Crítica | Ambulância: Um Dia de Crime – Apertem os cintos… Michael Bay surtou!

Assistir um filme de Michael Bay é como passar por uma crise severa de ansiedade. Não é agradável, não é divertido e tão pouco fácil. E não pense que é por tocar em assuntos complexos ou mesmo por ser provocativo, na realidade, é pura mediocridade gravada da forma mais frenética possível. Ao se extrair as megalomaníacas cenas de ação (já bastante genéricas na real), o que sobra não enche nem um copo. Seja com carros alucinados ou robôs alienígenas, o cineasta abraça com força o cinema escapista, investe em deixar o espectador com dor de cabeça com tantas explosões, tiros e correria, mas sempre deixa de lado um dos elementos mais cruciais para uma boa história ser contada, seja ela profunda ou divertida: a coerência – ou a sensatez, quem sabe. Dessa vez, depois de já ter explodido todas as possibilidades de Hollywood, sua nova vítima é um veículo usado para salvar vidas. Sim, em Ambulância: Um Dia de Crime, a adrenalina acontece boa parte do tempo no asfalto e dentro de um carro totalmente inapropriado para entregar ação. Mas, quem diria? Não é que Bay cria um caos inigualável de duas horas de duração cuja base está apenas na fuga dos protagonistas de um assalto à banco? Pois é.

E se você pensa que já viu isso antes, talvez seja pelo fato de que nada – absolutamente nada – nessa trama é original. Se pegar Velocidade Máxima, Velozes e Furiosos, Em Ritmo de Fuga e bater tudo num liquidificador, não dá nem metade da bobagem que é Ambulância.

A trama e o elenco

Passada a sensação de falta de necessidade desse filme existir, o roteiro de Ambulância: Um Dia de Crime – que parece ter sido escrito por um adolescente de 13 anos apaixonado por Hot Wheels – trata-se de uma refilmagem de um longa dinamarquês de 2005 e tenta desesperadamente inserir alguma profundidade no background dos personagens que justifique as decisões incabíveis que tomam ao longo da aventura.

Em cada ponta temos irmãos com ambições distintas (e que não são exatamente os mocinhos): um ex-soldado (vivido por Yahya Abdul-Mateen II) que precisa achar dinheiro para salvar a vida de sua esposa, que possui uma doença rara; e um malandro assaltante de bancos (Jake Gyllenhaal) que herdou do pai as artimanhas do crime. No meio desse turbilhão maluco, tem uma socorrista de ambulância (Eiza González é a melhor coisa desse filme!).

Esses três, juntos, precisam fugir da polícia após o assalto e sobreviver o máximo de tempo possível pelas ruas de Los Angeles antes que sejam presos, mortos – ou que se deem conta da falta de lógica que é seguir um plano tão furreca. E é isso. Nada mais além disso no enredo. Ainda que haja espaço para briga de gangues, rivalidade entre policiais e uma enorme quantidade de figurantes que não servem para absolutamente nada de importante, o foco está mesmo no trio principal e nas manobras que precisam fazer para sair dessa enrascada.

Dentro desse furacão, que mistura todos os elementos convencionais de um filme de assalto clichê, até mesmo cirurgias são feitas na busca por criar tensão no público. E isso é desenvolvido com tanto desespero, que soa cômico. Tanto Gyllenhaal quanto Abdul-Mateen II estão exagerados como nunca antes estiveram e suas performances beiram o ridículo. Já González, por sua vez, é a única personagem que convence e, na melhor das hipóteses, parece fazer algum sentido nessa bagunça.

A direção

E se você já não estava tonto com a velocidade bizarra em que a trama progride – repleta de pontas soltas, furos e inconsistências que nem mesmo a direção tem tempo de explicar, como o fato de o filme inteiro ser baseado no medo de atirar/matar um policial, e então um ataque inteiro é projetado para matar policiais – eis que chega a condução frenética de Michael Bay (Transformers) e se torna cada vez mais difícil enxergar o que está acontecendo na tela. São tantos cortes em tão pouco período, que é impossível manter envolvimento emocional. A câmera de Bay treme loucamente até mesmo nos raros momentos de pausa, é assustador.

As sequências de ação são tão bizarras e desenfreadas, que parece que estamos assistindo na velocidade 1.5x, isso para não citar as câmeras flutuantes exageradas (nada faz sentido!) e o excesso de slow motion. Após 1 hora e meia dentro desse ritmo vertiginoso, já estamos com náuseas, cansaço mental e o tempo parece nunca passar para que possamos descer desse brinquedo de parque de diversões e ir para casa. Por fim, nem mesmo na sua zona de conforto o filme funciona. E exaustivo demais para isso.

Conclusão

Carente de enredo sólido e roteiro coerente, Ambulância: Um Dia de Crime é freneticamente terrível do começo apressado ao fim absurdo. A nova aposta de ação de Michael Bay possui um ritmo tão desenfreado, vertiginoso e cansativo de ser assistido, que parece que estamos algemados em um passeio desagradável de montanha-russa por 2 horas e 20 minutos.

História previsível, personagens robotizados, exageros dramáticos e desperdício de astros do cinema são apenas alguns dos principais defeitos de Ambulância: Um Dia de Crime. Mas nada – absolutamente nada – supera o caos da direção de Bay e sua insistência por câmera tremida e cortes truculentos, que provocam náuseas até mesmos nos fãs de ação mais fervorosos. No final da sessão, é tanta coisa acontecendo na tela e de forma tão desgovernada, que quem vai mesmo precisar de uma ambulância é o espectador. Só torcemos para que Michael Bay não dirija essa.

NOTA: 2/10


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