Crítica | A Luz do Demônio – Um inferno de filme

Sabe aquele filme genérico de exorcismo que parece todo ano ter um? Pois então, o grande problema e a perdição de A Luz do Demônio (Prey for the Devil) está exatamente em não trazer absolutamente nada de novo ao gênero. Uma obra 100% derivada de tantas outras e infinitamente inferior a grande parte delas.

Um espectador que já viu filmes como O Exorcista, Exorcismo Sagrado, Exorcistas do Vaticano entre muitos outros, já consegue prever cada movimento desta nova produção que chega ao Brasil pela Paris Filmes. Então, será mesmo que vale seu ingresso?

Aparentemente, tudo que é bom nesse subgênero já foi feito, mas sabemos que o horror é conhecido por seus “derivados”. Nenhuma ideia original permanece original nessa indústria por muito tempo. 

Filmes de terror tendem a se moverem em tendências e modismos, e a tendência de exorcismo/possessão talvez seja a que mais se tornou datada com o passar dos anos, através das incansáveis tentativas de inovar sem sucesso. Para nosso desprazer, nada muda, e o único demônio aqui parece ser o da preguiça dos roteiristas.

A trama e o elenco

A trama feijão com arroz básica segue a sem sal Anne (Jacqueline Byers), uma freira com um passado conturbado que sonha em se tornar uma exorcista após ter encontros com o Diabo em sua infância. O capiroto, por sua vez, a marcou como a escolhida por razões pouco claras, o que significa que todos com quem ela passa o tempo têm uma grande probabilidade de serem possuídos. Infelizmente para ela, a Igreja Católica não permite que mulheres aprendam os ritos e enfrentem demônios cara a cara, algo que faz a jovem ser a primeira mulher a peitar as regras.

A Luz do Demônio até tenta abordar o fato de que a possessão demoníaca é quase sempre a explicação de uma pessoa supersticiosa para uma profunda doença mental ou física e os horrores das práticas anteriores da Igreja Católica. Porém, diferente do ótimo O Exorcismo de Emily Rose, o roteiro não consegue se aprofundar nessa questão e deixa tudo vago, raso e artificial. Além disso, há sim uma leviana crítica ao machismo dentro da religião como um todo, uma pena que o tema se perde em meio a tantas decisões precárias e personagens desimportantes.

Deixando de lado o significado mais profundo do texto, A Luz do Demônio é uma vitrine de grandes sucessos para cada tropo de terror exagerado que já existiu. Demônios assustadores, espelhos assombrados, sussurros sobre a trilha sonora, imagens cristãs reaproveitadas, horror corporal fraco e todos os sustos que uma pessoa poderia tolerar. Há, no máximo, um ou dois bons sustos que não são totalmente roubados de um filme melhor.

O elenco, por sua vez, é útil, embora em grande parte não digno de prestígio. Jacqueline Byers é convidada a carregar muito do filme apenas com suas reações, e ela está à altura da proposta. Colin Salmon (Resident Evil: O Hóspede Maldito) faz um trabalho decente com o papel de professor severo e sábio, já Christian Navarro (13 Reasons Why), só dá as caras para pagar seus boletos.

A direção

Seguindo o péssimo aproveitamento de suas boas intenções, o uso do simbolismo é tratado sem a menor graça ou intencionalmente realizado como propaganda mal planejada. Por sua vez, o diretor Daniel Stamm mergulha no exagero visual e abusa do horripilante CGI que o baixo orçamento proporciona para fazer cenas grotescas e nada sutis de sustos. Stamm já fez uma versão mais inteligente e melhor deste filme há doze anos com O Último Exorcismo.

O enredo não foge do passado conturbado do gênero e nem apresenta uma nova visão das questões modernas ao lidar com possessões. Chega, inclusive, perigosamente perto de retratar pessoas com doenças mentais como heróis por se matarem para salvar outras pessoas.

Para piorar a situação já bizarra, demonstra ainda menos tato em uma subtrama sobre uma vítima de estupro que se sente tão envergonhada por abortar o feto resultante que ela voluntariamente “permite” que o diabo entre em seu corpo (é sério!). Se esse conceito repugnante não foi intencional, representa uma imensa preguiça criativa de um roteirista equivocado em seus valores conservadores.

Conclusão

Sabemos que é difícil encontrar originalidade em um subgênero tão saturado, mas A Luz do Demônio testa toda nossa inteligência com sua falta de coesão e engenhosidade. Com sustos tediosos e uma trama incorporada da preguiça, o filme nos faz querer torcer para as forças do mal em meio a tantos personagens rasos e equivocados. A história é inútil, os sustos não funcionam, a apresentação é uma bagunça e a mensagem é confusa e criticável.

Longe de ser o pior desse subgênero (que já foi ao fundo do poço), infelizmente, com a somatória de suas promessas não cumpridas, desperdiça uma boa premissa em troca de sustos baratos. A obra serve apenas para preencher a lacuna daquele filme de possessão genérico e esquecível que todo ano vemos pelo menos um nos cinemas. E sem nada de novo a acrescentar, nos resta apenas rezar para a experiência infernal acabar logo.

NOTA: 2/10

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