Crítica | Mistério em Paris – Tão interessante quanto ver a Torre Eiffel em um dia nublado

É difícil não criticar a falta de ânsia por fazer algo minimamente novo que assola a Netflix nos últimos 5 anos. E não é sem fundamento dizer que grande parte de suas obras mais populares perderam a relevância em pouquíssimo tempo. Isso se deve, e muito, ao fato de como tudo parece mais do mesmo – e nem as continuações demostram força para se sobressair.

Se em 2019 Mistério no Mediterrâneo foi um enorme hit na plataforma, é difícil imaginar que sua sequência tenha a mesma sorte agora. Mistério em Paris segue o mesmíssimo formato do primeiro filme, trazendo um mistério envolvendo um assassinato em um ambiente luxuoso e glamouroso. No entanto, a falta de inovação na trama e a repetição dos mesmos clichês tornam a trama previsível e pouco surpreendente. Mais uma paródia do estilo intrigante das histórias de Agatha Christie que soa bem mais como uma real ofensa.

A trama e o elenco

Depois de Rian Johnson dar uma verdadeira revitalizada no subgênero murder mystery com seus ótimos Glass Onion: Um Mistério Knives Out e com a série Poker Face, o padrão estabelecido atingiu a estratosfera. E, mesmo que o intuito seja parodiar o estilo e brincar com as conveniências clássicas, Mistério em Paris parece ter sido escrito por uma criança de 10 anos. Aliás, talvez alguém tão jovem tivesse ideias bem mais frescas e interessantes para um filme desse tipo, quem sabe?

Os personagens interpretados pela naturalmente hilária Jennifer Aniston e pelo engessado Adam Sandler (mais uma vez no piloto automático), que já haviam sido apresentados no filme original, continuam carismáticos e divertidos, mantendo o bom humor e a química entre eles. No entanto, a falta de desenvolvimento de novos personagens e a pouca profundidade dos já existentes fazem com que a trama pareça superficial e sem grandes desdobramentos. Dessa vez vemos o casal Spitz – agora detetives profissionais e em tempo integral – envolto a um mistério quando um velho amigo é raptado de seu casamento, dando início assim a uma busca internacional por seu paradeiro o pela motivação de tal crime.

Obviamente, mudança de ares agrega um valor de produção adicional e a ambientação em Paris, com seus cenários deslumbrantes e elegantes, é um dos pontos altos do filme. As locações, como a Torre Eiffel e o Arco do Triunfo, são exploradas de forma engenhosa e criativa, adicionando um toque de sofisticação e charme à história. Além disso, a fotografia do filme é bem trabalhada, criando uma atmosfera de suspense e mistério durante a noite barulhenta da capital. As sequências de ação, ainda que diluídas ao longo da trama, são divertidas e representam uma melhora significativa ao minúsculo filme anterior.

No entanto, a história é fraca e previsível, especialmente quando comparada ao primeiro filme – mais focado numa narrativa contida. O enredo é basicamente o de um filme de mistério clássico, com um grupo de suspeitos em um local isolado e um detetive tentando desvendar quem é o assassino. O problema é que o filme não consegue criar nenhum tipo de tensão real, e a resolução do mistério é bastante previsível e pouco satisfatória. Carece de momentos realmente emocionantes ou empolgantes. Mesmo com algumas reviravoltas, a sensação é de que o enredo não evolui muito, o que pode deixar o espectador desinteressado. A presença de Mark Strong (Shazam!) já induz que o astro viverá um vilão e até nisso a revelação sobre a identidade do criminoso, assim como sua motivação, é mesquinha e preguiçosa.

A direção

A condução de Jeremy Garelick, por sua vez, é desanimadoramente mediana. Embora o filme seja visualmente agradável, a direção não consegue manter um ritmo constante. Algumas cenas parecem arrastadas e desnecessariamente longas, enquanto outras são muito curtas e não conseguem desenvolver a trama e seu mistério central. Além disso, a trilha sonora não cria uma atmosfera de suspense, o que é crucial em um filme de mistério.

Outro problema é, claro, o roteiro. Embora o elenco faça o possível para tornar as piadas engraçadas, muitas vezes o humor é forçado e sem ânimo. O filme tenta fazer piadas com estereótipos culturais, mas muitas vezes isso acaba sendo ofensivo e não engraçado. Além disso, algumas das cenas são tão absurdas que acabam tirando o espectador da história.

Veredito

Por fim, Mistério em Paris diverte, mas não surpreende e nem evolui a franquia. A sequência até tem alguns pontos positivos, como o elenco talentoso e as belas paisagens francesas, mas é prejudicada pela trama fraca e previsível, roteiro forçado e humor sem ânimo. Se você está procurando um filme leve e divertido para passar o tempo, pode ser que a comédia atenda às suas expectativas, mas não espere muito mais do que isso.

Agora, como uma sequência maior e mais animada para um verdadeiro hit da Netflix, soa tão interessante quanto ver a Torre Eiffel em um dia nublado. O mistério mesmo é quantos boletos Jennifer Aniston e Adam Sandler precisam pagar para aceitar voltar para algo tão preguiçoso e fim de carreira.

NOTA: 5/10

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