Crítica | Os Fantasmas Ainda se Divertem – O puro suco de Tim Burton

É inegável que Tim Burton se consolidou como um mestre de estilo único, embora seja constantemente assombrado pelos grandes sucessos de sua era de ouro. Ao longo de quase 40 anos de cinema irreverente, ousado e peculiar, ele construiu uma carreira marcada pela repetição de temas e estéticas que, para alguns, já se tornaram cansativas. No entanto, é difícil negar o carinho com que ele aborda cada um de seus projetos.

Embora o seu segundo grande sucesso comercial, que se tornou um clássico cult da sessão da tarde desde sua estreia em 1988, não precisasse de fato de uma sequência, isso não significa que não seja empolgante ver esse mundo icônico de volta, especialmente sob a direção de seu criador e com parte significativa do elenco original. Muitos defendem que filmes clássicos são sagrados e não deveriam ser revisitados, mas o cinema é feito de ciclos e gerações, e é presunçoso acreditar que um raio não pode cair duas vezes no mesmo lugar. Pois a gente sabe que cai.

Burton, que raramente se aventura em sequências — tendo feito apenas uma, com Batman: O Retorno —, traz uma visão única e apaixonada para qualquer projeto que abraça, o que torna sua obra sempre digna de ser apreciada no cinema. E Os Fantasmas Ainda se Divertem: Beetlejuice, Beetlejuice nos oferece a rara oportunidade de revisitar um passado onde o cinema parecia ser guiado mais pelo coração do que pela ganância ou universos compartilhados.

Os acertos e erros de Os Fantasmas Ainda se Divertem: Beetlejuice, Beetlejuice

É claro que para trazer de volta algo que reflete tão bem os anos 80, é essencial abraçar a esquisitice e o lado mais trash, replicando a estética visual e sonora da época, mas com um toque de modernidade. O roteiro de Os Fantasmas Ainda se Divertem enfrenta grandes desafios: revisitar o passado, mostrar como esses personagens estão hoje, justificar uma nova aventura e dar uma conclusão a esse universo.

Em grande parte, o filme cumpre bem essa missão, justificando seu retorno com uma trama simples, direta e convincente, que respeita seu legado e mantém a essência dos personagens, embora algumas pontas fiquem soltas.

Burton é mestre em criar mundos únicos, mas tem dificuldade em conectá-los com a realidade. Mas a falta de uma história sólida já era um problema no filme original, o que talvez explique por que a sequência, agora com mais visão, experiência e orçamento, funciona tão bem como um revival de algo que tinha muito a dizer, mas permaneceu em silêncio por mais de 30 anos.

Embora o novo longa mantenha uma narrativa leve e bobinha, ele aproveita ao máximo o tom irônico e o design de produção criativo (que remete a O Gabinete do Dr. Caligari) que tornaram a comédia de terror tão querida no passado.

Esses elementos preservam o charme já conquistado, ao mesmo tempo em que sobra espaço para desenvolver novos personagens divertidos e introduzir subtramas que enriquecem o roteiro, como a presença da filha de Lydia, Astrid, vivida pela atual rainha dos gritos Jenna Ortega (Wandinha), que está boa no papel da filha adolescente rebelde que lembra sua mãe gótica quando tinha sua idade. Um tom abaixo de Wandinha, mas ainda muito caricata.

Agora, Lydia, a ex-gótica e antissocial interpretada novamente pela sempre carismática Winona Ryder, trabalha como médium em um popular programa de televisão. No entanto, a morte de seu pai a leva de volta à cidade de Winter River, onde, na adolescência, ela viveu a experiência de conhecer o fantasma mais bizarro, cômico e canastrão de todos, Besouro Suco (ou Beetlejuice).

Acompanhada por sua madrasta Delia (Catherine O’Hara) e seu namorado e empresário Rory (Justin Theroux), essa premissa nos transporta de volta ao cenário do primeiro filme. Michael Keaton retorna com energia total, mesmo tendo o mesmo tempo limitado de tela de antes, no papel do fantasma assediador.

O elenco se apoia na nostalgia, adicionando novas camadas aos seus personagens. Por fim, temos a esposa morta desmembrada de Beetlejuice, Delores (Monica Bellucci) e Willem Dafoe, que vive um falecido ator de filmes B e que acredita ainda estar atuando. Duas adições animadas e bem-vindas, mas bem mal desenvolvidas e um tanto fora de sintonia.

O mundo dos mortos sempre foi mais vibrante e colorido nas obras de Burton, e aqui não é diferente. Ao longo dos anos, seus filmes se tornaram mais sérios e sombrios, excessivamente adultos, mas nesta sequência, o diretor se liberta dessa repressão, resgatando a essência infantil, boba e imaginativa que caracteriza sua mente brilhante. E é nesse cenário que Burton brilha, comandando com maestria algo que ele conhece profundamente, em contraste com seus últimos e desastrosos projetos, especialmente na Disney.

O filme é repleto de números musicais à la The Rocky Horror Picture Show, cores elétricas, danças e uma alegria contagiante pelo macabro e pelo fúnebre, algo que só ele consegue fazer dar certo sem ficar cafona. Fora, claro, os infames trocadilhos com a morte e piadas visuais hilárias sobre a burocracia do pós-vida. O mais puro suco da comédia de horror.

Além disso, o uso de efeitos práticos e stop-motion torna a obra absolutamente encantadora, revivendo a paixão por fazer filmes de maneira mais crua e criativa, sem depender excessivamente de CGI. Essa abordagem, embora ousada para a geração atual acostumada com filmes da Marvel, é uma verdadeira maravilha visual. Burton demonstra coragem e sabe que, ao colocar afeto em seu trabalho, esse sentimento se refletirá na tela, conquistando tanto os fãs antigos quanto os novos que estão por vir.

Veredito

Os Fantasmas Ainda se Divertem: Beetlejuice, Beetlejuice preserva o charme analógico de um cinema feito com paixão, tanto pelos personagens quanto pelo icônico mundo que apresenta. Tim Burton, consciente de seu estilo característico, abraça sua própria repetição e retorna às suas origens, entregando uma das melhores experiências cinematográficas de sua carreira.

Sua estranheza e amor pelo macabro tornam-se o combustível para uma história espirituosa, vibrante e nostálgica, que certamente deixará os fãs em êxtase. De fato, Burton é um dos raros cineastas atuais que parecem realmente se divertir ao fazer filmes, e em uma época dominada por sequências-legado e blockbusters de grandes marcas, é revigorante ver os fantasmas se divertirem mais uma vez. E que sejamos assombrados por isso, por mim está tudo bem.

NOTA: 8/10

Clique aqui e compre seu ingresso para o filme

LEIA TAMBÉM:

Última Notícia

Mais recentes

Publicidade

Você vai querer ler isto: