Crítica | Um Contratempo – Suspense de explodir cabeças na Netflix

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No início da história do cinema, fazer um filme se aproximava bem mais de fazer um ato de mágica para o espectador do que contar uma história consistente. Georges Méliès, o cineasta considerado o pai da ficção científica, também era ilusionista e trazia para seus pequenos filmes o seu talento único de manipular o olhar humano. Desde então, filmes são manipulados por seus realizadores, já dizia Hitchcock. E diretores/roteiristas também são uma vertente de mágicos, que utilizam o conceito básico do ilusionismo: enquanto você está concentrado em um ponto, alguma coisa está sendo feita sem que você perceba.

E é essa a base criativa do engenhoso roteiro de ‘Um Contratempo’ (Contratiempo), suspense espanhol que está disponível na Netflix. Enquanto o espectador está focado em desvendar as pistas da intrigante trama, o plot twist fantástico do desfecho se desenvolve diante de seus olhos desatentos. Mas essa tal desatenção é, claro, proposital pelo roteiro, que desvia a história para mais de um caminho a ponto de nos fazer acreditar em todas as possibilidades e, no melhor estilo “Detetive”, reunir as pistas dadas à conta gotas pela direção para poder, assim, ser surpreendido pelo final, que tira até mesmo o fôlego do protagonista, vivido brilhantemente pelo ótimo galã Mario Casas (A Casa).

Mas antes de se tornar um emaranhado de plot twists, a trama começa de forma convencional e apresenta seus mistérios com bastante calma, além de utilizar a fotografia sombria e a intensa trilha sonora para construir uma atmosfera de suspense interessante, que ganha o espectador mais e mais, especialmente quando acontece o tal imprevisto, que muda o rumo da história e mostra as consequências das decisões dos personagens após o ocorrido. Bárbara Lennie (Todos Já Sabem) vive a personagem que é o outro pilar de sustentação e sua vertente do roteiro a coloca em uma cena intensa e inesquecível, dentro de uma casa onde não deveria estar. Esse momento lembra outro bom filme, chamado ‘Eden Lake’, cuja cena da personagem buscando ajuda na casa errada é bem semelhante e igualmente desesperadora.

Como já citada, a direção de Oriol Paulo (de ‘Durante a Tormenta’, ‘O Corpo’ e ‘Os Olhos de Júlia’) é assertiva em seu excelente desenvolvimento de entregar as pistas aos poucos e, como um perfeito ilusionista, ocultar informações para serem entregues no momento certo, sendo um bom filme para ser visto mais de uma vez, já que as respostas se escondem nos pequenos detalhes. Ainda que a montagem e a direção sejam sofisticadas na forma ágil como manipula o espectador, o longa não é complexo ou mesmo difícil de ser compreendido, como outro recente espanhol O Poço, muito pelo contrário, aqui a história até dá voltas em torno de si mesma e confunde a cabeça, mas explica, de forma bem clara, como cada elemento se justifica. Essa perspicácia contribui, ainda mais, para o filme conquistar o público, em especial, o que não está interessado em pensar além do necessário.

Dessa forma, completamente eficiente em manipular o espectador, ‘Um Contratempo’ desenvolve sua trama como uma “bomba-relógio” e o roteiro engenhoso brinca com as possibilidades. Um perfeito exemplo de truque de mágica do cinema: enquanto você está seguindo as pistas falsas deixadas com perspicácia pela direção, a chocante revelação do final se desenvolve lentamente diante dos olhos desatentos do espectador. A fórmula perfeita para se fazer um suspense intrigante, sagaz e fundamental para os fãs do gênero, sem dúvida, uma obra impecável disponível na Netflix.

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