Crítica | ‘Deixe a Neve Cair’ desperdiça o potencial de ser a comédia natalina do ano

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O autor John Green sabe muito bem como trabalhar a complexidade da mente de um adolescente do século 21 ao desdobrar seus dilemas, aflições e decisões em livros realmente tocantes, porém, é um pouco mais complicado adaptar tamanha profundidade para um filme sem que soe apelativo e clichê, como as inúmeras adaptações de best-sellers sobre cachorros que morrem no final. Ainda que ‘A Culpa é das Estrelas’ tenha funcionado exatamente pelo apego excessivo à emoção, outras obras destoam da realidade e funcionam melhor nas páginas dos livros, como é o caso de ‘Deixe a Neve Cair’ (Let It Snow), adaptação para a Netflix do romance lançado em 2008 escrito em conjunto por John Green, Lauren Myracle e Maureen Johnson. Três grandes nomes, que desenvolvem histórias separadas, mas que se conectam no final.

O filme segue um tom melancólico e busca ser um conto moderno sobre diferentes tipos de adolescentes, que estão passando por diferentes dilemas, na véspera do Natal. A ideia é boa, porém, mal desenvolvida. O roteiro encontra problemas em conectar todas as subtramas, já que são diversos núcleos sendo explorados ao mesmo tempo e, como resultado, entrega uma trama picotada, desconexa e sem ritmo. Alguns núcleos, como da personagem vivida pela jovem Isabela Mooner (Dora e a Cidade Perdida) tem muito a dizer e pouca profundidade, já outros, como da personagem de Kiernan Shipka (O Mundo Sombrio de Sabrina), tem maior destaque e menos conteúdo, assim também como o do jovem Jacob Batalon (Homem-Aranha: Longe de Casa), que parece só existir para ser o alívio cômico exagerado. Esse desequilíbrio pesa negativamente para a narrativa, que diverte pouco e não emociona, pelo excesso de diálogos expositivos e situações convenientes.

A direção do novato Luke Snellin é descompensada e não consegue amarrar as tramas de uma forma que não percam o ritmo, porém, ao menos tenta elaborar alguns planos fora do padrão e, dentro de cada núcleo, mantém uma coesão. A falta de ritmo é, em partes, compensada pela boa trilha sonora, que embala diversas sequências feitas pela montagem para provocar emoção. Algumas funcionam e outras, apesar do tema retratado ser de extrema importância, soam encenadas demais, como por exemplo, a trama da jovem Liv Hewson (O Escândalo), que está apaixonada por uma menina não assumida. Até aí, ótimo, porém, sua resolução é corrida e forçada, assim como praticamente todas as demais histórias.

Como uma viagem de montanha russa, o roteiro apresenta cada núcleo e desenvolve seus rasos dilemas bem devagar enquanto sobe, para no final, descer desenfreado em busca de conclusões apressadas e conexões forçadas que possam justificar aquela história. Ainda que haja mensagens evidentes sobre aceitação, amizade e autoconhecimento, típicas de filmes cujo tema é o Natal, o vai e vem da trama acaba minimizando alguns impactos que deveriam provocar maior reflexão, fora que o ar melancólico aproxima este filme mais de obras fúnebres do diretor Gus Van Sant do que de uma comédia teen natalina eficiente. Por melhor que essa comparação possa parecer, o clima emocionalmente desequilibrado destoa do tipo de filme que tenta ser.

Com isso, o roteiro bagunçado e a trama picotada impedem que ‘Deixe a Neve Cair’ seja uma comédia natalina com todo o seu potencial e, dessa forma, a adaptação é apenas mais um filme fraco no catálogo da Netflix, que teria funcionado bem melhor se fosse uma série com 8 episódios e tempo de sobra para apresentar, desenvolver e dar uma conclusão digna aos seus personagens. É frustrante.

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