Crítica | Quando a Vida Acontece – Drama familiar e monótono da Netflix

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O filme austríaco ‘Quando a Vida Acontece’ (Was wir Wollten), recém aterrissou na Netflix e têm se mantido em alta por conta do apelo que faz ao público apaixonado por drama familiar. A produção, realizada de forma simples e que foca seus esforços na construção do drama e da jornada de um casal que busca novas formas de se reapaixonar pela vida, após perceber que não poderão ter filhos biológicos, é bem rica em seu texto reflexivo e cheio de lições sobre a simplicidade do amor, porém, isso não o impede de afundar na falta de ritmo e desgovernar a direção quando sua premissa se esgota apressadamente.

A trama e o elenco

Em Quando a Vida Acontece, durante uma viagem à Itália, com o intuito de se aproximar e resgatar o amor após algumas perdas e cansaços no relacionamento, um casal austríaco acaba desenvolvendo uma amizade forte com outro casal de estrangeiros e, dessa forma, uma dupla completa as lacunas do relacionamento da outra. Tanto amores fortes quanto divergências nascem dessa união. Dentro dessa premissa, o roteiro estabelece uma conexão interessante entre os dois casais, mas parece se perder quando a rota chega ao final.

Essa falta de saída e de andamento da trama faz com a narrativa dê voltas e mais voltas em torno de nada e se repita o tempo inteiro, sem caminhar para frente. Com pouco mais de 30 minutos de projeção, o espectador já está esgotado emocionalmente pela ausência de ritmo e de que algo realmente interessante aconteça. Quando a trama começa a avançar e as intrigas tomam forma, logo perde novamente o fio da meada e se encerra basicamente no mesmo caminho que começou, ou seja, a jornada de autodescoberta até funciona para o casal se amar um pouco mais, porém, tudo poderia ter sido resolvido com uma conversa simples e honesta (ou com o fim do relacionamento desgastado).

A dupla Lavinia Wilson (Medo de Matar) e Elyas M’Barek (Dane-se Goethe) até possui um boa química, prejudicada pelo fato de ser um casal em crise e não um que está se apaixonando e se divertindo, mas a relação é boa e ambos possuem um senso se humor condizente com a proposta, ainda que a trama siga fortemente por caminhos tristes e melancólicos.

Os personagens coadjuvantes, por sua vez, são péssimos e nenhum realmente funciona ou cativa, é tedioso assistir o quão carregados de estereótipos eles são. A família estrangeira representa tudo que eles gostariam de ser: jovens, simpáticos, apaixonados pela vida, com filhos. Essa linha tênue entre a inveja e admiração estabelece alguns dilemas curiosos sobre a vida e sobre o que achamos ser “perfeito”, o famoso ditado de que “a grama do vizinho é sempre mais verde”, isso é o que mantém o filme relevante.

A direção e o ritmo

O trabalho de direção do novato Ulrike Kofler, que tem mais experiência com montagem, é plenamente ruim. Talvez sua noção de ritmo tenha sido afetada por ser um montador e isso transfere para o filme uma narrativa desanimada, cansativa e sem nuances, ainda mais péssima por não saber dosar o humor ou mesmo o lado mais emocional, já que centraliza suas energias no relacionamento enjoativo do casal e na falta de diálogo entre eles.

O drama é carregado demais e se dissolve lentamente, sem que sobre espaço para algum alívio no espectador, restando apenas uma sensação ruim de falta de esperança no fim das contas. Porém, a chave para se envolver na proposta está na forma como o diretor deixa a câmera fixa no rosto dos atores, com o intuito de desenvolver mais empatia e extrair mais emoção. É um trabalho muito voltado para atuações e o elenco entrega, em partes, uma veracidade importante.

Conclusão

Com isso, ‘Quando a Vida Acontece’ finge ser um romance divertido de férias, mas se prova um drama familiar denso, arrastado e totalmente monótono. A reflexão que provoca se perde no meio de tanta falta de maestria da direção em desenvolver uma narrativa que envolva o espectador. No fim das contas, resta apenas um sentimento melancólico de derrota em um filme que rouba seu tempo de vida e não lhe entrega nada em troca. É difícil de acreditar que essa tenha sido a aposta da Áustria para o Oscar 2021.

Nota: 2

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