Crítica | Pai em Dobro se salva pelo carisma de Maisa

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Em um país onde o índice de abandono parental é altíssimo, Pai em Dobro é realmente uma aposta escapista da Netflix que não apenas idealiza o mundo paterno de forma quase perfeita, como também cria um Rio de Janeiro aconchegante, que passa longe da realidade. Mas sim, a trama fofinha e inocente, baseada no livro da autora infanto-juvenil Thalita Rebouças, tem como premissa desenvolver uma fábula ingênua e até surpreende com o empenho da produção em fazer algo que possa se conectar com todos os públicos, mas há falhas que tiram as cores desse carnaval.

A trama e o elenco

Sendo vendido como o primeiro filme de Maisa (ex-Maisa Silva) para o streaming, a Netflix realmente prova que está investindo pesado não só na jovem em ascensão, como também em adaptações de livros teen nacionais e, mesmo com problemas, essa notícia é animadora, especialmente pelo fato de que Maisa tem o tal do “star quality”. A menina brilha naturalmente por onde passa e mostra que consegue segurar muito bem um filme nas costas com seu carisma doce, mesmo que ainda necessite de alguns ajustes para realçar sua naturalidade em cena. Sua performance é, de longe, o menor dos problemas, já que é o roteiro que peca na repetição de elementos e a direção que perde fôlego muito cedo. Após uma abertura colorida e animada, que mostra a vila hippie em que a protagonista mora com sua mãe diferentona, a trama caminha para o lugar mais comum possível, enquanto a jornada da adolescente se intensifica em busca de saber quem é seu verdadeiro pai, já que sua mãe escolheu não revelar essa informação durante sua vida.

Em uma Cidade Maravilhosa ideal, multicolorida e calorosa, a menina acaba se deparando com dois possíveis candidatos à pai e a trama desdobra através da convivência com ambos e suas diferenças, não apenas ideológicas, como também financeiras. Eduardo Moscovis e Marcelo Médici vivem os possíveis pais da menina e cumprem bem a função de divertir. Nada além do previsto acontece e, mesmo com a química boa de Maisa com o restante do elenco, claramente está faltando algo para preencher as lacunas deixadas pelo roteiro raso e clichê. Depois de dar voltas e mais voltas em torno de pouca coisa que seja realmente instigante, a trama caminha para seu final previsível e foca em deixar no ar a mensagem de que “pai é quem cria”, boa, sim, mas jogada ao vento sem grande repercussão. Apesar disso, a direção de arte em Pai em Dobro é um espetáculo a parte e as canções animam quando o ritmo perde fôlego.

A direção

O trabalho da diretora Cris D’Amato (É Fada!) com histórias teen é divertido e sua visão capta a essência juvenil com sensibilidade, porém, ainda que use planos longos e sofisticados, sua direção têm sérios problemas de ritmo e faz com que a trama, que já não é lá essas coisas no quesito ânimo, ficar ainda mais arrastada e sem substância. Tudo começa muito bem e, gradativamente, vai se tornando cada vez mais banal e saturado. Há também um sério problema de montagem, que deixa passar diversos erros de continuidade ao longo da projeção. Claro, mesmo que esses detalhes não afetem tanto o desenvolvimento da história e a jornada da protagonista, mostra que um pouco mais de atenção teria tornado a obra mais emocionante, como por exemplo vimos recentemente acontecer com Alice Júnior e sua maestria em entregar muito com tão pouco.

Conclusão

Dessa forma, apesar do carisma de sobra de Maisa em sua estreia na Netflix e do empenho da produção em fazer uma fábula animada, colorida e escapista sobre paternidade, falta emoção na trama, substância no roteiro e ritmo na direção de Pai em Dobro. A jovem possui talento e mostra que sabe segurar um protagonismo nas costas, exatamente por isso merece ser a estrela de um filme mais inteligente e que possa explorar todas as suas camadas. Ainda assim, a jornada pelo Rio de Janeiro ideal não deixa de ter sua diversão e funciona como um coming of age brasileiro que se mantém preso na zona de conforto e na ingenuidade das histórias podadas de Thalita Rebouças.

Nota: 6/10

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