Não há franquia que resista a um roteiro pavoroso. E em Five Nights at Freddy’s 2, continuação do fenômeno da Blumhouse em 2023, o verdadeiro susto é perceber o quanto o filme subestima nossa boa vontade com uma trama tosca, incapaz de prender até quem entrou na sala disposto a embarcar na brincadeira. O elenco, coitado, parece tão animado quanto um animatrônico sem bateria.
O resultado é uma sequência protocolar e boba, que ignora por completo o lore rico, estranho e delicioso que os jogos e livros já entregaram de bandeja. Há, claro, uma tentativa tímida de explorar origens e acenar para personagens queridos pelos fãs, mas tudo é tão sem brilho e tão desajeitado que lembra adaptação de fanfic esquecida num fórum dos anos 2000, escrita no piloto automático. O ápice dessa experiência desastrosa é quando ela acaba. E, para completar o pacote, ainda termina sem a gentileza de nos dar um desfecho.
Índice
Os acertos e erros de Five Nights at Freddy’s 2

O problema de Five Nights at Freddy’s nunca foi sua história esquisita, na verdade, é justamente desse caos maluco que poderia surgir um terror raiz genuíno no estilo Silent Hill, mesmo dentro do clima teen da saga. As criaturas animatrônicas em si, apesar de não meter medo em ninguém (sejamos honestos!), possuem seu charme, mas a Blumhouse, dona de filmes preguiçosos e sinônimo de cinema fast-food, não parece estar muito disposta à sair do óbvio para fazer algo mais denso ou criativo do que uma narrativa absolutamente previsível e tosca, em que nada convence. Nada mesmo! Nem o elenco, nem os personagens, nem os sustos. O impacto dramático, que já foi o ponto forte do primeiro filme, aqui simplesmente evapora.
Alguns anos depois dos eventos do primeiro filme, os personagens ainda carregam os fantasmas do passado, especialmente Abby, interpretada pela insossa Piper Rubio, agora com 11 anos, que parece presa ao mesmo molde de sempre, sem qualquer traço de evolução psicológica. E outras franquias, como O Telefone Preto 2, já mostraram que é possível avançar com os dilemas infantis, mas aqui tudo permanece estagnado, preso no tempo e na limitação da atriz mirim.
Josh Hutcherson, sem muitos trabalhos recentes, retorna como protagonista e, por mais competente e dedicado que seja, Mike continua sendo um personagem difícil de engolir: irritante, monótono e incapaz de despertar empatia no público. Seus conflitos, que no primeiro longa ao menos tinham alguma textura, agora viraram fumaça. Nada o move, nada o transforma, e nada nos faz importar.

Esse é o grande pecado do roteiro: a sensação de que nada muda. Tudo parece congelado, e as poucas “novidades” surgem como artifícios preguiçosos para empurrar a trama adiante — caixas de música aleatórias, personagens que aparecem do além e justificativas que não justificam absolutamente nada. Desta vez, surge até uma nova entidade: uma marionete possuída pela fúria de uma criança, que, à la Annabelle, consegue controlar os demais animatrônicos. Uma ideia interessante… que, infelizmente, não rende nem metade do potencial.
A direção genérica de Emma Tammi, que retorna ao comando, parece operar no modo soneca. Ela se entrega completamente às facilidades do roteiro, sem qualquer esforço para imprimir personalidade ou algum toque artístico que tire o filme do lugar comum. Nem mesmo a presença da sempre boa Mckenna Grace consegue alterar esse cenário enfadonho.
Com a fotografia sufocantemente escura e mal trabalhada, trilha arrastada e sustos que dependem exclusivamente de jump scares, a imersão nesse universo é quase inexistente. É o tipo de terror que, em vez de acelerar nosso coração, começa a acelerar o bocejo já na metade do filme. O clímax, por sua vez, é um desastre apressado e mal estruturado, jogado dentro de um evento da cidade que parece colado à narrativa com fita adesiva.
Elizabeth Lail até ganha mais espaço como a filha do Afton (Matthew Lillard) e é encaminhada como potencial grande vilã de um filme futuro que, infelizmente, deve existir, mas entrega uma performance tão desprovida de carisma e emoção que a ameaça se dissolve antes mesmo de se formar. O que realmente se salva aqui e mantém o nível do filme anterior são os animatrônicos e os efeitos práticos usados para dar vida aos monstros.

Ainda que se movam com a agilidade de um ventilador velho e seja quase impossível acreditar que poderiam alcançar alguém que simplesmente decidisse correr, é genuinamente divertido vê-los em cena. Há um certo charme nessa presença física, e o senso de humor até funciona, mesmo com piadas infantis e repetitivas. Em diversos momentos, o filme nos faz rir, mas sempre pelos motivos errados.
Veredito
Five Nights at Freddy’s 2 é a prova de que não basta ter um universo rico à disposição se falta coragem — ou simplesmente vontade — de explorá-lo. O filme repete velhos vícios, recicla ideias e se apoia em um roteiro que mais parece um rascunho perdido entre reuniões de produção. Os personagens não evoluem, a trama não se movimenta e a direção não arrisca. É uma continuação que se contenta em existir, sem envolver e sem oferecer a menor fagulha de surpresa. O resultado é um produto frio, que tenta mascarar sua falta de substância com jump scares e nostalgia barata, mas não sustenta nem o entusiasmo dos fãs mais leais.
Se algo se salva nessa travessia, são os animatrônicos, ironicamente, as únicas criaturas com alguma “vida” em cena. Efeitos práticos bem executados e um charme desajeitado garantem momentos pontuais de diversão, ainda que involuntária. Mas isso é pouco diante de um filme que parece sempre preso ao mesmo cômodo escuro, sem imaginar portas novas para abrir. Five Nights at Freddy’s 2 termina como começou: sem alma e sem rumo. Uma sequência fast-food barulhenta, lenta e incapaz de chegar a algum lugar realmente interessante.
NOTA: 2/10
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