Pois é, demorou quase quatro décadas e dezenas de adaptações de videogame que não funcionaram para Super Mario Bros. finalmente ganhar a aventura na tela que ele sempre mereceu. Uma falha que precisou de todo esse tempo marinando para fazer nascer algo que possui tudo o que você esperaria de um filme desse tipo e, claro, beneficiando-se imensamente da infinita criatividade de inúmeros desenvolvedores de jogos, artistas e músicos que fizeram da franquia Mario um verdadeiro rolo compressor da cultura pop.
Super Mario Bros. – O Filme é realização de toda essa união de sedução e peculiaridade, mergulhado em um turbilhão de fan services dos games dentro de uma narrativa desenfreada. Mas, apesar de fiel à sua essência encantadora, o enredo meia boca deixa muito a desejar. De fato, é uma trama fácil e absolutamente preguiçosa para um filme tão visualmente especial e inspirado, como se comêssemos um cogumelo mágico e passássemos por uma good trip espetacular, mas que não vai para lugar algum.
A trama e o elenco
O enredo água com açúcar acompanha a aventura inesperadamente eletrizante de Mario (Chris Pratt) e Luigi (Charlie Day), dois encanadores fracassados de Nova York que são literalmente sugados para os mundos encantadores e coloridos que existem no submundo mágico da cidade. Os irmãos se separam e a trama acompanha a jornada para se reencontrarem – com a ajuda da sabichona princesa Peach (Anya Taylor-Joy) – antes que um temido vilão possa destruir tudo pelo caminho. A configuração é previsível ao quadrado e possui todas batidas clássicas desse estilo “forasteiro medroso que vira herói”, mas não deixa de ser um poço infinito de cenários selvagens e iconografia, que entregam um espetáculo de momentos inventivos de ação desenfreada.
E é através dessa criatividade aguçada de adaptar somente o que funciona e dando um ar mais prático (na medida do possível) para algumas particularidades do universo de Mario, que o filme felizmente possui um grande equilíbrio de acessibilidade para o público em geral e piadas internas para aqueles fãs de longa data. O uso pesado de referências não é uma coisa boa por si só, mas sua inclusão parece justificada porque são usadas de maneiras que parecem relevantes e orgânicas para o mundo que está sendo apresentado nas telonas.
Na pior das hipóteses, sequências como a épica corrida Rainbow Road podem parecer forçadas quando não justificam totalmente a existência de qualquer tipo de razão lógica (a não ser, claro, vender brinquedos de Mario Kart), mas o filme não parece muito interessado em estabelecer qualquer raciocínio profundo além de apenas preservar o divertimento infantil. E está tudo bem, afinal, grande parte da magia por trás da existência dessa obra está em apresentar Mario para a Geração Alfa. E isso o filme faz muito bem. Uma vez que se compra as regras desse ambiente caótico e multicolorido, a aventura flui que é uma beleza.
A vibração visual do filme define um padrão bastante alto para as outras adaptações de videogames animados que certamente virão, seja da Nintendo ou de outro estúdio. Do mundo maligno de Bowser ao Reino dos Pinguins, as amplas paisagens de cogumelos do Reino do Cogumelo e a vegetação tropical do Reino da Selva dos Kongs são paisagens de sonho supersaturadas que se fundem em um mundo movimentado, expressivo e imaginativo que implora para ser explorado ainda mais em inevitáveis sequências grandiosas. O lado musical – com clássicos dos anos 80 – é uma alegria à parte, um mimo aos amantes dos jogos.
Fora alguns clichês bobos e desnecessários, assim como o uso exaustivo de câmera lenta para destacar piadas, a narrativa é abarrotada de momentos fofos que salvam o filme de ser apenas mais uma animação genérica e sem alma. A condução da dupla Aaron Horvath e Michael Jelenic é enérgica e imaginativa do começo ao fim. Além de conter boas mensagens saltitadas sobre bravura, amizade e companheirismo. Mesmo sendo uma personagem de uma piada sem impacto para a trama central, a depressiva Lumalee (Juliet Jelenic) causa grandes gargalhadas todas as vezes que surge em cena.
Conclusão
De fato, Super Mario Bros: O Filme é uma explosão tão colorida e constantemente alegre que estabelece um padrão de maestria para as futuras adaptações de videogames. Sua energia desenfreada e contagiante desentope a nostalgia, aquece nossos corações e brinca de ser o Mad Max infantil que o cinema de animação estava precisando.
Porém, apesar de ser um belíssimo espetáculo visual, os arcos emocionais mal cozidos não recebem a mesma atenção que a estética e falta enredo para preencher tanto entusiasmo. Entretanto, é um filme cativante, que abre as portas desse universo surreal aos novos públicos, mas que também proporciona a perdição de easter eggs ao fã raiz conservador. Saltando por cima de suas falhas, é uma divertida carta de amor ao legado de Mario e à história do videogame.
NOTA: 8/10
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