de personagens secundários no Reino Quântico, mas assim como todo o lugar, eles não acrescentam muito à história além de algumas piadas bobinhas e uma maneira leve de mover a trama adiante. Ninguém incorpora essa questão mais do que o personagem de Bill Murray, que deve ter cerca de 5 minutos de tela e não faz a menor diferença. Aliás, poucos fazem. Por incrível que pareça, talvez seja o risível MODOK (ex-Jaqueta Amarela de Corey Stoll) que tenha o melhor desenvolvimento ao longo da trama.

A mesma questão do subdesenvolvimento pode ser sentida no tema da luta contra a opressão. Cassie é motivada pelo desejo de enfrentar aqueles que estão no poder, e Kang é um ditador louco por poder, mas Quantumania não para para explorar nenhuma dessas ideias mais a fundo. Cada motivação e desejo de vingança é frustrante, soa raso, superficial e passa batido pela ausência de tempo.

Veredito

Ainda que manifeste a queda vertiginosa de qualidade e relevância dos filmes da Marvel Studios, Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania inegavelmente mostra o crescimento do herói nas telas e ao menos tem momentos divertidos e genuínos que flertam com a essência clássica do MCU, além de atuações arrasadoras em Janet van Dyne, de Michelle Pfeiffer, e Kang, de Jonathan Majors, para compensar as inúmeras falhas de roteiro e produção. É tanto efeito especial capenga, que a história e seu desenvolvimento vira um mero fundo verde sem identidade, carisma e muito menos memorável do que a simplicidade honesta dos seus primeiros filmes.

De fato, o espetáculo é grande e visualmente empolgante como fazia tempo que não víamos no MCU, mas falta substância e audácia. Não queremos ver a qualidade de Star Wars e nem mesmo a precariedade de Pequenos Espiões, queremos um filme que, por si só, já seja o suficiente. Independentemente disso, parece um pontapé pungente ao futuro desse universo saturado.

Subitamente, nosso interesse está de volta, é a magia da Marvel, mas essa mania de querer ser maior do que seu próprio Reino Quântico transforma boas ideias em um filme McLanche Feliz de Hollywood. Talvez alguns já tenham desistido desses filmes e não estão errados, resta saber quem vai salvar os super-heróis do pior vilão de todos: a mesmice.

NOTA: 7/10

Leia também:


Aproveite para nos acompanhar nas redes sociais: Facebook, Twitter, Instagram, Youtube e também no Google News.

Quer receber notícias direto no seu celular? Entre para o nosso grupo no WhatsApp ou no canal do Telegram.

Última Notícia

Mais recentes

Publicidade

Você também pode gostar: