Crítica | Na Sua Casa ou na Minha? – Não importa o lugar quando não se tem química

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As comédias românticas tendem a cair nas mesmas armadilhas: ter atores maiores que seus personagens. Não é novidade para ninguém que Reese Witherspoon e Ashton Kutcher não são estranhos às comédias românticas, e Na Sua Casa ou na Minha? (Your Place or Mine), a nova comédia romântica da Netflix, une os dois grandes nomes do gênero pela primeira vez nas telas. Mas será que essa tempestade de carisma consegue recriar a magia de alguns de seus trabalhos anteriores? A resposta é não. Nem de perto. Porém, a energia dos filmes dos anos 90 faz essa união funcionar, ainda que nem mesmo um alquimista consiga fazer com que haja alguma química entre o casal.

A trama e o elenco

No melhor estilo quanto menos esperar melhor, a trama água com açúcar segue Debbie (Witherspoon) e Peter (Kutcher), melhores amigos que vivem longes um do outro. Debbie está ansiosa para assistir a uma aula em Nova York por uma semana para dar uma mudança drástica na carreira, mas sua única babá vai embora. Procurando ajudar sua amiga de longa data, Peter sugere que os dois troquem de casa durante uma semana, para que Debbie alcance seu objetivo e Peter possa cuidar de seu filho enquanto isso. Essa troca temporária de casa força os dois a chegarem a algumas conclusões, sendo a mais significativa que eles podem ser mais do que apenas amigos. Ao serem obrigados a um se colocar no lugar do outro, o enredo vira quase um Se Eu Fosse Você residencial.

O grande problema está mesmo no fato de que o filme não se qualifica nas regras básicas de como uma comédia romântica deve se comportar e isso, por melhor que possa parecer, aqui faz com que o enredo perca total seu sentido. Embora haja romance na forma do tropo subestimado de amigos viram amantes, os dois nunca desenvolvem sua tensão sexual ou conexão romântica. Eles mal se falam depois da troca de casa. A premissa do filme depende (e muito!) das habilidades de Witherspoon e Kutcher de invocar seu carisma e naturalidade para sustentar as quase duas horas de projeção. E esse entusiasmo bobinho e convencional até funciona e diverte, mas inevitavelmente deixa lacunas vazias pelo caminho.

O elenco em si possui plena habilidade para desempenhar seu papel, seja de playboy enjoativo ou o da mocinha independente, há naturalidades de sobra para tal, porém, o roteiro superficial não os permite sair da zona de conforto e ir além de seus estereótipos. Com Kutcher sem sintonia e se perdendo no próprio exagero, Witherspoon, por sua vez, parece muito mais confortável em seu papel porque há uma familiaridade nos maneirismos de Debbie com outras protagonistas que já viveu na carreira. Apesar disso, a jornada é arrastada, mas agradável do ponto de vista escapista “sessão da tarde”.

Já nas questões técnicas, o filme ganha mais força. O contraste entre a vida colorida de Debbie e a vibração monótona de menino da cidade de Peter é bem capturado pelo design de produção, pela cinematografia e até pelo figurino. A direção de Aline Brosh McKenna (Crazy Ex-Girlfriend) não é amadora e a condução tem pontos altos, uma pena que alguns são ofuscados pela cafonice da trama e os caminhos previsíveis que o roteiro escolhe tomar com medo de fugir do substancial.

Veredito

O charme e carisma de Witherspoon e Kutcher são genuinamente envolventes, mas agora descobrimos a razão pela qual nunca trabalharam juntos nas telas: não há química entre eles. Na Sua Casa ou na Minha? é mais uma comédia engessada e cafona da Netflix, um produto feito sob medida para agradar o algoritmo da plataforma. Apesar de ter boas intenções e um desejo visível de revigorar o gênero, falta ousadia e emoção nesse sopão de macarrão para que fosse ainda mais tentador e saboroso. São sempre as mesmas histórias em filme diferentes, repetidas vezes, para sempre. Se eles estão procurando uma casa para ficar, vai de você receber na sua ou pular para o próximo streaming.

NOTA: 4/10

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