Quase 30 anos atrás, Abracadabra original estreou nos cinemas e logo se mostrou um grande fracasso financeiro e de público, mas não demorou muito para se tornar um clássico cult da Disney. Tanto amor pelas irmãs Sanderson é claro que resultaria em uma eventual sequência que, apesar da demora para sair, parece ter vindo na hora certa, uma vez que a franquia parece muito mais madura e saudosista do que nunca com Abracadabra 2. Ainda que tenha alguns problemas, a aguardada continuação é bem-sucedida em nos lembrar como essas bruxas foram capazes de nos lançar um feitiço de encantamento por todo esse tempo.
A trama e o elenco
A trama feijão com arroz cozinha no caldeirão o que funcionou no original e dá uma nova roupagem, voltada para a nova geração, claro, de tudo de melhor que há nessa premissa infanto-juvenil.
O enredo dessa vez segue Becca (Whitney Peak), Izzy (Belissa Escobedo) e Cassie (Lilia Buckingham) enquanto lutam para manter Salem a salvo das terríveis e atrapalhadas bruxas, Winifred (Bette Midler), Mary (Kathy Najimy) e Sarah (Sarah Jessica Parker).
O elenco original abre espaço para novos rostos – e alguns já famosos, como o hilário zumbi Billy Butcherson (Doug Jones) – e toda a adição se mostra bem-vinda, especialmente por agregar mais diversidade racial.
Agora vamos falar sobre o maior problema de Abracadabra 2: suas locações não parecem reais e o lugar não soa como Salem. Talvez culpa do orçamento limitado por ser um filme para streaming ou do CGI precário. Ainda que seja nostálgico de inúmeras formas – e isso tem sido a maior fonte de renda atual de Hollywood – o filme força uma ambientação moderna que contrasta demais com o fato de que ele funciona bem melhor em outras épocas. Essa falta de sintonia acaba com a boa sensação atemporal que o original possuía. Até mesmo a floresta que domina o terceiro ato parece mais falsa do que nota de 3 reais na tela.
No entanto, fora esses problemas de tela verde, que mais soa como filme do Disney Channel e não algo para o Disney+, o longa até tem uma boa riqueza de detalhes em relação ao mundo que o primeiro estabeleceu. As homenagens vão desde objetos de cena até falas e canções, é bem divertido de assistir. De quebra ainda podemos ver um pouco mais da infância das irmãs em uma Salem terrivelmente misógina e como elas fugiram para a floresta para se tornarem as bruxas que são hoje. Toda essa introdução é cativante e só por ela já faz o retorno valer à pena. Mas é claro que o trio de veteranas também segue invicto no carisma e no senso de humor pastelão, especialmente Bette Midler.
Ainda mais que o anterior, este segundo filme é sobre irmandade e o poder da união feminina. Com a mesma energia de Jovens Bruxas, agora temos três amigas como o centro do palco que move a trama para frente. Até mesmo as bruxas veteranas possuem um lado mais humano, uma vez que o roteiro se aprofunda nas relações e entrega um desfecho bastante emocional para o trio de patetas. Ambos os filmes possuem as mesmas passagens, mas se concentram em coisas completamente diferentes pelo caminho. Os números musicais são hilários e dão à história o tom de leveza e simplicidade que tanto busca alcançar.
Conclusão
Apesar de alguns problemas, Abracadabra 2 enfeitiça com a mesma energia do original e entrega uma celebração satisfatória, que deve agradar os fãs antigos e inspirar a nova geração. É raro quando uma sequência – feita quase 30 anos depois – ainda seja capaz de carregar a essência do originário.
Podemos respirar aliviados, afinal, esse clássico cult do Halloween não perde sua magia e segue tão nostálgico, divertido e despretensioso como sempre desejou ser. Porém, com uma possível continuação à caminho, é de se esperar que haja alguma novidade extra, uma vez que este apenas replica (com perfeição) as qualidades do anterior. São dois filmes gêmeos, feitos para gerações diferentes. Faltam alguns ingredientes nesse caldeirão, mas a poção funciona mesmo assim.
NOTA: 7/10
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