Crítica | 45 do Segundo Tempo – O f*da-se para a vida que estávamos precisando

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Já nos minutos iniciais, 45 do Segundo Tempo mostra à que veio. A nova comédia dramática de Luiz Villaça (De Onde Eu Te Vejo) conquista pela naturalidade e o senso de humor de Tony Ramos ao viver um homem otimista que se vê em uma fase da vida em que nada mais parece fazer sentido. Com a promessa de ser só mais um filme cujo futebol serve de temática superficial, apesar do título, o longa surpreende quando, na realidade, trata-se de um conto fofo e comovente sobre amizade e solidão, feito com o olhar sensível de um diretor que visivelmente se apaixonou por seus personagens.

A trama e o elenco

O roteiro engenhoso e consistente sabe que para fisgar o público precisa, antes de qualquer coisa, estabelecer conexão entre o protagonista e o espectador, algo que faz com bastante maestria e espontaneidade. Os amigos de longa data que redescobrem o real significado da amizade durante o tempo limitado que passam juntos lembra o clássico Conta Comigo (1986) – e isso é ótimo -, ou pelo menos uma versão espirituosa dele na terceira idade.

Ao contrário do conto infantil de Stephen King que marcou a Sessão da Tarde, 45 do Segundo Tempo obviamente se mostra mais maduro e existencialista. Na trama, para recriar uma foto tirada em 1974, durante a inauguração do metrô de São Paulo, Pedro (Ramos) convida os dois amigos de escola que não via há 40 anos, Ivan (Cássio Gabus Mendes) e Mariano (Ary França). Porém, o ato nada mais é do que um pretexto para avisar os velhos amigos, de uma decisão muito maior. Imersos em crises da idade, envelhecimento e as consequências dos caminhos desviados que cada um tomou ao longo dos anos, Pedro anuncia, para surpresa de todos, que pretende tirar a própria vida — mas, antes, ele possui um último desejo: não quer partir antes de ver seu time ser campeão.

Dentro desse enredo aparentemente simples, o roteiro se mostra ser uma verdadeira alegoria para a passagem apressada do tempo. Ele constrói uma narrativa animada, inteligente e tragicômica que envolve e emociona, muito por conta da fantástica química entre Ramos, Mendes e França. Cada personagem completa as lacunas deixadas em aberto pelo outro e suas subtramas são bem desenhadas dentro da jornada central de autodescoberta do grupo.

Um é padre e sente que precisa perder a virgindade aos 60 anos, o outro vive um casamento em ruína e precisa aprender a lidar com o fato de seu filho ser gay. Porém, eles possuem algo em comum: estão infelizes consigo mesmo e se perguntam se há como sair do conformismo. Já Tony Ramos – diga-se de passagem em uma de suas melhores performances dramáticas no cinema – entrega carisma, fragilidade e metáforas poderosas sobre a vida e as decisões que assumimos pelo caminho, sem abdicar, claro, de seu talento na comédia.

A direção

O que Luiz Villaça faz é louvável: o diretor conduz a história com leveza e consegue discutir assuntos pertinentes – como homofobia e crise da idade – dentro de uma comédia cujo centro de tudo está no potencial suicídio de alguém. Por mais tenso e pesado que possa parecer, a produção contorna o macabro com cuidado para não incentivar comportamentos destrutivos.

E, muito além disso, brilha também na parte técnica, especialmente na direção de fotografia e na trilha tocante. As piadas funcionam (e algumas são definitivamente hilárias), em contraponto com a parte intensa e dramática da trama. O público vai do riso involuntário às lagrimas sem nem ao menos perceber. E para os amantes do esporte, há sim metáforas futebolísticas brilhantemente encaixadas no enredo.

Conclusão

Com leveza e emoção, 45 do Segundo Tempo celebra a amizade em sua essência mais significativa e mostra que a vida, assim como uma partida de futebol, é imprevisível, apressada e não se ganha jogando sozinho. A comédia dramática tocante subverte os tradicionais clichês e aproveita seus personagens carismáticos para tocar em assuntos afetivos com sensibilidade, coragem e uma pitada de acidez.

Tony Ramos está magnifico e cativante no papel de um homem que perdeu a conexão com sua própria vida, mas que, apesar disso, encontra na beleza de ligar o f*da-se um significado para viver um pouco mais. O Conta Comigo sênior que o cinema brasileiro não sabia que precisava até ter.

NOTA: 8/10

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