Crítica | Beekeeper – Uma picada dolorida de absurdos

Publicidade

As abelhas continuam sendo o alvo de agitação nas telas de cinema, seja em produções como Bee Movie, Candyman ou até mesmo em filmes questionáveis com Nicolas Cage. Esses insetos parecem estar constantemente à beira do desespero, uma realidade que persiste no novo e peculiar filme de David Ayer, que, de maneira surpreendente, não se limita apenas a destruir Esquadrão Suicida. Em Beekeeper – Rede de Vingança, Ayer não consegue polinizar uma experiência divertida com um enredo coeso. No entanto, habilmente investe na roupagem de um “filme de ação de vingança”, atraindo aqueles sedentos por entretenimento.

A trama e o elenco de Beekeeper – Rede de Vingança

A mais recente incursão anual hipermasculina de Jason Statham nas telonas não traz nada de inovador, apresentando o astro de ação em um papel que já vimos repetidas vezes. Surpreendentemente, esta é uma das partes mais decepcionantes de Beekeeper, pois seu enredo é, de fato, criativo e promissor. A trama envolve uma rede ultra secreta de indivíduos responsáveis por manter o sistema global em funcionamento, algo reminiscente do universo muito mais coeso de John Wick.

O problema surge quando a direção desajeitada de Ayer se combina com a falta de habilidade dramática de Statham, resultando em um roteiro repleto de conveniências e deuses ex machina. O que resta são apenas cenas de luta monótonas, acompanhadas por efeitos sonoros que remetem a desenhos animados. Não há escapatória quando somos arrastados para o intricado mundo sem muita coerência da trama, e nos resta encontrar, em meio ao caos, algo pelo qual nos agarrar.

Embora o roteiro se esforce para tecer críticas sociais contundentes ao mundo moderno e tecnológico, destacando o protagonista, Adam Clay, como um indivíduo resistente forçado a abandonar sua aposentadoria para se vingar de uma rede de hackers que prejudica pessoas vulneráveis, sua jornada pela narrativa segue o padrão já conhecido. Adam é retratado como invencível, inquebrável e, aparentemente, quase inumano, conseguindo sobreviver e superar desafios aparentemente sem grandes planos ou estratégias.

Até aí, tudo bem (será?). O problema surge quando nem o roteiro, nem os personagens incrivelmente clichês conseguem se levar a sério, resultando em cenas que flertam perigosamente com o abismo do cômico. Cada linha do texto frágil de Kurt Wimmer (de Os Mercenários 4), cada diálogo exageradamente óbvio, parece empenhado em nos lembrar de que o protagonista é um apicultor apaixonado e que o sistema das abelhas é a espinha dorsal da trama.

Adam Clay repete incessantemente clichês sobre a inteligência, organização e vingança das abelhas, sem qualquer peso dramático ou aprofundamento narrativo, tornando-se quase um robô programado para ser irônico – e sem graça. Mesmo quando alguns momentos de humor surgem, como alguém comparando o protagonista ao Ursinho Pooh, a sensação de artificialidade persiste. Sem mencionar o papel dos vilões no filme.

Josh Hutcherson (Five Nights at Freddy’s) interpreta o filho mimado da presidente dos EUA e parece preso em uma interpretação óbvia, sem conseguir explorar camadas mais profundas de como seu personagem deveria agir. O talentoso Jeremy Irons (Casa Gucci) também se vê aprisionado na previsibilidade de seu papel.

Essa falta de profundidade reflete a direção ansiosa de Ayer, mais empenhado em integrar a analogia com as abelhas do que em desenvolver seus heróis e vilões para construir um universo envolvente. Talvez a melhor performance, e a única que realmente desperta nossa empatia, seja a de Emmy Raver-Lampman (The Umbrella Academy), mesmo enfrentando diálogos por vezes lamentáveis.

Quanto à ação desenfreada, o apelo do entretenimento certamente dependerá da sua disposição para suspender a descrença, pois, mesmo para um filme de ação, Beekeeper demonstra um notável descaso com a realidade. Apesar de apresentar algumas ideias interessantes e utilizar uma iluminação amarelada para criar a atmosfera de uma colmeia (o que, por sinal, é bastante absurdo), as cenas de ação sofrem de uma notável inconsistência, mesmo diante do desempenho vigoroso de Statham.

Veredito

É frustrante observar que Beekeeper – Rede de Vingança, embora comece com um enredo promissor, fica preso em sua própria colmeia de inconsistências. O filme se revela a personificação do genérico, sem aspirações à realidade e confiando excessivamente na performance robótica de Jason Statham. É como se fosse um enxame de situações absurdas embaladas por um roteiro superficial, cínico e com o humor de um adolescente de 13 anos obcecado por abelhas.

E falando em abelhas, é de dar pena ver esses insetos involuntariamente estrelando mais um projeto que é um verdadeiro desperdício de tempo e dinheiro por parte de David Ayer. Se você busca cenas de ação que parecem ter saído de desenhos animados, pode até encontrar diversão, mas precisará enfrentar camadas intermináveis de um tédio adoçado como mel. Se, por outro lado, você é alérgico a enredos simplistas e ações desajeitadas, talvez seja mais sensato manter distância deste filme.

NOTA: 3/10

Leia também: Crítica | Wish – 100 anos de Disney amontoados em filme indesejado


Aproveite para nos acompanhar nas redes sociais: Facebook, Twitter, Instagram, Youtube e também no Google News

Quer receber notícias direto no seu celular? Entre para o nosso canal no WhatsApp ou no Telegram.

Última Notícia

Mais recentes

Publicidade

Você também pode gostar: