Crítica | Santana – Desperdício de ideias e “defeitos especiais”

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É difícil decidir o que dá mais errado em ‘Santana’, primeiro filme angolano original Netflix que tem feito sucesso no catálogo. Se por um lado o longa agrega uma representatividade importante e abre espaço para que novas narrativas, fora do eixo ocidental, possam ter acontecer, por outro, a trama é tão absolutamente vazia e sem inspiração, que se torna um puro desânimo de ser assistida. Apesar da qualidade técnica ser bem questionável e o orçamento baixo ter sido mal aproveitado, o problema maior está mesmo na construção dos personagens e na trama tediosa, que caminha de lugar algum para lugar nenhum em quase duas horas de um filme desinteressante e repleto de desperdícios visuais, que só funciona mesmo como uma porta aberta para novas produções angolanas no catálogo da gigante do streaming.  

A trama e o elenco

A trama de ação é baseada em fatos e acompanha dois irmãos que passam anos de suas vidas investigando o assassinato de seus pais. Enquanto um se torna um general respeitado, o outro vira um agente dos narcóticos. Quando finalmente possuem uma pista sobre quem destruiu sua família no passado, ambos se envolvem em uma caçada de vida ou morte sedenta por vingança. Dessa premissa, nasce uma história que acaba deixando seu potencial de lado para tentar ser muito mais do que poderia ser e, com isso, permite que essa ambição desenfreada atrapalhe todo seu desenvolvimento.

O elenco, por sua vez, é péssimo ao quadrado, em especial os protagonistas desanimados, vividos por Raul Rosário e Paulo Americano, sendo esse último, um exemplo (im)perfeito de falta de desenvoltura e carisma que só. Ainda que tenha em seu elenco a experiente Neide Van-Dúnem, sua personagem é tão deixada de escanteio, que mal faz parte da história central. Aliás, essa é outra questão que pesa negativamente na obra. Com uma visão deturpada e machista, todas as mulheres são hiper sexualizadas e mal desenvolvidas, servindo apenas de “colírio” para atrair o público-alvo, indo contra tudo que o cinema está buscando desconstruir atualmente.

A dupla de diretores Maradona Dias Dos Santos e Chris Roland parecem perdidos e desorientados em suas próprias ideias de fazer um longa de ação aos moldes hollywoodianos. Com isso, entregam um trabalho desequilibrado, nervoso, apressado e sem criatividade alguma. As sequências de ação são horripilantes de tão toscas, com CGI que parece ter sido tirado de algum capítulo de ‘Chapolin’, fora as cenas de luta mal coreografadas e o ânimo do elenco em fazê-las funcionar. Nada, de fato, decola depois que história finalmente “engrena”. A violência gráfica é sem justificativa, os personagens são completamente vazios e sem nuances e as cenas mais, digamos, “elaboradas”, com perseguição de carros e tiroteio, acabam se perdendo dentro de tanta presepada mal filmada e encaixada sem a menor necessidade. Menos é mais e, nesse filme, menos acaba sendo menos mesmo.

Roteiro

A parte técnica desce a ladeira à 100 km por hora, com uma fotografia escuríssima, enquanto o roteiro tenta agregar alguma sofisticação que seja a produção, apesar de não conseguir, exatamente por se manter preso demais à modelos do gênero que só funcionam por conta de um orçamento maior e mais bem aproveitado. A mistura de idiomas em cena também é bizarra e injustificável dentro da proposta. A cada três falas no idioma original, uma precisa ser em inglês sem razão aparente, talvez para deixar a trama mais “cool”, quando, na realidade, impede ainda mais que o público possa estabelecer uma conexão com aquele universo e personagens. Como se não bastasse, ainda há espaço para reviravoltas sem pé nem cabeça e que não surpreendem absolutamente ninguém, isso para não mencionar uma cena completamente terrível e sem lógica, de um acidente de carro no clímax do filme, que faz o espectador questionar a sanidade dos realizadores e o tempo que dedicou para essa história chata e desinteressante.

Conclusão

Através de tantas bizarrices técnicas, cenas toscas de ação, realizadas com “defeitos especiais” hilários e estreladas por atores monótonos, com uma direção completamente descompensada, que ‘Santana’ é facilmente um dos filmes mais enfastiantes desse ano na Netflix. Mesmo para quem ama o gênero e assiste o que vier, esse não tem nada para agregar.

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