Crítica | After: Depois da Verdade é irresponsável, tolo e vazio

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Ainda que tenha como base em um livro totalmente supérfluo, escrito pela autora Anna Todd, After: Depois da Verdade (After We Collided), sequência direta do romance erótico teen de 2019, que chega ao Amazon Prime Video em breve, ocupa o posto anual de filmes rasos e problemáticos sobre a falsa libertação sexual que, na realidade, apenas serve para reforçar comportamentos contestáveis. Assim como o terrível 365 Dias (365 DNI) faz, a trama brinca com a cabeça do espectador e finge ter plena consciência de suas responsabilidades, quando, no fundo, seus reais objetivos são mostrar fetiches para ofuscar a falta de subsistência da história sobre o começo da vida adulta de dois jovens.

E veja bem,  não há problema algum em construir sua narrativa, assim como as jornadas pessoais, em torno do teor sexual de um ou mais casais. Ótimas obras, como Love, do Gaspar Noé e Me Chame Pelo Seu Nome, do Luca Guadagnino, fazem isso muito bem, o problema está quando o roteiro quer porque quer convencer de que está entregando uma trama contemporânea, honesta e lúcida sobre a vida sexual de jovens adultos, quando são gaslighting, rivalidade feminina e abuso psicológico os temperos que dão essência aos personagens e seus relacionamentos tóxicos. Ou seja, o bom e velho soft porn leão na pele de cordeiro, que nos leva a perguntar: Porque romances tóxicos dão tanto dinheiro para Hollywood?  

A trama e o elenco

Essas ideias problemáticas são também o combustível para que os clichês e previsibilidades do roteiro de After: Depois da Verdade possam funcionar dentro de uma trama que, logo de início, já começa passando pano para as atitudes do mocinho rebelde e controlador, vivido por Hero Fiennes Tiffin (Harry Potter e o Enigma do Príncipe) e colocando o peso da culpa sobre os ombros da jovem Tessa (Josephine Langford), que tenta seguir sua vida, já que a história se inicia apenas um mês após os eventos do filme anterior, com o casal protagonista separado e a menina tendo uma recaída após ficar completamente bêbada em uma festa da empresa onde trabalha. Ao tirar o fardo do homem, convenientemente, o roteiro sabichão “deixa” a iniciativa partir da mulher, para que não possa existir qualquer alusão a abuso psicológico, porém, sinto dizer que é tarde demais e que a manipulação já está enraizada desde o momento em que essa decisão estúpida foi tomada por parte dos realizadores.

Ainda que possa haver algumas iniciativas na trama que sejam boas, como mostrar a jovem finalmente tendo sua independência, o enredo começa promissor, parece ter noção dos erros do filme anterior e dá a sensação de que irá corrigi-los com mais sensibilidade, porém, a alegria dura pouco e logo a jornada inteligente cai na mesmice e se deixa levar completamente pelo teor sexual e a lábia malandra do protagonista. Se por esse lado tenta mostrar que existe vida saudável após o fim de um relacionamento conturbado, a franquia dá um passo para trás e retorna para os mesmos dilemas do passado, forçando um amor sem sal dentro de um casal que, claramente, só se sustenta pela química sexual e nada mais.

Quando acrescenta Trevor (Dylan Sprouse) na equação, o que parecer ser para “resgatar” Tessa desse loop de magoa-volta-magoa, na verdade serve apenas para apimentar ainda mais a relação pautada por brigas do casal, ou seja, no fim, nenhuma subtrama chega em lugar nenhum e não há avanço sequer na história. O elenco, por sua vez, entrega o básico do básico dentro do necessário, já que o foco está mesmo nas cenas pouco corajosas de nudez para um filme que se diz tão “intenso e ousado”. Mas sim, Hero Fiennes Tiffin atua terrivelmente ruim e não tem carisma que o salve.

A direção

O trabalho de Jenny Gage em After: Depois da Verdade, que também comandou o primeiro filme, segue tão sem profundidade quanto antes. A diretora não consegue desenvolver seus personagens além do superficial e ainda se perde dentro de seu próprio ritmo arrastado. Na tentativa de abranger todo o “conteúdo” do livro, se preocupa mais em deixar as cenas de sexo cinematográficas e acaba por renunciar a discussões que poderiam ter sido ricas para tornar essa uma sequência realmente necessária. Ao invés disso, desperdiça qualquer sabedoria extraída de uma mensagem sobre “seguir em frente” para reforçar ideias imaturas e irrealistas, ainda por cima filmadas sem nenhum tipo de sensibilidade ou afeto, onde cada mínima palavra é premeditada.   

Conclusão

Dessa forma, isso nos leva a pergunta inicial: por qual motivo romances tóxicos dão tanto dinheiro para indústria do entretenimento? E a resposta está nos conflitos que um relacionamento abusivo proporciona, não muito distante do modelo “tragédia romântica” que o cinema tanto ama ou do “amor proibido” que vende milhares de exemplares de livros desde o começo dos tempos. As pessoas gostam de consumir controversas pois não podem ter esse tipo de emoção em suas vidas humanas.

No cinema, a violência vem travestida de afeto, mais no mundo real, sem máscaras, essa mesma violência é invisível, manipuladora e culmina em nada além de sofrimento. Por essas e outras que After: Depois da Verdade tenta ser um romance teen inocente e escapista, mas entrega mesmo é uma história irresponsável, tola e vazia, que reforça relações tóxicas com seu soft porn cheio de clichês ​​e histórias estereotipadas. Nada funciona e, para a alegrias de muitos, vem mais filmes por aí para concluir o que pode vir a ser uma das piores franquias baseadas em livros da história.

Nota: 1/10

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