Em A Era de Ouro (Spinning Gold), da Paris Filmes, nos deparamos com uma cinebiografia que ousadamente coloca uma gravadora no holofote ao invés de um único artista pop. Porém, ao tentar esculpir algo novo, esse filme sobre o produtor musical Neil Bogart tropeça na mesma pedra que muitas cinebiografias atuais de artistas: um ritmo acelerado, que cansa os olhos e afoga a narrativa em uma enxurrada de eventos triviais da vida do protagonista. Como uma melodia repetitiva, poucas surpresas são encontradas na trama, com o protagonista insuportável sendo seu grande – e irreparável – desafino.
A trama e o elenco
A Era de Ouro retrata a vida de Bogart, um sonhador judeu que, com muita determinação e escassos recursos, tornou-se bilionário graças à sua gravadora, a Casablanca Records. Esse selo, que deu origem a uma lista impressionante de grandes nomes da música nos anos 70 – como KISS, Donna Summer, Gladys Knight e The Village People – deixou uma marca na história da música. No entanto, a história da superação pessoal de Bogart, apesar de cativante, se afoga em um roteiro que gira em torno de apostas financeiras, tornando difícil simpatizar com um mulherengo que usava seu carisma para atrair artistas.
A direção do filho de Bogart, o pouco conhecido Timothy Scott Bogart (Páginas de Uma Vida), é como uma canção de ninar cantada com alegria, mas que acaba por cansar o ouvinte. Sua condução acelerada e descompassada, que estende uma história com poucos acordes para mais de duas horas, parece um remix desafinado dos clichês de obras como Bohemian Rhapsody com I Wanna Dance with Somebody.
A atuação de Jeremy Jordan, por sua vez, conhecido por seu trabalho em Supergirl, ecoa como uma nota mediana em meio à cacofonia da produção, não se destacando nem provocando a empatia do público. O filme, apesar de deslizar em uma série de erros de continuidade e apresentar personagens secundários irrelevantes, acerta em cheio na direção de arte e maquiagem, que brilham em meio a tantas notas baixas.
No entanto, um filme que mergulha na década de 70, acaba trazendo à tona uma série de questões plásticas e medíocres da época, tornando-se uma bagunça de 27 milhões de dólares que não justifica em nada esse orçamento além das roupas extravagantes. As telas verdes e os efeitos digitais são absolutamente constragedores.
Não é que seja um filme inassistível, mas tudo é tão artificial, monótono e montado sob medida pelos olhos de alquém que deseja “passar pano” que se torna entediante apesar de sua inspiração em uma história verdadeira com pontos divertidos. A tentativa do roteiro de representar a tão clichê busca pelo sonho americano acaba por se tornar uma abordagem superficial e esquemática de uma época de inquietação artística muito maior do que a personalidade colocada no centro de tudo. Bogart é cheio de falhas – o que o torna interessante e charmoso na perspectiva narrativa – mas é igualmente chato e irritante.
A melhor parte do filme acaba sendo os créditos finais, quando podemos ver alguns clipes do verdadeiro Neil Bogart e seu carisma inegável. Essa produção, que durou 10 anos para ser concluída, parece um desfile cansativo de metáforas musicais que falham em compor uma sinfonia harmoniosa e envolvente. No fim da sessão, o que resta é a sensação de que o público merecia uma melodia mais cativante e menos abrangente.
Veredito
A Era de Ouro, que se vende como uma carta de amor de um filho para seu pai irreverente, soa bem mais como um pedido de desculpas tardio e que força o público a perdoar um homem que, além do seu bom ouvido para música, não tem nada de interessante a nos ensinar.
Uma cinebiografia que tenta desesperadamente inovar, mas que acaba por se perder em meio a uma enxurrada de clichês, personagens unidimensionais e um ritmo tão acelerado que acaba por confundir mais do que cativar. É uma obra que tem seus méritos, mas que, infelizmente, falha em entregar um retrato aprofundado e emocionante de um homem que deixou uma marca perdurável na história da música. Assistível mas passável.
NOTA: 4/10
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