Crítica | 365 Dias Finais – Nunca um final foi tão desejado

Às vezes, ser crítico de cinema significa assistir a erotismo polonês softcore às 8 da manhã. E após dois filmes incontestavelmente ruins, a Netflix nos presenteia com o desfecho doloroso da franquia 365 Dias em 365 Dias Finais. Mas não importa o que seja dito aqui, esses filmes são essencialmente à prova de críticas. Porém, após horas imerso nesse mundo superficial e misógino, uma luz brota em nossa mente e entendemos a razão para tanto sucesso, mesmo sem nada a oferecer: voyeurismo escapista sem envolvimento emocional.

Quer dizer, é fácil descartar tudo o que tem a ver com 365 Dias. Em um nível moral – são filmes sobre ideias profundamente insalubres de sexo e relacionamentos tóxicos – e em nível técnico, são atrocidades de roteiro e direção, mas será mesmo que o público se importa com isso? Bom, sinceramente não. E está tudo bem. Nem sempre cinema precisa ser sobre experiências inesquecíveis, na verdade, a grande maioria do tempo é mesmo sobre comer pipoca e esquecer que tem boletos para pagar. Ou mesmo para apreciar a transa alheia.

A trama e o elenco

Não é de hoje que a franquia traz uma visão irreal da sexualidade e sua trama vazia serve mesmo para atender àquelas ideias que são aceitáveis ​​o suficiente para você assistir, mas desonestas o suficiente para que dificilmente sejam viáveis ​​em sua vida real. No início, lá em 2019, parecia ser puramente estético – Laura se liberta das amarras da sociedade e experimenta uma relação muito mais caótica, intensa e prazerosa do que o comum. O sexo em seu significado mais carnal. Porém, conforme a história evolui no segundo filme, é perceptível que se trata de um conto sobre poder, autoritarismo, seja masculino ou feminino. Uma carta de amor à dominação humana. E agora, no desfecho, Laura não apenas é bem alimentada, como prova dois pratos diferentes e igualmente perigosos, algo que coloca ainda mais lenha na fantasia do casal.

No entanto, 365 Dias Finais precisa se comportar como um filme tradicional e resolver as pontas soltas dos outros e ainda dar um fim ao seus personagens mas, para isso, carece de enredo. Na realidade, há menos neste do que nos outros. Se é que isso é possível. Depois de se recuperar de seu tiro no final do filme anterior, Laura (Anna Maria Sieklucka) ficou com presunçoso e marrento Massimo (Michele Morrone), mas não consegue parar de ter sonhos sexuais com Nacho (Simone Susinna), e não demora muito para entrarmos no triângulo amoroso com Laura compreensivelmente incapaz de decidir entre seus dois homens. Dentro disso, há muito diálogo artificial, atuações engessadas e talvez ainda mais montagens de sexo do que nunca – uma grande conquista.

Apesar do resultado fraco, parecia que o segundo filme estava encaminhando a história para algum lugar, construindo algo maior e mais interessante do que o que vemos neste final, que desperdiça praticamente todas as possibilidades (que já não eram muitas!) e varre seu enredo pra debaixo do tapete em prol de focar no romance – se é que podemos chamar isso de “romance”. Com a evolução da trama, até mesmo as cenas de sexo começam a ser enjoativas. Anna Maria Sieklucka está anos luz de conseguir sustentar algum carisma e os homens são puramente artifícios visuais nas mãos da dupla de diretores Barbara Białowąs e Tomasz Mandes. No fim, o final em aberto acaba por flertar ainda mais com a possibilidade de novos filmes, fator este que tira todo o peso desse capítulo e o transforma no possível pior dos três.

Conclusão

Dessa forma, para a alegria dos assinantes da Netflix sedentos por sexo no streaming, o casal de apologistas de abuso favorito de todos está de volta em sua última “história de amor”. Ou seria, no pior dos três filmes da franquia? Um fato é certo: 365 Dias Finais é tão ruim quanto se poderia esperar.

Agora, se busca envolvimento emocional, narrativa intrigante e reviravoltas divertidas na conclusão, sinto informar que veio ao encontro errado. Aqui nenhuma boa trama evolui e o espectador fica eternamente preso nas preliminares. O único prazer verdadeiro é saber que esse pode ser o último capítulo de uma franquia que expõe o que há de pior no cinema. E certamente o motivo pelo qual a plataforma de streaming ter caído no desprestígio absoluto. Infelizmente, vai levar muito mais do 365 dias para apagar da memória as porcarias que assistimos nos últimos quatro anos.

NOTA: 1/10

Leia também: Com quem Laura escolhe ficar? Entenda o final de 365 Dias Finais


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