Crítica | Stranger Things: 4ª temporada (Parte 1) – Maior, mais sangrenta e mais TENEBROSA do que nunca

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Está aberta a temporada de terror em Stranger Things. Nada mais sensato do que agora, perto do eventual final, resgatar a essência do início, uma vez que o grande fenômeno da Netflix nasceu da celebração à nostalgia dos clássicos de terror e ficção científica dos anos 80. Quase 7 anos em exibição e com três temporadas de histórias malucas, divertidas e assustadoras, agora a 4ª e penúltima leva de novos capítulos nos leva de volta à origem dos maiores mistérios, dentre eles, como nasceu o tal Mundo Invertido e qual o real passado da nossa sofrida Eleven.

E quando os Irmãos Duffer olham para onde tudo começou, mais intrigantes e sinistros ficam os episódios. Mas a jornada é extensa. São sete capítulos de mais de 1 hora de duração na Parte 1 e mais dois ainda mais longos na Parte 2, que estreia somente em julho. Esta análise será com base apenas no desenvolvimento da trama da primeira parte e nos seus desdobramentos.

Senta e pega um café

Para começo de conversa, o maior medo de todos os fãs de Stranger Things não é o Mundo Invertido, mas sim se teria história concreta para cobrir uma duração tão longa e a resposta é positiva. Ainda que sim, obviamente há momentos em que uma enxugada nos diálogos teria sido bom. Há muitos personagens – novos e antigos – divididos em núcleos inéditos e com missões secundárias que preenchem as lacunas do enredo central da temporada. Certamente, nunca houve tantas subtramas como agora e isso, por si só, já deixa cada capítulo recheado das novas aventuras do grupo, mesmo que nem todas elas sejam, de fato, necessárias.

Ainda assim, é coisa demais acontecendo o tempo todo. Um prato cheio para a dislexia. Mas a narrativa, felizmente, é amarradinha e fácil de ser compreendida. Essa infinidade de coadjuvantes e missões secundárias torna o desenrolar mais agitado e, por consequência, mais animado. Quando um grupo ou dupla começa a perder o foco, a montagem pula para outro e assim por diante. Isso ajuda, inclusive, na construção de suspense, fator primordial para fazer com que os mistérios sejam intrigantes, em especial, o grande mistério de todos: a razão do vilão existir.

É visível que a aposta é altíssima e errar outra vez não é uma opção em Stranger Things. Dá para notar que mais dinheiro foi investido, tanto nos efeitos especiais impecáveis quanto nas sequências de ação – que envolve até mesmo uma queda de avião na Rússia e momentos horripilantes no Mundo Invertido – ou seja, os problemas do passado foram corrigidos, mesmo que decisões ruins dos anos anteriores ainda respingam nessa espécie de repaginada da série.

Um novo começo para o fim

Uma vez que a 3ª temporada finalizou diversos ciclos e encaminhou outros para uma sensação de encerramento anticlimático, o maior desafio do Ano 4 de Stranger Things seria resgatar toda a história e colocá-la em novos trilhos. Por conta disso, é como se uma nova série começasse, quase um spin-off mais adulto da anterior. E isso é ótimo. Esse novo arco dramático parece abranger as duas últimas temporadas e tem como fator-chave retornar às pontas soltas deixadas pelo caminho, ao mesmo tempo que usa esses detalhes para construir o final grandioso que está por vir. Eleven (Millie Bobby Brown) mudou de cidade e, mais uma vez, tenta construir uma vida para si, porém, não é fácil se ajustar em um mundo que nunca pertenceu.

A menina sofre bullying pesado dos outros adolescentes e não pode se defender pois está sem seus poderes. O arco dela nessa temporada é bastante emocional e talvez tenha o maior desenvolvimento de todos até então. El precisa se conectar com seu passado sangrento (acredite, é bem bizarro e triste) para poder defender seus amigos num terrível futuro próximo. Para isso, somos levados de volta ao Laboratório da 1ª temporada através de flashbacks reveladores e um passeio tenso pelas memórias da protagonista, com direito a retornos inesperados de personagens e respostas aguardadas por anos por fãs sobre os experimentos em Hawkins e as demais cobaias.

E Millie Bobby Brown mais uma vez brilha. Agora ainda mais que antes. A atriz, já adolescente, dá a sua personagem uma carga dramática intensa e transborda agonia e angústia por ser tão atormentada por ter sido parte de um experimento que nunca a deixou em paz. Dessa vez, vemos não apenas ela como também todos do elenco mais velhos – apesar de ter se passado apenas 1 ano desde os eventos da temporada anterior. Essa evolução gradual e puberdade natural do elenco permite que novos temas, bem mais “adultos”, possam ser abordados, como por exemplo maconha e outras drogas, sexo e descoberta da sexualidade.

As crianças cresceram em Stranger Things

Assim como em Harry Potter, as crianças de Stranger Things cresceram e a trama precisa acompanhar a maturidade dos personagens, dando mais liberdade ao lado rebelde, dark e amargo de cada um. Como eles, cresce também a sensação de perigo e a gravidade do mal que retorna à Hawkins. Há litros de sangue, sequências de terror e bastante violência gráfica – com mortes surpreendentemente bem chocantes – para construir a vilania da nova grande ameaça: uma entidade sobrenatural chamada Vecna (homenagem a um personagem fictício que aparece no RPG de Dungeons & Dragons). Certamente o maior e melhor vilão da série até agora.

A criatura tenebrosa habita o Mundo Invertido, mas começa a interferir na dimensão normal, sendo a mente por trás de uma série de assassinatos de adolescentes em Hawkins. Cada morte o alimenta e, ao longo dos capítulos, se torna mais e mais forte e perigoso. Além disso, sua origem parece guardar o grande mistério da criação da dimensão sombria e sua importância vai muito além de ser apenas o monstro para se derrotar. O Ser ameaçador é uma união perfeita entre Voldemort e Freddy Krueger.

Somos fãs e queremos service

Como de costume, cada temporada de Stranger Things tem como base uma gama de filmes clássicos que fornecem excelentes elementos para deixar a narrativa mais divertida e, por consequência, mais dentro da época abordada. Dessa vez, é possível notar elementos de Poltergeist, Halloween, A Hora do Pesadelo, Silêncio dos Inocentes e até mesmo Invocação do Mal. O horror está presente e funciona perfeitamente, seja nas sequências finalizadas com jump scare ou na forma como o Mundo Invertido “vaza” no mundo real e deixa marcas sinistras e fantasmagóricas.

Nessa vertente, o arco da Max possui bastante destaque e Sadie Sink entrega uma performance digna de final girl, bastante parecido com o papel que desempenhou na franquia Rua do Medo. Fora isso, a trilha sonora segue invicta como a melhor das produções da Netflix – agora repleta de rock n’ roll – e a direção de arte constrói uma atmosfera absurdamente envolvente e convincente do começo ao fim.

Para Rússia, com Ódio

Que Hopper (David Harbour) está vivíssimo, isso não é segredo nenhum, porém, sua trama se desdobra apenas na Rússia, uma vez que se encontra prisioneiro no lugar. Esse núcleo é mais arrastado e pouco empolgante, especialmente agora com os conflitos entre o país e a Ucrânia. Porém, há boas cenas de ação e um maior aprofundamento na persona do personagem, carregado de traumas e culpa.

Joyce (Winona Ryder) também cerca essa aventura de fuga e proporciona o alívio cômico da temporada. Talvez, nesse núcleo adulto a longa duração seja sentida, já que a jornada é estendida além de necessário para fazer render frutos. Ainda assim, é interessante ver o quão internacional Stranger Things se tornou. Hawkins por si só já não sustenta toda a história.

Falta mais ousadia

Enquanto o nível de tensão e medo se intensifica pelos cantos da cidade, menos mortes importantes são feitas. Talvez os Duffers tenham se apaixonado demais por todas essas pessoas que eles criaram em Stranger Things ou pelos atores que os interpretam, e não puderam deixar nenhum deles ir, mesmo em situações em que eles não tinham mais uma opinião sobre o personagem, como é o caso de Mike e Will, ou onde a história pode ser mais difícil sem eles, ou seja, o sacrifício de Hopper no shopping sendo real.

Sem as essenciais despedidas emocionais, a série só parece crescer e ficar cada vez maior, sem controle. E por falar em falta de controle e necessidade, a inserção do novato e alucinado Eddie (Joseph Quinn) é gradativamente arruinada pela falta de exigência de sua presença nessa história já tão inchada. A caçada dos atletas por achar que ele faz parte de uma seita satânica é, sem dúvida, o ponto mais baixo da temporada, assim como o pouco aproveitamento do carisma de Dustin (Gaten Matarazzo) e da irmã de Lucas, Erica (Priah Ferguson), que se tornou ícone na temporada passada de Stranger Things.

O que vem por aí

Dessa forma, com a promessa de ser “cinematográfica”, a Parte 1 da 4ª temporada de Stranger Things funciona praticamente como uma reinvenção da série, uma vez que corrige erros do passado, cria novos laços dramáticos e abraça – com amor – o terror genuíno, o lado “estranho” das coisas e as peculiaridades desse mundo sinistro e imprevisível que já marcou uma geração de fãs. Um delicioso e necessário retorno às origens, onde tudo começou, para fundamentar o que promete ser um desfecho monumental muito em breve. Ainda não supera o poder da temporada de estreia, mas consegue ser o capítulo mais maduro, ambicioso e visivelmente corajoso desde então.

É difícil não ficar empolgado para esse final agora que caminhos surpreendentes e animadores foram criados, porém, só nos resta torcer para que a síndrome de “quanto maior melhor” não transforme a simplicidade dessa obra com tanto coração em algo comum e mecânico. Tão comum, que deixaria de ter a estranheza que amamos. Apesar dos altos e baixos da jornada, Stranger Things está viva, medonha e ainda consegue proporcionar a melhor aventura nostálgica da Netflix.

NOTA: 8/10


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