Crítica | Ficção Americana – Sátira brilhante sobre o que precisa ser dito

É realmente lamentável constatar que, entre toda a enxurrada de produções comerciais que invadem as telas dos cinemas brasileiros, um dos filmes mais cativantes do ano passado, indicado ao Oscar de Melhor Filme este ano, chegue aqui quase despercebido, perdido no catálogo do Prime Video. No entanto, é o poder do boca a boca que mantém American Fiction (ou Ficção Americana) à tona.

Esta comédia dramática afiada, que examina o domínio dos clichês em Hollywood, pode não ter recebido o palco merecido fora dos Estados Unidos, mas sem dúvida destaca como um roteiro excepcional e um elenco poderoso podem transformar um filme simples em uma obra repleta de emoção. Ficção Americana é daqueles filmes que não só têm algo a dizer, mas também levantam questionamentos importantes – algo cada vez mais raro nos dias de hoje.

A trama e o elenco de Ficção Americana

Apesar do título, que habilmente brinca com os estereótipos dos afro-americanos através de uma lente afro-americana, o filme vai além das fronteiras dos Estados Unidos ao questionar e satirizar os clichês associados à comunidade negra na sociedade. Este feito é realizado com inteligência, perspicácia e um respeito notável, algo que é raro no cinema atual.

O roteiro, hilário, demonstra uma plena consciência das feridas que toca, se revelando bastante corajoso ao expor as camadas sem temer a dor que possa surgir. A estreia na direção do roteirista da série limitada da HBO, Watchmen, Cord Jefferson, é simplesmente brilhante. Sua habilidade em conduzir a narrativa de forma comovente e hilariante ao mesmo tempo, mantendo os personagens enraizados, é verdadeiramente admirável.

O enredo do filme confronta a obsessão de nossa cultura em reduzir as pessoas a estereótipos ultrajantes. O talentoso Jeffrey Wright (Westworld) protagoniza como Monk, um romancista frustrado que está cansado de ver o sistema lucrar com o entretenimento “negro” baseado em clichês desgastados e ofensivos.

Em uma tentativa de provar seu ponto de vista, Monk utiliza um pseudônimo para escrever seu próprio livro “negro” bizarro, que o leva a uma jornada reveladora sobre a hipocrisia e a loucura que ele tanto despreza. No entanto, ao entregar exatamente o que o público branco deseja ler, o livro de Monk se torna um best-seller, fazendo-o confrontar as engrenagens de uma sociedade estruturalmente racista das quais ele, por vezes, preferia desviar o olhar.

Ficção Americana oferece uma perspicaz e hilariante reflexão sobre as consequências da comercialização da arte. A jornada de Monk em busca do sucesso com seu livro falso é especialmente divertida, repleta de diálogos inteligentes e momentos de genuína ternura. Ao defender seu ponto de vista, o protagonista se vê confrontado com sua própria identidade como homem negro em uma sociedade hipócrita.

Mesmo que essa fosse a única façanha do filme, já seria notável. No entanto, o que eleva essa obra a um patamar brilhante, além das performances excepcionais de seu elenco, é a maneira como explora o valor de contar e ouvir histórias a partir de diversas perspectivas – inclusive aquelas consideradas vulgares ou potencialmente ofensivas. Acima de tudo, é uma história sobre o processo de escrita de um artista que precisa lidar com todas as barreiras do que é comercial e do que realmente importa contar.

Veredito

Apesar de ter chegado na calada da noite ao Brasil e quase passado despercebido nos serviços de streaming, o indicado ao Oscar de Melhor Filme deste ano, American Fiction (ou Ficção Americana), possui um dos roteiros mais brilhantes do cinema contemporâneo.

Este roteiro habilmente tece um drama satírico carregado de acidez, verdades e profundo afeto por seus personagens em conflito, revelando os obstáculos enfrentados pelos artistas marginalizados na indústria do entretenimento como um todo. É uma obra plenamente consciente das feridas que toca e corajoso em arrancar as cascas sem medo de sentir dor. 

Ficção Americana é instigante, inteligente e por vezes absolutamente hilário. O elenco é excepcional, com destaques para as performances brilhantes de Jeffrey Wright e Sterling K. Brown. Todos os envolvidos merecem reconhecimento por suas contribuições para este filme notável. Uma crítica contundente, porém necessária, ao sistema que consome estereótipos e reduz pessoas a meras capas de livros.

O filme está disponível no Prime Video.

Nota: 9/10

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