Crítica | ‘O Silêncio do Pântano’ desperdiça talento de Pedro Alonso

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O ritmo é um dos elementos fundamentais para que uma história se torne instigante, principalmente quando o filme deseja ser um suspense. E mais essencial ainda, quando esse suspense entrega mais mistérios do que respostas. Caso haja problema de ritmo nessas circunstâncias, a obra dificilmente manterá uma ligação emocional com o espectador e, antes que possa conquistar ou mesmo prender a atenção, ela se perde. Digo isto pois é o exato caminho que o novo thriller psicológico espanhol da Netflix, ‘O Silêncio do Pântano’ (El Silencio del Pantano), percorre. Começa enérgico e sagaz, desanima ao longo da trajetória e termina sem ânimo algum.

O roteiro, baseado em um livro homônimo lançado em 2015, escrito por Juanjo Braulio, certamente se inspira inicialmente em produções como ‘Um Dia de Fúria’ (1993) e ‘Taxi Driver’ (1976), e começa uma narrativa promissora, ao mostrar o protagonista (vivido pelo ator Pedro Alonso), uma espécie de Dexter Morgan, sendo consumido pelo ódio gratuito. Porém, conforme avança, somos informados de que ele é um escritor de sucesso, além de ser um assassino psicopata no mundo real. Todo o desenvolvimento do personagem e as nuances entre ser o mocinho e o vilão é intrigante, especialmente pela boa atuação de Alonso, com sua presença fria e seu sorriso cínico, ao melhor estilo Berlim (personagem que viveu em La Casa de Papel), no entanto, quando a trama se divide em núcleos para apresentar os conflitos, é aí que ela desanda completamente, e sem volta.

A energia inicial se dissipa e somos apresentados à bandidos superficiais, personagens enjoados e rasos e subtramas que se arrastam. O plot inicial, sobre um assassino que mata acreditando estar fazendo o bem, é jogado no lixo totalmente. Até mesmo o protagonista perde tempo de tela. Os demais núcleos podem até gerar um conflito, que será resolvido muito porcamente no clímax, mas o tempo que levam para apresentar personagens, dilemas e o vai e vem de situações descartáveis, é um caminho sem volta rumo ao tédio. E põe tédio nisso, já que pelo menos uns 50 minutos do filme são desperdiçados para que nada aconteça de interessante e, quando finalmente acontece, passa rápido demais, sem que possamos absorver os impactos, como o tal confronto final entre o protagonista e o vilão racista impiedoso, por exemplo, que termina tão rápido, que toda a jornada até o momento parece ter sido em vão.

A direção do novato Marc Vigil é, de todos os males, o pior. O diretor não consegue desenvolver ritmo para a trama e nem carisma para os personagens. Os planos longos, geralmente interessantes para o mergulho na história, aqui são arrastados ao extremo. Há um momento, por exemplo, em que um personagem acorda no cativeiro e, através de um plano sem corte, é mostrado ele despertando, desorientado. O problema é que não tem o menor propósito essa cena ter sido filmada dessa forma tão demasiadamente arrastada. Completamente sem lógica, assim como a trilha sonora, que está em um nível de suspense oposto ao que vemos. Nada no projeto parece conversar entre si. Nada está no mesmo equilíbrio. Até mesmo o desfecho, com uma reviravolta previsível, se torna insuportável de tão ruim. A promessa que estava sendo construída nunca é entregue.

Com isso, ‘O Silêncio do Pântano’ afunda no brejo da falta de ritmo e desperdiça, com vigor, o trabalho de Pedro Alonso, através de uma trama arrastada, sem energia e maçante. Fora a premissa inicial, que indicava um filme intrigante, nada se salva nesse lamaçal de chatices. Apesar de ser uma competição acirrada, pode até não ser um dos piores filmes recentes da Netflix, mas está correndo na frente no quesito esquecível.

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