Crítica | Bill & Ted: Encare a Música é estapafúrdio demais para passar despercebido

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Não é tarefa fácil manter uma franquia viva (e com o mesmo elenco) por tantos anos. No caso de ‘Bill e Ted’, são mais de 30 anos que englobam uma trilogia, afinal, o primeiro ‘Bill e Ted – Uma Aventura Fantástica’ aterrissou nos cinemas em 1989, seguido por ‘Bill e Ted: Dois Loucos no Tempo’, lançado apenas dois anos após o original. Agora, 29 anos depois, ‘Bill & Ted: Encare a Música’ (Bill & Ted Face The Music) chega com a esperança de ser um revival para dois personagens da comédia que marcaram uma geração de fãs e sim, é bem sucedido em resgatar a essência pastelão da franquia e ainda agrega uma contemporaneidade interessante, que evita que o pior acontecesse: se tornasse uma trama datada, ainda que mantenha a mesma vibe exagerada do humor adolescente dos anos 80.

A trama e elenco

Nessa nova empreitada, que continua a proposta de fazer viagens no tempo, Bill e Ted (interpretados por Keanu Reeves e Alex Winter) precisam lidar com a crise de meia idade e com questões familiares, como filhos e casamento, porém, a dupla ainda segue frustrada por nunca ter conseguido fazer a melhor canção de todos os tempos. Certo dia, recebem a visita de um homem do futuro e descobrem que apenas uma música criada por eles pode salvar o mundo de um apocalipse maluco, onde todos os anos da humanidade irão se colidir em apenas um. Nessa aventura pelo tempo, o roteiro divide a trama em dois núcleos: as filhas dos protagonistas, vividas pelas ótimas Samara Weaving (Casamento Sangrento) e Brigette Lundy-Paine (O Escândalo), que viajam através dos anos para reunir os músicos mais famosos da história e poder, assim, montar a “melhor banda” de todas, e a dupla de bobalhões que estrela a franquia desde o começo.

Keanu Reeves, que dispensa apresentações, com toda sua carreira já estabelecida desde que embarcou no original, agrega bastante carisma (como de costume), apesar de ser um personagem “travadão” e engessado. O ator está se divertindo, mas poderia ter se esforçado mais. Já Alex Winter, mais cômico, se sai um pouco melhor quando a proposta é gerar humor com situações exageradas e malucas. Ainda assim, mesmo com algumas baixas na atuação de ambos e com a ausência de profundidade nos protagonistas, que parecem viver a mesma vida irresponsável e adolescente do passado, a química entre eles é boa e conquista.

Roteiro e direção

Há altos e baixos no roteiro de Bill & Ted: Encare a Música. Se por um lado consegue reunir elementos contemporâneos interessantes e assume a posição de ser nonsense propositalmente, por outro, seu humor é desconjuntado, fraco e boa parte das piadas não funcionam ou não são realmente engraçadas para o público adulto. As possibilidades hoje são muitas e, com o avanço das técnicas cinematográficas, as viagens no tempo e os cenários malucos estão ainda mais divertidos e envolventes, ainda que os efeitos digitais repliquem muito bem o charme dos anos 80.

A direção de Dean Parisot (As Loucuras de Dick e Jane) vem carregada de referências aos clássicos da comédia que marcaram gerações e segue um ritmo apressado e enérgico gradativo, já que a trama estabelece essa “corrida contra o tempo” antes que o mundo acabe. Desde o começo, a narrativa não para pra se explicar e apenas joga o espectador no emaranhado de aventuras da dupla, culminando em um clímax grandioso e alucinado. A bagunça se organiza aos poucos, porém, conforme se torna mais e mais divertido de acompanhar, menos se aprofunda nos sentimentos dos personagens e em suas vidas, o que representa um desperdício, especialmente para a relação “bromântica” dos protagonistas, que não tem conflitos e nem nuances. Falta uma pitada de drama e emoção para equilibrar tanta presepada.

Outro detalhe técnico impecável está no trabalho de maquiagem. Cada ano que a história explora, Reeves e Winter estão completamente diferentes e as transformações são hilárias, principalmente a que agrega um valor considerável de músculos aos atores. O conceito de viajar no tempo, assim como o filme anterior, apenas existe e suas regras não são muito claras, nada feito altera o passado de forma drástica e, diferente de ‘De Volta Para o Futuro’, a franquia tenta ser bem menos intimista e técnica, algo que até funciona, especialmente para um público mais novo.

O forte de ‘Bill e Ted’ nunca foi ser sofisticado e nunca desejou elaborar suas regras rígidas sobre o tempo, o que permitiu sobrar espaço para ser mais cômico, leve, descontraído e, de alguma forma, ainda funcionar nos dias de hoje. A forma como navega pela história da música é brincalhona e, uma vez que abaixa a guarda e mergulha em sua proposta insana, não é tão ruim quando se poderia esperar.

Conclusão

Dessa forma, ‘Bill & Ted: Encare a Música’ consegue ser um revival espirituoso, que funciona como uma aventura musical alucinada e despretensiosa, sem perder sua essência galhofa dos anos 1980, ainda que o humor exagerado seja sobre dois idiotas cheios de carisma. São obras nonsense como esta que nos permite ver, na mesma cena, Jimi Hendrix, Mozart e a Morte interagindo entre si. Se isso não é a magia do cinema, não sei mais o que seria. Um pouco de profundidade e um roteiro mais empolgante sem dúvida tornariam esse filme uma das grandes surpresas boas do ano, ainda assim, é estapafúrdio demais para passar despercebido.

Nota: 7

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