Crítica | Lightyear – Pixar mira no infinito, mas não vai muito além

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Com a justificativa de ser o filme favorito do menino Andy – que o fez ter um brinquedo do Buzz – Lightyear existe dentro do universo de Toy Story como uma produção em live-action e se vende como um “blockbuster de ação espacial”. Mas será que foi mesmo uma boa ideia trazer essa premissa tão incomplexa para os cinemas?

A nova aposta da Pixar – famosa por acertar até mesmo quando erra – segue por duas vertentes e deve dividir o público: ao mesmo tempo que proporciona uma aventura familiar aos moldes de Star Wars e Tropas Estelares, também entrega a obra com menos identidade do estúdio e, sem dúvida, a que mais encaixa na falta de criatividade que assola Hollywood atualmente. O que parecia difícil de acontecer, de fato, aconteceu: a Pixar vendeu sua alma em prol de entretenimento barato.

A trama e o elenco

E sabemos que quando a Pixar faz uma história mais “cabeça” – como Soul – todos dizem que o estúdio esqueceu como fazer um filme para crianças. E quando faz um filme infantil em toda sua essência, parece perder o significado. É complexo e esse desequilíbrio não é de hoje. Parte disso vem do padrão de qualidade que estabeleceu na indústria nos quase 30 anos de existência. De fato, ninguém aceita ver a Pixar errar a sintonia e Lightyear, assim como Toy Story 4, soa insignificante diante de tantas outras animações inesquecíveis.

Na trama, Buzz é um piloto audacioso (no melhor estilo Top Gun) e sem paciência para quem está começando, porém, sua arrogância o leva a cometer um erro e prender toda sua tripulação em um planeta hostil nos confins da galáxia. Para reverter essa decisão falha, o nosso herói decide completar uma missão complexa, que pode resultar em uma fuga do local. No entanto, o tempo no espaço passa diferente do tempo no planeta e cada hora que passa tentando salvar seus amigos, equivale há anos para eles. Com isso, Buzz vê todos que ama envelhecer, enquanto a pressão para completar a missão espacial só aumenta. Dessa premissa comovente e que mescla diversos elementos de ficção científica – como viagem no tempo – nasce uma história feita às pressas, com um tom episódico que funcionaria infinitamente melhor caso fosse uma série para o Disney+.

Mas Lightyear não parece se importar com seu ritmo corrido, já que tenta desenvolver uma narrativa no estilo das aventuras de Toy Story – com pequenas missões no meio de objetivos maiores – e, de fato, o conteúdo é divertido e bem realizado. O roteiro é amarradinho e até possui reviravoltas instigantes, especialmente sobre a origem do temido Zurg, vilão apresentado em outros filmes e que possui um plot twist meio Dark bem interessante, mas que deve dividir a opinião de alguns fãs.

Já na dublagem, tanto a original quanto a brasileira, Chris Evans e Marcos Mion estão ótimos. Até há uma estranheza inicial com a voz de Mion, mas logo isso se dissipa e o apresentador entrega o que sabe fazer de melhor: entreter. Dos problemas, o menor. Fora isso, os personagens são cômicos, ainda que boa parte deles – incluindo o hilário gato Sox (Peter Sohn), que rouba a cena – soa como um elemento fácil de roteiro, colocado apenas para preencher o já estabelecido check list de tudo que um filme da Pixar precisa ter. Ou seja, tá faltando fofura? Coloca um gato com personalidade que isso resolve. É bem preguiçoso.

Mas há também a presença de um casal LGBTQIA+ destemido, uma verdadeira alegria e avanço de ser assistido dentro de uma animação tão grande. Muito além de apenas um selinho, há falas sobre o casal, cenas de casamento, gravidez e até um filho que nasce fruto desse amor. Apesar de estar fazendo o mínimo, é para se aplaudir de pé e celebrar a decisão corajosa. E o melhor: Buzz age com naturalidade sobre a situação, assim como deve ser. Sem dúvida, o ponto mais longe que um filme da Disney/Pixar foi com representatividade. Uma excelente, doce e sutil oportunidade dos pais apresentar diversidade aos filhos pequenos.

A direção

O cineasta Angus MacLane, já acostumado ao mundo da franquia, mostra que conhece bem esses personagens que tanto amamos e recria um Buzz com a mesma personalidade convencida (porém leal e corajosa) da do brinquedo do Andy, apesar de serem personagens diferentes. As sequências de ação são agitadas e estimulantes, porém, a direção se embebeda de tanto que bebe da fonte de Star Wars. Não há personalidade nas escolhas visuais e tão pouco na ação, ainda que seja um filme sustentado apenas pela aventura e não tanto pelo seu teor emocional, algo que faz parte de essência da Pixar. Pode até haver lágrimas nos adultos, mas a profundidade nos inúmeros personagens é tão rasa que só deve mesmo fisgar os mais sensíveis.

A parte técnica, por sua vez, é brilhantemente realizada (como sempre). A animação tem boa fluidez e o 3D está ainda mais realista, especialmente por se tratar de um filme mais “humano”, adulto e com cenas grandiosas de ação no espaço. É mesmo como um blockbuster oitentista, desde sua fotografia quente e marcante, até a trilha sonora épica de Michael Giacchino. Como um produto audiovisual, parabéns, é realmente poderoso e exibe o avanço tecnológico do estúdio. O nível de grandiosidade que alcança é algo louvável, mesmo com um roteiro tão simplista. Para completar, a ambientação pós-apocalíptica lembra outras obras do estúdio, especialmente o inesquecível WALL·E.

Buzz é carisma puro, o herói clássico. Sua jornada neste filme deixa mais perguntas do que respostas sobre o ícone da Pixar. Como Lightyear é um filme dentro do universo de Toy Story, tudo que vemos soa como “atores” em ação e não personagens genuínos, ou seja, isso por si só já diminui o peso e a essência da franquia, funcionando bem mais como um pequeno complemento (por vezes até desnecessário) ao mundo dos brinquedos, do que algo que faça alguma diferença para o futuro da saga.

E não tem nada mais frágil e comercial do que isso, dois adjetivos que não combinam com a Pixar. Mesmo assim, há mensagens sobre amizade, amor e redenção pessoal que aquece o coração e nos faz lembrar de quando o estúdio estava empenhado em deixar sua marca no mundo.

Conclusão

Mais comercial e automática do que nunca, a Pixar vende de vez sua alma ao entretenimento barato e entrega um Lightyear genérico em sua forma e grandioso na aventura infantil. A tal origem do ícone do estúdio funciona como um complemento ao imaginário do personagem, mas falha em acrescentar relevância à franquia. Uma pura e genuína ficção científica para crianças. Nada além disso. E para alguns, isso já basta.

Ainda assim, mesmo que falte personalidade no roteiro, a jornada é animada, divertida e com sequências dignas de qualquer filme de Star Wars. O que falta de emoção sobra de ação desenfreada. Como filme para os cinemas, possui falhas e problemas de ritmo, mas Lightyear poderia render uma série sensacional para o streaming.

Com exceção da representatividade LGBTQIA+, pouca coisa faz essa obra ecoar no infinito espaço das animações do estúdio. Ao mirar mais além, a Pixar acaba por voltar atrás da qualidade emocional que aquece nossos corações. Mas está tudo bem, os pequenos vão se entreter e, assim como Andy, também desejar ter um Buzz Lightyear para chamar de seu.

NOTA: 7/10

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