Crítica | I Wanna Dance with Somebody – A voz mais poderosa de todas em um roteiro calado

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Como representar em imagens a voz e a singularidade da maior cantora de todos os tempos? Como trazer para as telas a personificação do poder que foi Whitney Houston? Bom, essas perguntas definitivamente não são respondidas facilmente pelo roteiro feijão com arroz de I Wanna Dance with Somebody – A História de Whitney Houston. Como experiência, a homenagem até emociona; mas como filme, segue a mesmíssima estrutura de todas as demais cinebiografias de artistas da música, sem tirar nem pôr. É Hollywood – mais uma vez – entregando o básico de algo que poderia ser extraordinário.

É fato de que as cinebiografias do mundo da música estão entre os subgêneros mais obsoletos e previsíveis. Parece que os cineastas escolhem sempre pelo caminho mais fácil, mais zona de conforto, ao invés de elevar a história para além de seu limite convencional. Depois de Bohemian Rhapsody, Rocketman e mais recentemente Elvis, a sensação que fica é de que o roteiro desse estilo de filme é mecânico, pré-fabricado, presumível e que, obviamente, se preocupa demais com a memória dos falecidos.

A trama e o elenco

Apesar das convenções clássicas do gênero, Houston – que dispensa apresentações – foi um ícone sem precedentes e isso por si só já vale nossa atenção. Vista como a voz mais poderosa de sua geração, a artista possui uma coleção invejável de recordes que se perpetuam para muito além de sua morte em fevereiro de 2012. Mesmo merecendo um filme tão ousado quanto ela foi em vida, há bons momentos em I Wanna Dance with Somebody em que sua força e carisma são destacados, ainda que o roteiro preencha um por um o checklist de sempre: juventude sonhadora, problemas familiares, pressão da fama, vício em drogas e morte trágica.

Tudo começa na Nova Jersey dos anos 80, pouco antes de uma Houston de 20 anos ser descoberta por executivos de gravadoras em uma apresentação local. As cenas iniciais do filme estão entre as mais fortes e íntimas, entre a apresentação dos pais de Houston, a durona cantora gospel Cissy (Tamara Tunie) e o empresário John (Clarke Peters), bem como seu primeiro encontro com a sua futura paixão Robyn (Nafessa Williams), com quem Houston teria um relacionamento que acabaria se transformando em amizade por conta da pressão da mídia em cima da comunidade LGBTQIA+ na época.

Diferente do apressado Elvis, este filme segue um ritmo desequilibrado, lento e por vezes repetitivo demais, porém, Naomi Ackie brilha fortemente e deve levar um Oscar para casa, sem dúvida. Mesmo que esteja dublando as canções impossíveis de serem replicadas de Houston, a atriz entrega uma performance absolutamente fascinante do começo ao fim. Ela resgata a humanidade, o senso de humor e o carisma da cantora sem muito esforço. E como já citado, além das atuações, este é mais um drama que já vem com o selo “Para sua consideração: Melhor Filme” estampado em cada cena musical, chega a ser cômico o desespero.

Faltam conflitos reais na trama, ainda que as questões sobre a cantora ser bissexual ou não ser “preta o suficiente” sejam levantadas, tudo é leviano e sem grande impacto emocional. Antes que percebamos, quaisquer brigas ou atritos sobre esses problemas, especialmente entre o casal, já estão no passado, tendo sido resolvidas fora da tela durante alguma passagem corrida de tempo. Durante mais de 2 horas, o objetivo central do roteiro não é mergulhar em quem foi Whitney Houston, mas sim em mostrar todos os principais pontos de sua vida profissional e suas apresentações mais icônicas. Um tributo apreciativo, mas raso.

A direção

Mesmo imersa em talento, a diretora Kasi Lemmons (Harriet – O Caminho para a Liberdade) parece com medo (de sujar as mãos?) de sair da superfície. Ela faz o essencial, sabe bem o peso do enquadramento em algumas canções específicas e dirige a protagonista com primor, mas deixa muito a desejar na imersão e até mesmo nas cenas mais dramáticas. No fim das contas, o filme avança de cena em cena com pouca ressonância entre os eventos.

Ainda assim, há uma quebra de expectativa quando vemos que o agente da cantora -vivido pelo ótimo Stanley Tucci – é, na verdade, seu verdadeiro confidente e a clássica figura vilanesca fica mesmo para seu pai rígido e machista. O desfecho, por sua vez, opta por não mostrar o fim prematuro da estrela e encerra como uma performance musical que evidencia como ela esteve em contato com os deuses durante toda sua breve e avassaladora vida.

Veredito

Como de costume nas cinebiografias da música, o ser humano por trás da arte não vale mais do que seus grandes feitos artísticos. E com I Wanna Dance with Somebody isso não é diferente. Ainda que repleto de deslumbre pela voz mais absurda da história, falta alma, drama e ousadia no roteiro feijão com arroz, que replica a fórmula básica do subgênero sem pretensão de inovar.

De qualquer forma, o poder das canções está presente em momentos que é fácil se arrepiar, fora que Naomi Ackie foi a escolha perfeita para viver Whitney Houston. Ela possui a presença radiante e sedutora condizente com o ícone que a estrela foi. No fim, Whitney só queria alguém que a amasse de verdade para dançar com ela, talvez tenha levado a vida toda sem encontrar essa pessoa especial, mas certamente ela dança com todos nós, para todo o sempre.

NOTA: 6/10

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