Todo Dia A Mesma Noite | Relembre a trágica história da Boate Kiss que inspirou a série da Netflix

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Já está disponível na Netflix a comovente minissérie Todo Dia A Mesma Noite, que remonta a cronologia de uma das maiores tragédias brasileiras 10 anos depois. A trama ficcional baseada no livro homônimo da jornalista Daniela Arbex revela os bastidores do ocorrido e a luta das famílias por justiça, que segue até hoje.

A série reconstitui de maneira sensível os eventos da madrugada de 27 de janeiro de 2013, quando a cidade de Santa Maria perdeu de uma só vez 242 vidas em um incêndio terrível na Boate Kiss. Aqui está tudo que você precisa lembrar desse desastre e como estão as famílias.

A noite

Naquele dia que nunca será esquecido, a festa denominada “Agromerados” iniciou-se às 23 horas de 26 de janeiro de 2013, sábado, na popular Boate Kiss, localizada na rua dos Andradas, no centro da cidade de Santa Maria (Rio Grande do Sul). A reunião foi organizada por estudantes de seis cursos universitários e técnicos da Universidade Federal de Santa Maria. Duas bandas estavam programadas para se apresentarem à noite. Estimou-se que entre quinhentas a mil pessoas estavam na boate. Eram na maioria estudantes.

Por volta das 2h30 min de 27 de janeiro, durante a apresentação da banda Gurizada Fandangueira, a segunda banda a se apresentar na noite, um sinalizador de uso externo foi utilizado pelo vocalista da banda. O sinalizador soltou faíscas que atingiram o teto da boate, incendiando a espuma de isolamento acústico exigida pelo Ministério Público em Termo de Ajustamento e Conduta, que não tinha proteção contra fogo. Os integrantes da banda e um segurança, chamado Zezinho, tentaram apagar as chamas com água e extintores, mas não obtiveram sucesso. Em cerca de três minutos, uma fumaça espessa se espalhou por toda a boate.

No início do incêndio, não se teve comunicação entre os seguranças que estavam no palco e os seguranças que estavam na saída da boate. Esses, então, não permitiram inicialmente que as pessoas saíssem pela única porta do local, por acreditarem tratar-se de uma briga. A casa funcionava através do pagamento das comandas de consumo na saída, o que levou os seguranças a também pensarem que as pessoas estavam tentando sair sem pagar. Muitas vítimas forçaram a saída pelas portas dos banheiros, confundindo-as com portas de emergência que dessem para a rua. Em consequência disso, 90% dos corpos foram encontrados nos banheiros.

Durante o incêndio, de dentro da boate, uma das vítimas fatais conseguiu enviar uma mensagem através da rede social Facebook, comunicando o incêndio e pedindo ajuda. A mensagem foi registada pelo Facebook como recebida às 3h20. Ainda sem saber das dimensões da situação, amigos pediram mais informações, mas não obtiveram resposta.

A Boate Kiss foi inaugurada no dia 31 de julho de 2009 e era um grande sucesso empresarial, com filas que dobravam a esquina da Rua dos Andradas. Os proprietários diziam que precisavam organizar a entrada devido ao excesso de clientes, que chegavam a 1.400 pagantes por noite. Embora a capacidade do local não passasse de 691 presentes, havia em torno de 1.000 a 1.500 pessoas na noite do incêndio, segundo informações da polícia.

O vocalista da banda, Marcelo de Jesus dos Santos, tentou usar o extintor de incêndio para apagar as chamas, mas o aparelho falhou. O sanfoneiro Danilo Jaques foi o único integrante da banda a morrer na tragédia.

As vítimas

O incêndio teve ao todo 242 vítimas fatais e mais de 600 feridos. Dessas, 235 morreram no dia do incêndio, a maioria asfixiada pela fumaça que tomou conta do ambiente interno, e sete nos meses seguintes, após atendimento hospitalar. Diversas vítimas fatais, dentre elas oito militares, participaram do resgate de vítimas inconscientes da boate. Bombeiros relataram que, enquanto retiravam os corpos, ouviram os celulares das vítimas tocarem “ininterruptamente”, significando que seus parentes e amigos tentavam se comunicar.

Devido à grande quantidade de vítimas, os bombeiros tiveram que recorrer a caminhões frigoríficos para transportarem os corpos até o Centro Desportivo Municipal Miguel Sevi Viero, onde profissionais de diversas áreas se reuniram como voluntários para prestarem assistência às autoridades e aos parentes das vítimas.

O cianeto, apontado por um laudo técnico como a causa da morte dos estudantes, é uma substância encontrada na natureza e também é um produto da atividade humana. O material altamente tóxico estava presente na espuma do teto da boate e foi aspirado pelos jovens que não conseguiram achar a saída do local durante o caos.

Repercussão

O caso da Boate Kiss foi uma grande sequência de erros e omissões dos poderes públicos. Em 5 de fevereiro do mesmo ano, o Ministério da Saúde criou uma rede de serviços de assistência às vítimas do incêndio que recebessem alta hospitalar, com o objetivo de continuar a assisti-las do ponto de vista médico e psicológico. O Núcleo de Atenção Psicossocial contava com 164 profissionais divididos em equipes de médicos, enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas etc. Segundo o secretário estadual da saúde, Ciro Simoni, 81 pacientes permaneciam hospitalizados, sendo 23 com ventilação mecânica.

O caso ganhou repercussão mundial: veículos internacionais destacaram notas em suas manchetes principais. A rede de televisão CNN relatou o incidente tanto na televisão como na Internet e afirmou que o mundo não aprendeu com os erros do passado. O jornal argentino Clarín comparou o incidente à tragédia com características semelhantes ocorrida em Buenos Aires, em 2004, quando uma discoteca pegou fogo, matando 194 pessoas e deixando centenas de feridos. O espanhol El País identificou a tragédia como uma das piores do Brasil.

Os parentes das vítimas fundaram uma associação em 9 de fevereiro, com o auxílio da Defensoria Pública, para garantir apoio psicológico e jurídico às famílias.

Julgamento em andamento

Após serem pronunciados pelo juiz Ulysses Fonseca Louzada, e mantida a decisão pelo Superior Tribunal de Justiça, os dois sócios da Boate Kiss, o vocalista da banda Gurizada Fandangueira e o ajudante da banda foram submetidos ao julgamento do Tribunal do Júri pela acusação de homicídio doloso por dolo eventual. Visando um julgamento mais imparcial e distante da cidade do incêndio, foi deferido o desaforamento do julgamento, enviando o processo para a capital do estado, Porto Alegre. Os quatro acusados foram condenados pelo júri popular, e sentenciados a penas de até 22 anos e seis meses de reclusão.

O Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul julgou recursos das defesas, que alegaram a existência de diversas nulidades processuais. O julgamento ocorreu no dia 3 de agosto de 2022 e resultou na anulação das condenações e de todo o processo do júri, desde a fase de seleção dos jurados até a sentença. A anulação ocorreu por maioria de dois votos a um, e teve fundamento principalmente no método de seleção dos jurados, que não seguiu o regimento do Código de Processo Penal. Todos os réus foram soltos no mesmo dia da anulação do júri.

Atualmente, o processo está na Secretaria da 1ª Câmara Criminal para diligências. Depois da conclusão dessa etapa, o caso será encaminhado para a 2ª Vice-presidência do TJ analisar se admite os recursos especial e extraordinário movidos pela acusação e pelas defesas.

Em 2023, mesmo depois de 10 anos do acidente da Boate Kiss, o incêndio ainda não foi solucionado.

Todo Dia a Mesma Noite

Com direção geral de Julia Rezende, direção de Carol Minêm e roteiro de Gustavo Lipsztein, a trama é baseada no livro Todo Dia a Mesma Noite: A História não Contada da Boate Kiss (2018), da premiada jornalista e escritora Daniela Arbex. Em 5 episódios, a minissérie ficcional revela os bastidores desta que foi uma das maiores tragédias do país – da investigação policial acerca das circunstâncias que levaram ao incêndio até o início da incansável luta por justiça travada pelas famílias das vítimas, que segue até hoje, 10 anos mais tarde. 

No elenco de Todo Dia a Mesma Noite estão artistas consagrados como Debora Lamm, Thelmo Fernandes, Paulo Gorgulho, Bianca Byington, Leonardo Medeiros, Raquel Karro e Bel Kowarick – que interpretam personagens cujas vidas foram destroçadas pela perda dos filhos -, além de Erom Cordeiro e Laila Zaid, que dão vida aos policiais responsáveis por investigar o caso, e Flávio Bauraqui como o advogado das famílias. Paola Antonini, Nicolas Vargas, Manu Morelli, Luan Vieira, Miguel Roncato e Sandro Aliprandini interpretam jovens vítimas da tragédia.

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